Apresentado como amigo de Lucas Terra, a testemunha Martoni afirmou, durante depoimento no júri do caso nesta terça-feira (25), que o pastor Fernando Aparecido da Silva, acusado de participar do crime, proibiu que obreiros da Igreja Universal do Reino de Deus participassem das buscas pelo adolescente, quando ainda não havia a confirmação da morte dele. Além de Fernando da Silva, o pastor Joel Miranda também está sendo julgado.
De acordo com a testemunha da acusação, cujo sobrenome foi suprimido para preservar a integridade do mesmo, foram organizados grupos para procurar por Lucas.
“Eram mais ou menos 50, 60 pessoas só na Santa Cruz. A gente locava vans, ônibus e éramos incentivados até pelos pastores”, detalhou.
Todavia, ainda conforme depoimento, o grupo teria sido proibido pelo pastor Fernando de continuar com as buscas. O grupo seguiu fazendo as buscas escondido, mas eles foram convocados pelo pastor, que disse em reunião que era pra parar imediatamente porque era “um Luquinhas qualquer que veio do Rio de Janeiro que veio para atrapalhar a nossa obra.”
Martoni revelou ainda que Lucas Terra conhecia o pastor da época em que morava no Rio de Janeiro. O jovem teria, segundo a testemunha, teria ficado eufórico quando soube que o pastor vinha para Salvador também. O adolescente foi apresentado como “calmo, alegre e extrovertido”, ficando o dia inteiro na igreja e muito empenhado nas atividades religiosas.
Conforme relato de Martoni, no dia do crime, Lucas avisou a ele que estava indo para igreja da Pituba para encontrar com o pastor Fernando, conversar com ele e para pegar a gravata abençoada para exercer o ofício de obreiro aqui em Salvador. Porém, apesar da indicação prévia de que Lucas iria ao encontro do réu, a testemunha não fez relação inicial entre o acusado e o crime.
“Eu não tomava como ameaça naquela época”, disse ao afirmar na época que o comportamento dos pastores da Universal era ameaçador. A defesa dos acusados questionou porque ele não falou dessa ameaça durante os depoimentos da primeira etapa do processo. Ele disse que não falou, porque na época não foi questionado sobre uma possível participação do pastor Fernando no crime, que foi apenas questionado sobre Silvio Galiza - já condenado pelo crime. “Não passava pela minha cabeça a participação do pastor Fernando”, indicou.
EXPULSÃO
Martoni e outros obreiros foram expulsos da comunidade da Igreja Universal do Reino de Deus por insistirem em participar das buscas pelo ainda desaparecido Lucas Terra. A testemunha afirmou ter recebido punição por ter continuado com as buscas. Os cartazes que teria colado na rua da igreja foram arrancados e ele colocou novamente, junto com outros integrantes do grupo de buscas. Ele foi expulso do grupo de obreiros pelo pastor Beljair Santos, que disse que ele estava traindo a igreja e que outros que tivessem contato com ele teriam o mesmo destino.
“O pastor Beljair a princípio foi o que mais nos deu incentivo para fazer as buscas (...) e mais ou menos 8 dias depois ele mudou totalmente o tratamento conosco, chegando até a nos expulsar”, detalhou Martoni, que passou a frequentar a Igreja Batista após o episódio, apesar da própria mãe se manter na comunidade. “Uma igreja que ultrapasse o limite de preservação da vida, ela deixa de ser igreja. (...) Eles encobertaram um assassinato”, criticou.
No depoimento, a testemunha disse que, quando o corpo foi identificado, “a princípio a gente não acreditou no DNA”. Eles então voltaram a fazer novas buscas, pois “demorou muito pra gente aceitar”. O grupo então questionou o motivo de Silvio Galiza ter matado Lucas, já que ambos tinham uma boa relação. Segundo Martoni, após a denúncia de Silvio Galiza sobre a participação de Fernando e Joel no crime “as peças começaram a se encaixar como num quebra-cabeça”.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.