O poeta paraibano Juca Pontes morreu na noite sábado (8), em João Pessoa, Paraíba, aos 64 anos de idade.
Ele tinha quatro filhos, era natural de Campina Grande, mas há mais de três décadas estava radicado na capital paraibana. Escritor e ativista cultural respeitado no estado, ele estava com dois livros inéditos para serem publicado nos próximos meses e uma série de projetos sendo gestados.
Confira texto homenagem do professor Aderaldo Luciano:
Em dezembro de 2013, uma semana antes do Natal, sentei à mesa com Juca Pontes, numa barraca ao ar livre, em frente ao Casarão de José Rufino, na pequena cidade de Areia, na Paraíba do Norte. Era noite. E noite fria. Outros convivas estavam presentes à mesa, mas hoje só nos interessa lembrar do querido Juca. Falávamos prodigamente sobre poesia, sobre os caminhos do livro físico, sobre o cheiro dos livros novos, sobre os ácaros dos livros antigos, sobre as folhas de papel rodando veloz numa máquina de offset.
Resolvi lhe agradecer por ter sido ele quem me apresentara a poesia paraibana. Joguei sobre a mesa, quase dentro de sua bebida, minha gratidão. Lhe falei da alegria que me tomou quando, no início da década de 80, num desses festivais de arte de Areia, consegui pegar um exemplar da antologia Carro de Boi: A Nova Poesia Paraibana, da qual Juca fora o organizador. Na data de sua organização e publicação, Juca era um jovem, com não mais do que 25 anos, incompletos, talvez. Mas já lançara livro e organizara essa importante obra.
A Carro de Boi foi importantíssima para mim. Lembro-me de ficar discutindo com os colegas quem era o melhor poeta, se Saulo Mendonça ou José Leite Guerra. Figuravam na antologia dois nomes que seriam conhecidos nacionalmente: Zé Ramalho, cujo Apocalypse estava reproduzido quase na íntegra, ou mesmo na íntegra, e que viria a se transformar em sucessos musicais com os nomes de Canção Agalopada e Beira Mar, Beira Mar Capítulo II e Beira Mar Capítulo Final. E Braulio Tavares, com Caldeirão dos Mitos, gravada depois por Elba Ramalho.
Juca Pontes fez sua Páscoa individual, mas não solitária, ontem, no Sábado de Aleluia. Jovem, tão jovem, desabrochando versos em flor. Meu agradecimento continuará por todo o sempre. Naquela noite de longos diálogos, em 2013, a alma de Juca era um manto de delicadeza e sensibilidade, de gentileza e acolhimento. Quando a névoa areense desceu sobre nós, caminhávamos para o sono da madrugada dos silêncios brejeiros. No outro dia, estava na portaria do Colégio Santa Rita, me esperando, o seu Ciclo Vegetal, poemas, com uma dedicatória linda. Obrigado, Juca!
*Aderaldo Luciano-Aderaldo Luciano, nascido em Areia, na Paraíba, é poeta pautado pela estética da poesia do povo. Estudioso da poesia e da música do Brasil profundo, é mestre e doutor em Ciência da Literatura, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Autor dos livros O auto de Zé Limeira (Confraria do Vento, 2008), Apontamentos para uma história crítica do Cordel Brasileiro (Luzeiro/Adaga, 2012), Romance do Touro Contracordel (Adaga, 2017). Até junho de 2017 manteve uma coluna semanal no programa Sabadabadoo – A Gente Gosta de Sábado na Rádio Globo (Rio e São Paulo): o Cordel de Notícias. Agraciado com o Falcão de Ouro por sua contribuição à cultura no estado de Sergipe.
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