Direita ou esquerda, esquerda ou direita, oh! Dúvida terrível! Muitas vezes, irremediável e dolorosa; essa dúvida me corrói há trinta e cinco anos.
O ano era o de 1985, o mundo vivia cambueiros de dúvidas, de incertezas; no Brasil, só se falava na mudança do regime militar, que era de “direita”, repassando as rédeas do poder de volta aos civis, digamos, políticos profissionais, como sequência no seguinte ano, ocorreria a primeira eleição pós ditadura, que inclusive os deputados federais, eleitos nessa “peleja” iriam promulgar pela “enésima” vez a tão sonhada “tábua da salvação”- digo, Constituição! Por sinal a maioria dos deputados e governadores que galgaram êxito nesse pleito, eram da ala denominada “esquerda”.
Voltando os olhos para um lado do mapa do mundo, esse foi o ano da morte de Konstantin Chernenko, para os esquerdistas: Secretário geral; presidente; premier; para os direitistas, apenas ditador da então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas; a União Soviética era a personificação do termo “esquerda” para dois terços do mundo, principalmente aqueles que respiravam o capitalismo e que eram vistos como “os da direita”; perante a morte prematura de Chernenko no poder, se comparado a de Stalin, vem a temerosa dúvida, como irá enveredar o novo secretário geral, Mikhail Gorbachev? Qual será a sua política perante a guerra fria e atinente à corrida armamentista? O cômico nesse caçoar ideológico é ouvir a turma da banda “destra”, o-chamar carinhosamente de “O Mancha”, para os da banda “canhota”, o-chamam até hoje de “A Mancha”.
Desviando o olhar para o outro lado, precisamente para os EUA, por coincidência, personificação do termo “direita”, no mesmo ano de 1985, lembro o auge das negociações de armas, entre o alto escalão do presidente Ronald Regan com o Irã, religiosamente comandado na época por Khomeini, que era um “eterno” inimigo da América, desde o apoio dado a Reza Pahlevi, que era do lado contrário do Aiatolá; esse escândalo veio à tona em 1986, denominado de IRÃ-CONTRAS; em alusão ao cinematográfico desfecho que o senado americano encontrou, ‘justificando’ que o dinheiro das vendas de armas, ao inimigo persa, era para fomentar o apoio impresso ao grupo paramilitar, chamado, Os Contra Nicaraguenses, que pintavam o terror na Nicarágua, na terceira fase da Revolução Sandinista, resumindo esse balaio na América Central, era uma briga entre “direita e esquerda”, incitada pelo Tio Sam, desde a década de 1930. O Regan foi responsabilizado pelo ato, mas não teve muitas dores de cabeça com o processo, talvez por conta da sua terapia matinal... continuou montando em seus cavalos todas os dias na Casa Branca, até eleger George Bush. Para os Yankees, esse rolo fazia parte da negociação em libertar prisioneiros norte-americanos no Líbano, concluiu o congresso da América do Norte.
Voltando para as duas bandas ideológicas, sabemos qual é a dos americanos, mas tenho dúvidas sobre a dos mulçumanos; creio que as duas, pois se dizem “Os braços de Alá” nessa intifada.
Hoje sinto a sensação de que houve chuva em cima de carniça, mesmo por mais antiga que seja, ela volta a feder. O mais novo antigo modismo, já que tem sido, constantemente repetido nos últimos anos e mais do que nunca, citados nos dias de pandemia em nosso país, é a definição de “direita e esquerda”, inclusive está matando e salvando vidas, os médicos de direita receitam cloroquina, os de esquerda comprovam que não há COMPROVAÇÃO científica, alguns líderes do mundo rastejam nessa mesma envergadura; o próprio presidente dessa dividida nação, pasmem! Disse: “quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína”; deixando sabores à parte , aproveito para expressar a minha opinião; “não sou contra nem a favor, muito pelo contrário”! Tenho uma convicção em minha vida e costumo dizer aos amigos e filhos; se um dia for picado por cobra no mato, tome leite de pinhão, se tem comprovação científica ou não, não sei dizer, mas não tendo outra coisa para tomar, tomo os conselhos do meu saudoso avô.
Já que citei o presidente do nosso Brasil, lembrei de voltar ao meu torrão, à minha dúvida, quase quarentenária, e regressando ao ano de 1985, como iniciei esses citados, vou alumiar as vossas mentes e esclarecer que o meu trauma de escolha de lados, direita ou esquerda, era literal e providencial, era uma necessidade! Eu vinha em toda velocidade asinina, possivelmente exagerada, no lombo do jumento Troncho, de vovô, desembestado, em pêlo, em cabresto e sem nenhuma focinheira, creio que a mais de 44 km/h, numa vereda de bode, onde a nossa frente surgiu uma bifurcação, que seguia em duas curvas antagônicas, nos milésimos de segundos que nos afastavam desse precipício, pensei umas 227 vezes ou mais, tentei acompanhar o raciocínio lógico do jegue, mesmo sabendo que ele era cabeça dura, por quase sempre, tinha pensamentos distintos dos meus, não vou negar que sabia o risco que estava correndo, pois já tinha ocorrido casos similares; eu pensava, ele vai escolher qual lado, qual lado ele vai escolher? Nisso, cheguei à conclusão que pegaria a direita, o desgraçado pegou a esquerda, tomei uma queda, que saí ralando a titela por mais de 20 metros, num carrasco que a coisa mais macia que encontrei foi um monte de pedras de seixo, ah! Queda! Oh! Curva! Oh! Asno infeliz! O pior é que o misera não parou, eu tive que correr uns 3 km, todo arrebentado atrás dele, tentando pegá-lo e só foi possível quando o mesmo encostou no pereiro, ao lado do oitão da casa, onde ficava o bocado que ele comia o milho; chegando lá, trombei com meu irmão Tietre, que me perguntou com olhar sarcástico e irônico, quase rindo, - O que aconteceu?
Como sempre fui ligeiro nos embromashions e com o orgulho mais dolorido do que o corpo, lhe respondi! - Vinha em toda carreira e a minha japonesa caiu. (Japonesa era o apelido dado às sandálias havaianas que usávamos), ele insistiu na pergunta – E você?
Respondi na lata – Acompanhei ela...
Eu não sei o lado que vocês escolheram para seguir, mas a minha escolha me causou uma lombalgia e um ombro mais baixo que o outro, apesar que isso é compensado na “lei da compensação”, pois o outro é mais alto; até hoje, 35 anos depois, vez por outra me dói a coluna, tomei muitas quedas, era um verdadeiro embrulho de couro, mas nenhuma com tamanha brutalidade e sequelas dessa... Direita, esquerda, esquerda, direita...
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