Com o aumento do regime de chuvas no Brasil, o país deve se preparar para reagir a eventos climáticos extremos, que serão cada vez mais frequentes e podem causar danos tanto ao meio ambiente como à população em geral, apontam especialistas ouvidos pelo Metrópoles.
“Os extremos climáticos são eventos climáticos extremos que não acontecem de uma forma dita normal. Então, alguns exemplos secas prolongadas, chuva muito intensa, onda de calor extrema e situações que elas saem de uma situação normal e que vão para uma situação mais crítica”, explica Alexandre Prado, especialista em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.
O mês de fevereiro no Brasil tradicionalmente é marcado por chuvas intensas e deslizamentos de terra, que acontecem com maior frequência na região Sudeste, como em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a população em situação de vulnerabilidade reside em locais com morros e encostas.
Os temporais considerados atípicos são responsáveis pela instabilidade nos morros, as águas escoadas acabam desestabilizando o local e sendo responsáveis pelo deslizamento de terra, que podem destruir casas e interditar rodovias.
Em fevereiro deste ano, na cidade de São Sebastião, em São Paulo, as chuvas atingiram o número recorde de 627 mm em 24 horas, segundo a Defesa Civil. O nível elevado de água no município trouxe graves consequências, como o deslizamento de encostas, enchentes, destruição de milhares de casas e mais de 50 mortos, além de enormes prejuízos na infraestrutura da região.
“Bom, as mudanças climáticas é exatamente isso que a gente viu, estamos acostumados a ter 300 mm de chuva por mês e tivemos 600 mm em 24 horas”, descreve Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Chuvas intensas em todo o Brasil
Localizado em uma região do globo que não é assolada por fenômenos climáticos intensos como furacões e ciclones, além de não ter significativos abalos sísmicos, o Brasil é marcado mais por tragédias relacionadas com temporais e suas consequências, como alagamentos e deslizamentos.
Além do litoral Norte de São Paulo, a cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, sofreu com chuvas intensas e deslizamentos de terras que deixaram 233 mortos, em fevereiro de 2022. A tragédia que atingiu o município histórico deixou um rastro de destruição, com casas arrasadas e famílias desoladas.
Com um triste histórico de chuvas, 43 municípios baianos decretaram situação de emergência em decorrência das fortes tempestades. Com a destruição de rodovias e mais de 15 mil desalojados, a região passou o mês de dezembro do ano passado na tentativa de reconstruir as cidades.
Na cidade de Santa Maria de Itabira, em Minas Gerais, fortes chuvas provocaram alagamentos e desmoronamentos. Com o alto índice de água, moradores da região foram soterrados após o deslizamento de terra em fevereiro de 2021.
Com moradores em alerta, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicou que em sete dias choveu o equivalente a 77,6% do esperado para todo o mês de fevereiro de 2021, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. O regime atípico das chuvas alagou ruas e destruiu casas em toda região.
No município de Pimenta Bueno, em Rondônia, enxurradas foram responsáveis pelo desalojamento de 1.325 em março do ano passado. No mesmo mês, tempestades afetaram 12.500 pessoas em Alta Floresta D`Oeste e outras 800 na cidade de Parecis.
Não só uma tragédia ambiental, o secretário executivo do Observatório do Clima afirma que os extremos climáticos são responsáveis por desastres socioambientais. Com um alto número de vítimas afetadas pela mudança dos regimes de chuvas em diferentes estados brasileiros, o pesquisador declara que “esses eventos extremos podem acontecer a cada três meses no país. As pessoas vão perdendo casas, perdendo cidades, a palavra agora é adaptação, precisa tratar como urgência o que é urgente”.
Adaptação climática
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), conversou com a TV Vanguarda, na última quarta-feira (22/2), e disse que extremos climáticos são uma realidade e que o governo federal irá trabalhar para prevenir que desastres como o de São Sebastião não aconteçam novamente.
“O que precisamos é fazer os processos de adaptação para que a população não tenha que pagar esse preço cada vez que se instala o processo extremo”, afirmou a ministra.
“As ações do Ministério do Meio Ambiente serão de planejamento, para que a gente possa prevenir situações como essa. Vamos pensar em ações em todo tempo, não só quando houver emergência, criando sistemas de alertas efetivos, criando cultura de alerta para própria população, sistemas de fuga, processos que sejam planejados”, completou Marina Silva.
“Uma vez acontecendo uma situação extrema e tenha ocasionado o desastre você tenha preparado todas as estruturas em estado de alerta para atender a população”, declara o pesquisador da WWF sobre o planejamento proposto pela ministra.
Os ambientalistas ouvidos pelo Metrópoles destacam que os governos federal e estaduais precisam adotar medidas para adaptação climática para evitar danos socioambientais como os registrados em anos anteriores.
“Preparar as prefeituras, defesas civis, tudo que faz parte de resgate e de assistência da população que está em estado crítico. Colocação de sirenes, fazer o treinamento da população”, destaca Marcio Astrini.
Para evitar uma tragédia social, os pesquisadores defendem a construção de casas para as comunidades em situação de vulnerabilidade social afastadas das regiões de encostas e morros.
Alexandre Prado alega a necessidade dos governos adotarem medidas de prevenção para evitar tragédias como a de São Sebastião, com a construção de obras de infraestrutura que possam conter as enchentes e a locomoção da população em vulnerabilidade.
Durante a sua visita ao município de São Sebastião no domingo de Carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o governo irá reconstruir as casas atingidas pelos temporais em áreas consideradas seguras.
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