Principal craque da Seleção Brasileira e um dos astros do elenco do Paris Saint Germain (PSG), o jogador Neymar será intimado a depor, na condição de testemunha, no âmbito de uma operação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A investigação apura crimes de extorsão, agiotagem e lavagem de dinheiro e é conduzida pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF). Durante a ação, deflagrada nesta sexta-feira (27/1), três pessoas foram presas.
O esquema é supostamente capitaneado pelo empresário Eduardo Rodrigues Silva, conhecido em Brasília por ostentar uma rotina semelhante à de atletas que atuam em alguns dos maiores clubes do mundo. Ele se apresenta como “Eduardo Joias” e teria uma empresa especializada no design de peças forjadas em ouro e diamantes. O principal suspeito é considerado foragido.
Com 74,8 mil seguidores no Instagram, o empresário fez questão de publicar fotos com Neymar logo após entregar um colar de ouro branco cravejado de diamantes no qual o pingente foi desenhado no formato do nome do atacante. A peça custou, de acordo com a nota, R$ 106,4 mil.
A nota fiscal foi emitida em nome do jogador, em março de 2019, por uma das empresas investigadas por lavagem de dinheiro, sem a respectiva entrada da mercadoria ou matéria-prima para confeccioná-la. A operação é fruto de trabalho conjunto da DRF/Corpatri e da Secretaria de Fazenda do DF, e contou com a participação da Receita Federal e apoio da Marinha do Brasil.
Empresa suspeita
As apurações da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri) apontaram que a empresa Conceito Comércio de Joias Eireli, cujo nome é EJ Joias, movimenta valores que não chegam nem perto do dinheiro que cai na conta de Eduardo e de seu braço direito, Vitor Duarte Nunes, também investigado no bojo da Operação Huitaca – o nome faz alusão à deusa mitológica da luxúria.
Ainda segundo a investigação, a transação envolvendo a joia de Neymar representou mais de 81% das operações de venda da empresa. Outras 11 notas fiscais eletrônicas de joias foram emitidas para o próprio Eduardo Rodrigues, sem a respectiva entrada de mercadoria ou matéria-prima.
Também se apurou que as demais empresas que transacionaram com os investigados são de fachada e serviram apenas para a dissimulação dos valores sujos. Elas foram criadas simultaneamente, funcionaram por poucos dias, e sequer geraram notas fiscais para os investigados ou para as empresas vinculadas a eles.
“É muito grande o volume de elementos colhidos nas medidas cautelares autorizadas ao longo dos últimos meses. Também é muito expressivo o material arrecadado na manhã de hoje. As investigações seguem em força-tarefa com a Secretaria de Fazenda do DF”, disse o diretor da DRF, delegado Fernando Cocito, que conduz as investigações.
Relação com Neymar
Ambos se seguirem nas redes sociais e existe uma relação pessoal entre Eduardo e o craque Neymar. Além da corrente de ouro e diamantes, o empresário entregou ao jogador uma placa dourada acompanhada de um anel exclusivo forjado em ouro e pedras preciosas.
No Instagram, há fotos nas quais Eduardo faz questão de mostrar a entrega das joias. Uma das imagens, publicadas pelo empresário em 8 de fevereiro de 2017, mostra Neymar com uma corrente de diamantes. A imagem possui a seguinte legenda: “A busca de um sonho é a loucura mais exata de realizar. Quando se trabalha duro em busca do que sonha, se conquista! Ter fé, pois fácil não é nem vai ser”.
Em outras duas fotos do empresário, publicadas em 22 de março de 2018, em São Paulo, o suspeito mostra a entrega de um anel de ouro a Neymar, com a seguinte legenda: “Mais uma joia feita com muito carinho para o gênio da bola, Neymar. Obrigado pela atenção e confiança no trabalho!”, diz o empresário.
Aniversário em Paris
Os investigadores ainda localizaram fotos publicadas por Eduardo que confirmam a presença do suspeito no aniversário de Neymar, em Paris, no dia 4 de fevereiro de 2019. Na ocasião, as despesas dos convidados brasileiros para participar do evento foram custeadas por patrocinadores do jogador.
De acordo com as investigações, o empresário viajou a Paris em 4 de fevereiro de 2019 e retornou no dia 8 do mesmo mês. As apurações da PCDF também mapearam o fato de não ser a primeira vez que Neymar adquire ou recebe joias de pessoas envolvidas com lavagem de capitais.
Investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro mostrou, em maio de 2017, que o jogador adquiriu, em 2015, uma corrente de diamantes de Tiego Raimundo dos Santos Silva, vulgo TH, envolvido com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. O criminoso foi preso, acusado de ser um dos principais articuladores do tráfico de drogas e de armas do Rio, com atuação nas três facções criminosas do estado. Além disso, ajudava a lavar dinheiro do tráfico de drogas.
Empresário condenado
O mesmo empresário que aparece em fotos com grandes estrelas do futebol internacional já foi condenado, em 2017, a cinco anos e quatro meses de reclusão, em regime inicialmente semiaberto, pelo crime de extorsão. Eduardo e um comparsa emprestaram R$ 160 mil para um homem, cujo débito principal deveria ser quitado em fevereiro de 2015, além do pagamento de sete parcelas de R$ 9 mil a título de juros.
Após o pagamento de algumas parcelas dos juros convencionados, não efetuou o pagamento das demais prestações dessa natureza, nem do débito principal, quando passou a sofrer cobranças. A vítima entrou em depressão e, em outubro de 2015, cometeu suicídio. Eduardo e o comparsa, então, passaram a cobrar a dívida de parentes do homem valores abusivos, entre o mínimo de R$ 440 mil até a quantia de R$ 900 mil.
Na última ocasião, os agiotas constrangeram as vítimas, mediante graves ameaças, ao pagamento de quantia em dinheiro indevida, e cuja quitação não era de responsabilidade delas. Ambos acabaram julgados e condenados.
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