Ambientalistas encaminharam na quinta (26) uma carta aberta pedindo o cancelamento de um possível financiamento do BNDES à construção do gasoduto Nestor Kirchner, na Argentina.
O documento foi endereçado ao presidente interino do BNDES, Alexandre Corrêa Abreu, e aos ministros Mauro Vieira, das Relações Exteriores; Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima; e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas.
O Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (PROAM), de quem partiu a iniciativa, abrirá subscrições de apoio ao documento até a próxima terça (31).
De acordo com reportagem de Gabriel Tussini, publicada no site O Eco Jornalismo Ambiental, o gasoduto, foco de conflito com indígenas mapuche no país vizinho, deverá transportar gás de xisto, extraído por um processo de fraturamento hidráulico de rochas chamado “fracking”, que tem alto impacto ambiental e foi banido em diversos países. Em dezembro, a secretária de Energia argentina, Flavia Royón, afirmou que o banco de desenvolvimento brasileiro deverá financiar até US$ 689 milhões da obra, o equivalente a quase R$ 3,5 bilhões.
No documento encaminhado, os especialistas lembram que o gás natural, como combustível fóssil, apresenta alto potencial de aquecimento climático. O método de extração tem riscos elevados e impactos ambientais negativos e pode, além disso, afetar a estabilidade geológica local, que registra aumento de abalos sísmicos.
Em recente visita do presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina, em 22 e 23 de janeiro, foi mencionado o interesse do País em liberar recursos a empresas nacionais de bens e serviços destinados a obras ligando o campo de gás natural de Vaca Muerta, um dos maiores do mundo, até a divisa com o Rio Grande do Sul.
“Diante de tais fatos, inadmissível que o Brasil venha a financiar, por meio do BNDES, essa prática reconhecidamente geradora de impactos ambientais, em áreas onde existe cenário conflitante com reivindicações de povos originário”, afirma o documento, assinado por dezenas de entidades ambientalistas, além de especialistas no setor.
Para Luiz Marques, professor do Departamento de História do IFCH – Unicamp, e membro do Observatório da Governança Ambiental do Brasil (OGAm), devido aos “escapes inevitáveis, o gás metano obtido por fracking (como é o gás da extração do campo de Muerta) causa um aquecimento maior até mesmo que o carvão e que o petróleo, além de produzir impactos ambientais imensos. Por essas razões, o fracking tem sido proibido em diversos países”.
Luciana Vanni Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e membro de painéis internacionais para monitorar GEE da Organização Mundial de Meteorologia (WMO), propõe a procura por alternativas. “Por que financiar um gasoduto para aumentar o consumo de combustíveis fósseis no Brasil? Vamos financiar geração de energia limpa”, defende.
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