Artigo - Em busca de um grande amor

26 de Jan / 2023 às 23h00 | Espaço do Leitor

Há quem diga que namoro, noivado e casamento saíram de moda. Outros defendem que para completude do ciclo de um relacionamento amoroso vale a pena a investidura em cada etapa. Noivos, padrinhos, daminhas, brindes, presentes, ternos e vestidos estão contidos nos itens mais visualizados em cerimoniais grã-finos distribuídos pelo mundo. Entretanto, a união harmoniosa no dia a dia dos casais está em crise, porque o grande número de separações deixa nítido a ausência de amor e grandes desafios a serem enfrentados. 

Para os gregos da Antiguidade o termo 'amor' era definido por mais de uma palavra: Philia, Ágape e Eros. Philia além de carregar o significado de 'amizade' envolve a lealdade e a família. Ágape representa o amor por todos os seres. Eros (amor romântico) compreende o cupido da mitologia grega que através de suas flechas despertava atração física entre os seres humanos.

O amor romântico demanda de profunda renúncia para o vencimento dos desafios do matrimônio. Essas pelejas exigem a presença do amor nas principais necessidades psicológicas do homem que são (cumplicidade, elogio e relação sexual) e da mulher (cuidado amoroso, ser ouvida e ser abraçada). Quando necessitamos de algo não sobrevivemos sem ele. Já quando precisamos de alguma coisa conseguimos viver sem ela.

No namoro é tudo lindo, apaixonante, esplêndido, fantástico e incrível. Nessa fase arrebatadora é natural a atuação de diversas ‘personas’. Carl Jung considera "persona a personalidade que o indivíduo apresenta aos outros, mas que geralmente esconde os verdadeiros pensamentos e sentimentos". Não é difícil perceber que os enamorados vão se revelando paulatinamente um ao outro e que com o passar dos dias uma maior compreensão vem à tona. Porém, é impossível conhecer plenamente as personalidades de uma pessoa. Por meio de uma grande nuvem de testemunhas os diálogos são registrados:

- Opa, boa tarde, camarada Joelzinho! Como vai a vida meu jovem? E o coração firme e forte?

- Está tudo excelente, Atanajudetina! Logo agora que estou namorando a Astrozilda posso dizer para o mundo inteiro ouvir: “estou entorpecido de tanto amor por ela. Não encontro outra ‘como ela’. Essa mulher é tudo para mim! É uma deusa do Panteão!”

- Hum...rsrsrs...Outra com ‘moela’ só conheço as galinhas!

- Meu amor Zito! Esse teu olhar deslumbrante me encanta! Fico muito contente quando te ouço falar na Rádio Juazeiro! Amo andar de braços dados com você na praça do Castelo Branco. Amo mais ainda quando você me chama de bebezinha, tchuquinha, chuchuzinha, lindinha, vida, nêga e momozinho!

- Ternura incandescente, amada da minh’alma, Tânia meu grande amor! Que glória me entretecer nos seus braços querida Tânia! Não me vejo enamorar-me outra criatura tão doce e bela! Por isso, vou declarar um poema de Luís de Camões para você:

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói, e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer


É um não querer mais que bem querer
É um andar solitário entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É um cuidar que se ganha em se perder


É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata, lealdade

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

- Por gentileza, o que aconteceu com você love Mentalana? 

- Levei uma topada meu amor Unhalando!


- Oh luz resplandecente da minha vida vou dar beijinhos no seu pezinho e vai sarar, tudinho, viu? 


- Unhalando, com uma noite tão linda dessa, cadê as estrelas do céu meu amor?

- Mentalana as estrelas ficaram envergonhadas perante a sua beleza e resolveram fugir!


Ao falar sobre namoro vale à pena saber que a expressão espanhola 'estar en amor' deu origem ao termo namoro (ação de manter um relacionamento amoroso estável e apaixonante). Pensando nisso, Sanford externou que "apaixonar-se é uma experiência natural e bela, e uma vida que jamais conheceu tal experiência sem dúvida alguma fica empobrecida". É por essa causa que Fonseca e Duarte exprimiram que o matrimônio ainda está ligado intimamente ao conceito de felicidade, romanesco e alianças indissolúveis.

Uma relação afetiva entre duas pessoas que compartilham conhecimentos e novas experiências com comprometimento inferior à do casamento é conhecida como namoro. Se compararmos como era a vida dos namorados, nos dias de nossos avós, vamos perceber enormes diferenças. Antigamente, a forma de galantear exigia criatividade e coragem. 

Para o camarada chegar até aquela moça, filha do ‘coroné’, tinha que ser um 'cabra macho'. Nesse tempo, pedras eram jogadas na janela da moça, pelo cavalheiro, como forma de declaração de amor. Expressão como 'vou furar teu olho' era pronunciada pelos enamorados através da fenda da parede da casa da dama sem nenhum beijo executado. Com o avanço das tecnologias as formas de namoro também ficaram modernas e as pessoas passaram a se relacionar virtualmente seguindo para o noivado que vem do latim 'novus -novo, nova' inerente a uma pessoa jovem em idade para casar.

A palavra casamento vem do latim - casamentum - com significado de "terreno com uma habitação instalada” e é derivada de casa. No patriarcado os pais eram responsáveis por casar os seus filhos e cediam parte da propriedade para assistência da nova família fazendo jus ao provérbio "quem casa, quer casa". É através dessa frase que muitos casais, apaixonadamente, são estimulados a planejar, antecipadamente, a conquista de um lar e constituição de uma família baseada no amor, harmonia, verdade e justiça. Bachand & Caron aprofundando nesse assunto apontaram que o cuidado amoroso em um casamento pode ser intenso por longa duração promovendo engajamento e mútuo interesse sexual. 

Não é todo mundo que se dá bem com o casamento e por isso Machado de Assis escreveu que "o casamento é a pior ou a melhor coisa do mundo; pura questão de temperamento" e Sócrates ensinando aos seus discípulos, serenamente, disse: "meu conselho é que se case. Se você arrumar uma boa esposa, será feliz; se arrumar uma esposa ruim, se tornará um filósofo". Para Augusto Branco "o casamento é como um pacto de duas almas e de dois corações que se unem no propósito de caminharem, de vencerem, e de serem imensamente felizes – juntos”.

Nessa aliança firmada o provérbio chinês entra em ação dizendo que "o amor é cego, porém o casamento lhe devolve a visão". O camarada que comia pouco, ou quase nada, agora come numa bacia, a camarada não soltava um pum, se quer, agora tem uma explosão de pum! Sócrates, incansavelmente, chamou a atenção expressando que "o ideal no casamento é que a mulher seja cega e o homem surdo". O que é melhor para sua vida? Está certo ou ser feliz? Quer perdoar uma traição? Então perdoe! Rui Barbosa sintonizado nesse tema discursou que pessoas "casam, para se divorciar, descasam para se recasar, sem que o homem tenha o ciúme do passado, sem que a mulher lhe sinta dor e pudor".

A manutenção da boa vivência entre os casais conta com o desempenho de direitos e deveres para cada membro. Rogers não deixou escapar e disse que a "dedicação e compromisso, comunicação, dissolução dos papéis e o processo de individuação" são aspectos considerados satisfatórios para o estabelecimento do relacionamento do casal". Dare e Pincus investigaram que a seleção do cônjuge é feita com o propósito de reforçar a própria imagem buscando por pessoas similares a si na idade, na religião, no nível cultural, na etnia e nas preferências. A esse respeito, Correia diz que embora seja comum a expressão de que os opostos se atraem, um número considerável de estudos sugere que a maioria das pessoas buscam parceiros semelhantes a si próprias levando-se em conta diferentes variáveis.

Além desses parâmetros que atuam no equilíbrio da relação é imprescindível a presença recíproca de carinho, leveza e alegria. É por essa causa que Sigmund Freud relatou "como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada" e Vinícius de Moraes, brilhantemente, recitou: "amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido". 

Boa parte dos relacionamentos conjugais, na fase inicial, é tudo lindo. Ninguém come muito, ninguém tem mal hálito, ninguém tem prótese dentária, ninguém solta gases fedidos, ninguém arrota, ninguém é agressivo, não é infiel, nem preguiçoso e nem faz parte de uma sociedade secreta. 

Para alguns, nessa fase de aceitação um do outro, é natural o ocultamento do real comportamento de cada indivíduo. Com o passar dos dias é quase impossível esconder por tanto tempo as máscaras que nos envolvem e fica mais difícil a atuação dos atores no palco da existência. É a partir daí que a rotina vem mostrar a verdadeira face do parceiro e vozes vão soar inevitavelmente:

- Opa, boa tarde, camarada Joelzinho! Como vai a vida meu jovem? E o coração firme e forte?

- Está tudo péssimo, Atanajudetina! Faz um tempo de casado com a Astrozilda e posso dizer para o mundo inteiro ouvir: “estou profundamente decepcionado com ela. É uma bandida ingrata. Essa mulher não vale nada pra mim! É uma demônia dos quintos!”

- Meu amado Zito! Estou com saudades do teu olhar deslumbrante que não me olha mais! Ficava tão contente quando te ouvia falar na Rádio Juazeiro, no programa de Geraldo José! Ah, como eu amava andar de braços dados com você na praça do Castelo Branco em Juazeiro da Bahia. Amava mais ainda quando você me chamava de apelidos carinhosos!

- Oh, Tânia meu grande desgosto onde é que eu estava com a cabeça quando casei com você? Você me faliu totalmente, acabou com os meus sonhos inimiga da minh’alma! Adeus ingrata e por favor não ligue mais e nem mande mensagens! Depois dessa, nunca mais quero saber de casar, chega!   

- O que é Mentalana? 

- Levei uma topada Unhalando!

- É cega mesmo é? Olha pra cima jumenta!

- Unhalando, com uma noite tão linda dessa, cadê as estrelas do céu meu marido?

- Mentalana deixa de ser besta! Está nublado! Vai procurar o que fazer!

Embora haja uma parcela de casamentos bem-sucedidos é inegável que outra esteja insatisfeita com as relações. Além dos episódios mencionados acima existem alguns comportamentos executados, no cotidiano do casal, que podem acender o alerta do fim do relacionamento. Quando o camarada está o tempo todo reclamando de tudo em casa, reclama da comida, da bebida, reclama do corpo da mulher mais de uma vez por dia. E a mulher sempre está com dor de cabeça quando o homem está no lar, passa a sentir repugnância pelo marido, agradece quando ele está no trabalho e se entristece ao beijá-lo.

Rizzon, Mosmann e Wagner formalizam que na atualidade o comprometimento no casamento perdeu vigor com o passar das gerações. Os pesquisadores debruçaram em estudo sobre a qualidade conjugal e os elementos do amor (que é a decisão de continuar juntos com compromisso firmado) perceberam que as frases retumbantes "até que a morte nos separe (perdeu força)" e "que seja eterno enquanto dure (ganhou força).

A ocorrência de desarmonia conjugal é inerente aos principais motivos que levam um casamento a ruína. A exemplo da falta de comunicação (um diálogo aberto e sincero), finanças descontroladas, a incompatibilidade de gênios, independência total de um dos cônjuges em relação ao outro, violência, infidelidade, ausência de intimidade e falta de amor.

É complexa a reação do ser humano em meio ao caos dos conflitos emocionais, especialmente, ocasionados pela separação de um relacionamento que durou dezenas de anos. O rompimento do relacionamento de um casal é bastante complexo mesmo para quem tomou a decisão de terminar. Em uma autoanálise é inteligente levar em conta todos os motivos que levaram ao fim da relação amorosa e refletir sobre as vivências. Questões prudentes surgem à medida que a visão holística aparece:

- Qual a minha contribuição para o fim desse relacionamento? O que realmente fiz? Ou não fiz?

- Tenho mania de relacionar-me sempre com o mesmo tipo de pessoa? Como é a minha preferência amorosa? Gosto de pessoas iguais ou diferentes a mim? São pessoas que te fazem bem? Por quê?

- Será que entrar em um novo relacionamento cura a dor da saudade do ex-companheiro ou da ex-companheira? Passar noitadas em ‘raves’ é o melhor remédio para esquecer uma pessoa amada? Ou é melhor começar um novo relacionamento mesmo sem gostar? 

- Como foi o meu relacionamento anterior? Encontrei algum problema-desafio nele? Quais as causas desses desafios? Com as experiências da vida o que você poderá fazer de diferente numa relação futura? 

No desespero costuma-se procurar alívio das dores emocionais em comer compulsivamente, beber todas e superlotar o organismo com drogas. A princípio esse recurso pode funcionar como um paliativo a curto prazo, mas é uma furada seguir métodos prejudiciais a dor emocional. Manter-se ocupado, no período do fim do relacionamento, em alguma área do seu interesse, como matricular-se em um curso de inglês, espanhol, francês, italiano, violão, piano, teclado, violino, contrabaixo, guitarra, pandeiro, triângulo, acordeão ou outros da sua escolha serão bem-vindos à desenvoltura da autoestima e novas habilidades.

O final de um relacionamento amoroso, a depender da profundidade do sentimento pela outra pessoa, pode culminar em dores semelhantes às de um luto. Das diversas formas de encarar a dor da separação é sugerível sabedoria para lidar com essas emoções angustiantes. Para seguir avante é necessário utilizar-se de estratégias psicológicas como escrever sobre as suas dores em um papel, aceitar o luto e não cair na tentação de entrar num novo relacionamento antes de resolver as pendências da relação anterior.

A superação de um rompimento amoroso carece de muita paciência e respeito ao tempo cronológico da vida. Para os convictos da separação e que buscam mecanismos para vencer essa provação é aconselhável, principalmente, no início da dissolução do matrimônio, o máximo de afastamento do ex-companheiro ou da ex-companheira. Se não perceber, perspectiva alguma, é viável buscar apoio de pessoas confiáveis (familiares, amigos e profissionais de saúde mental). Moshe Ratson nos ensina que "depois de uma separação se permita sentir esse luto sem se julgar por causa disso. Aceitar os sentimentos e as situações que você está passando ajudam a se livrar mais rápido dessa dor infernal". 

Embora seja comum entrar num novo relacionamento logo após de uma separação amorosa, às vezes, não é uma boa escolha porque corre o risco de não curar os sentimentos negativos das emoções contidas na nova relação. Amorosamente é sugerível ficar um tempo solteiro para o processamento completo das emoções e, sobretudo, superação do término.

Gottman afirma que nem sempre os conflitos são destrutivos na separação de um relacionamento amoroso. Vai depender da maturidade do casal em valorizar os pontos positivos de cada indivíduo, vontade em resolver os desafios, empatia, consentimento e uma escuta ativa. Por outro lado, Greeff & Bruyne consideram os conflitos destrutivos aqueles quando são manifestados a manipulação, a violência, a vingança e a insensibilidade.

Portanto, meus amigos e minhas amigas perante as crises dos relacionamentos, vale à pena dizer que o importante é ser feliz e que na vida tem altos e baixos. Não desista do seu sonho de ter uma vida harmoniosa com o seu grande amor. Khalil Gibran relembrou que “numa só semente de trigo há mais vida do que num montão de feno”. Às vezes, nos surpreendemos com o exterior e acabamos escolhendo errado por falta de discernimento e medo de seguir em frente. Paulo Coelho foi categórico quando diz que “quantas coisas perdemos por medo de perder”. Lembre-se o que disse Charles Chaplin: "cada segundo é tempo para mudar tudo para sempre". Por isso, não é prudente desistir dos relacionamentos por causa das decepções anteriores. Levante a cabeça e sinta-se merecedor de encontrar tudo de excelente para sua vida!

Um grande amor, inclusive!

Josiel Bezerra - Professor de Biologia - Mestrando UPE (Universidade de Pernambuco) - Ciência e Tecnologia Ambiental.

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