Dia nacional da Bossa Nova é comemorado neste dia 25 de janeiro

25 de Jan / 2023 às 10h00 | Variadas

Neste dia 25 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional da Bossa Nova. A data foi sancionada pela lei nº 11.926, de 17 de abril de 2009, e foi escolhida por ser o aniversário do maestro Tom Jobim (1927-1994), um dos precursores do gênero.

O estilo musical brasileiro teve início no final da década de 1950. O marco inicial foi a música Chega de Saudade, de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1913-1980). Inicialmente, a canção foi gravada pela cantora Elizeth Cardoso (1920-1990) e, posteriormente, ficou imortalizada na voz de João Gilberto (1931-2019).

Na Bossa Nova é João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, a joia mais rara. João Gilberto nasceu em Juazeiro, cidade do interior da Bahia, no dia 10 de junho de 1931. Filho do comerciante Juveniano Domingos de Oliveira e da dona de casa Martinha do Prado Pereira de Oliveira, a popular Patu, João Gilberto viveu em sua cidade natal até 1942, aos 11 anos, quando foi morar e estudar em Aracaju (SE). Na capital sergipana, João passou a fazer parte da banda da escola.

Em 1946, de volta a Juazeiro, João Gilberto ganhou um violão do pai e começou a ouvir os mais variados tipos de música. Com a ajuda da Rádio Nacional, o jovem passou a ter contato com a suavidade do som de Dorival Caymmi, com o romantismo de Orlando Silva e com a agressividade aveludada do jazz de Chet Baker. Na mesma época entrou para o grupo Enamorados do Ritmo, e viu sua cidade natal ficar pequena.

Aos 16 anos foi morar e estudar em Salvador (BA). Chegando na capital, abandonou os estudos para se dedicar à música [quer atitude mais rock and roll do que essa?] e aos 18 anos já trabalhava com carteira assinada na Rádio Sociedade da Bahia. Na mesma época fez parte do grupo vocal Garotos da Lua e gravou discos em 78 rotações. Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, mas não conseguiu sucesso.

Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, João Gilberto compreendeu que ao cantar mais baixo e manter a batida, poderia adiantar ou atrasar o canto. E foi armado com essa inovação sonora, além de seu violão debaixo do braço, que João chegou na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Na Cidade Maravilhosa, um destemido homem de 26 anos procurou seguir a trilha de quem poderia fazer a diferença em sua carreira. Numa dessas tentativas de network, o violonista baiano caiu nas graças do produtor e também violonista Roberto Menescal, simplesmente um dos personagens mais importantes da música brasileira do século XX.

No cenário musical carioca, o violão de João Gilberto era a joia mais admirada, observada e aplaudida. Sua levada era uniforme, mas surpreendentemente deslocava os acentos fortes para lugares poucos usuais entre os violonistas. Suas opções de harmonia abriam desbravaram um admirável violão novo! Por suas vezes, as inquietas mãos fazia o instrumento de cordas virar percussão.

Ah, e havia a questão da voz! A técnica vocal de João abria mão da impostação e procurava soar da mesma maneira que soava o trompetista Chet Baker quando cantava. Volume baixo e notas de longa duração, limpas, sem vibrato. Com o violão na ponta dos dos dedos e bem resolvido com seu jeito de cantar, João Gilberto estava pronto para voar alto.

Entre os anos de 1959 e 1961, João Gilberto lançou uma trinca de álbuns que mudou o curso da música brasileira popular. Com os discos Chega de saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961), o cantor e compositor baiano influenciou tudo que veio depois.

Se acabasse terminasse nessa trilogia, a missão artística de João já estaria cumprida e com louvor. Acontece, porém, que ele criou um jeito genuinamente brasileiro de se tocar violão brasileiro e, com isso, ajudou a fundar um gênero de música que influenciou tudo que veio depois. De Roberto Carlos a Chico Buarque, passando por Djavan e colando com os Los Hermanos, todo mundo tem um flerte com a obra de João.

Canções como Desafinado sempre estará entre as mais importantes do cancioneiro da música brasileira.

No dia 21 de novembro de 1962, João Gilberto foi uma das estrelas de um concerto no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Produzido pela Audio Fidelity Records e patrocinado pelo Itamaraty, o evento foi tinha o objetivo de promover a bossa nova nos Estados Unidos. Entre os presentes estavam Tony Bennett, Peggy Lee, Miles Davis e Herbie Mann. Havia grande presença da imprensa americana, de críticos especializados do mundo inteiro e de uma rádio que transmitiu o acontecimento para Moscou. Começou ali a internacionalização da música brasileira.

Enquanto esteve na ativa, o artista seguiu lançando discos lendários. Sua discografia contempla 52 obras, assim distribuídas:

12 discos de estúdio
9 álbuns ao vivo,
7 compactos
3 EPS
21 coletâneas
Um dos registros de estúdio mais memorável é o álbum Amoroso, que foi gravado nos Estados Unidos. Lançado em 1977, o trabalho celebra a conexão harmoniosa da música do do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman.

O fato de ser reverenciado publicamente por Roberto Carlos não é a única ligação de João Gilberto com o rock. Como todo artista respeitoso, o violonista nunca limitou seu trabalho.

Pouco se comenta, por exemplo, de seu papel na carreira dos Novos Baianos, uma das bandas mais importantes do rock nacional. No ano de 1972, João atuou como mentor intelectual do disco Acabou Chorare, uma das obras canônicas da música feita na década de 1970. Com as sugestões e palpites do violonista baiano, os roqueiros encontraram a fórmula correta para cruzar Jimi Hendrix com Jackson do Pandeiro.

Em 1982 ele colaborou com Rita Lee, a eterna e única rainha do rock brasileiro. Na ocasião, João tocou violão na faixa Brazil com S, uma das músicas mais interessantes do disco Rita Lee e Roberto de Carvalho. No ano seguinte, o artista baiano foi uma das atrações do lendário Festival de Águas Claras, uma espécie de Woodstock made in Brazil.

Já em 1986, João gravou Me Chama, de Lobão, para a trilha sonora da novela Hipertensão. Lobão afirma ter recebido ligações do baiano para a aprovação da execução, além de ter de explicar o estado emocional que se encontrava quando escreveu a letra.

Nos últimos dez anos, o João Gilberto ícone da bossa nova foi aos poucos dando espaço para o seu lado mais complexo. Vivia recluso e cercado por questões complexas.

Em 2008, em ocasião dos cinquenta anos da bossa nova, João se se apresentou em São Paulo, no Rio, em Salvador e nos Estados Unidos. Seus shows tiveram a venda de ingressos esgotada em poucas horas. Do alto de seus 77 anos, o artista arrancou elogios do público e da crítica. Já em 2011, infelizmente, os problemas de saúde o impediram de celebrar suas oito décadas de vida com uma turnê.

No final de 2017, o homem que internacionalizou a música brasileira foi interditado pela justiça, a pedido de sua filha Bebel Gilberto, que justificou que seu pai não tinha condições de cuidar de sua saúde ou finanças por sua fragilidade física e mental.

De um lado, a decadência física e as questões de família devoravam cada partícula de seu ser. Na outra ponta do cabo de guerra, os problemas de dinheiro e os contratos mal feitos também cobravam a conta.No dia 6 de julho de 2019, João Gilberto partiu rumo a uma outra dimensão astral.

Terra Uol Foto Ivan Cruz Jacaré

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