Primeiro o jogador posiciona uma fileira de oito Curupiras. Logo atrás, dois Boitatás, duas Mula-sem-cabeça, dois Botos-cor-de-rosa, a Cuca e o Saci-Pererê.
A releitura do jogo de xadrez para peças do folclore brasileiro foi o tema da Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da designer Ana Beatriz Oliveira na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Nos últimos dias as fotos do projeto viralizaram nas redes sociais e as imagens tiveram quase dois milhões de visualizações.
Ana Beatriz explica que a ideia de fazer uma releitura do jogo de xadrez começou durante a pandemia, quando as aulas práticas de Desenho Industrial tiveram que ser remodeladas para o ensino à distância.
Uma professora passou um trabalho para a criação de um boneco em 3D e ela escolheu a Cuca. Para além da beleza das peças, seu projeto tem como objetivo aprimorar o ensino de folclore brasileiro nas escolas.
Para as crianças mais novas, o contato com as peças pode ajudar no desenvolvimento dos sentidos através do tato. O brincar de xadrez para os alunos velhos também pode ser uma ferramenta que estimula o cognitivo , raciocínio lógico e concentração.
No xadrez do folclore:
Os peões são o Curupira
As torres são o Boitatá
Os cavalos são a Mula-sem-cabeça
Os bispos são o Boto-cor-de-rosa
O rei é o Saci-Pererê
As peças do projeto de Ana Beatriz são feitas em resina e modeladas em impressoras 3D. Com a grande repercussão do trabalho, ela começou a receber encomendas de jogos para decoração. Sua ideia é transformar parte dos lucros em kits que serão doadas para escolas públicas. Com foco na educação, além das imagens ela desenvolveu um livreto que traz a história de cada personagem do tabuleiro. Durante sua pesquisa, apesar de 98% das pessoas entrevistadas por ela saberem identificar quem é a Cuca, somente 45% diziam lembrar a lenda do personagem.
— Tenho essa memória do folclore brasileiro desde pequena, principalmente no jardim de infância e na escola. Lembro de ver muito o Sítio do Pica Pau Amarelo. Mas o contato foi diminuindo ao passar dos anos. O folclore é um assunto que falamos muito quando pequeno e não tocando mais ao crescer. Eu queria trazer essa valorização da cultura nacional — conta a designer.
No texto do TCC, a designer explica o que levou em consideração para escolher qual personagem do folclore iria representar que figura. Para o peão, o escolhido foi o Curupira por semelhança conceitual: na lenda ele é o protetor das florestas, assim como a peça tradicional que é o soldado a frente de todas as outras. Para as torres o Boitatá foi o escolhido: a forma circular da peça se assemelha ao tronco de árvore no que o personagem vive enrolado.
Para o cavalo do xadrez, Ana Beatriz escolheu representar como a Mula-sem-cabeça. O Bispo, que em chaturanga — uma versão indiana e anterior do xadrez — era um elefante foi substituído pelo Boto-cor-de-rosa por ser momentos animal, como na versão indiana, e momento ser humano, como na versão atual do jogo.
Para a rainha, peça com maior número de movimentos no jogo, a designer escolheu a Cuca para ser representada: uma figura icônica do folclore brasileiro. Já o rei, que deve-se manter vivo para a vitória do xadrez, foi escolhido o Saci-pererê por ser o personagem que na pesquisa melhor foi o melhor reconhecido.
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