Durante a campanha eleitoral na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados, a atual ministra do Turismo, Daniela Carneiro, recebeu apoio de acusados de envolvimento com milícias do Rio de Janeiro. Dois nomes vieram a público nesta semana e o Jornal Nacional descobriu outros dois.
Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho, do União Brasil, foi a deputada federal mais votada do Rio. Recebeu 213 mil votos e muitos apoios. O Jornal Nacional identificou dois apoiadores de campanha da ministra que são réus pelo crime de constituir milícia. Um deles é Cristiano de Oliveira Gouveia, conhecido como Babu.
Em um vídeo postado em uma rede social, Babu aparece adesivado com o número de Daniela - no áudio, o jingle da candidata. Em uma foto, Babu aparece em um comício, ao lado de Daniela Carneiro e de outros candidatos, nas eleições de outubro. Em outra, está ao lado da agora ministra e do marido dela, Waguinho, prefeito de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Para o Ministério Público, Babu era o responsável por promover alianças entre a milícia e traficantes de uma facção criminosa que fornecia dinheiro e armas para o grupo na cidade de Queimados, também na Baixada. Segundo a denúncia, Babu recebia dinheiro da exploração de TV por assinatura clandestina.
A Justiça aceitou a denúncia contra Babu e o Ministério Público do Rio recorre, na segunda instância, da decisão, na primeira instância, que o livrou da condenação.
Outro réu por milícia que apoiou a campanha de Daniela Carneiro é um vereador de Belford Roxo. Eduardo Araujo, do MDB, está afastado do cargo porque foi nomeado secretário de Energia Sustentável na prefeitura comandada pelo marido de Daniela.
Ele participou de carreatas com Daniela. O Ministério Público afirma que Eduardo era responsável por evitar prisões dos outros integrantes da quadrilha.
Nesta quinta-feira (5), o jornal “O Globo” revelou que outro vereador de Belford Roxo, que também ocupa o cargo de secretário na prefeitura, é réu por extorsão e porte ilegal de arma de fogo, e apoiou a candidatura de Daniela em 2022.
Fábio Augusto de Oliveira Brasil, conhecido como Fabinho Varandão, do MDB, chegou a ser preso em 2018, acusado de comandar um grupo que ameaçava moradores e explorava serviço clandestino de internet.
O jornal “Folha de S.Paulo” apontou também ligações da ministra com parentes do ex-vereador da cidade Marcinho Bombeiro, preso acusado de integrar a milícia. A irmã e o pai de Marcinho fizeram campanha para Daniela e estavam nomeados na prefeitura de Belford Roxo.
O Ministério Público do Rio abriu outra investigação, dessa vez para apurar se a demissão em massa de funcionários na prefeitura de Belford Roxo vai paralisar serviços essenciais. O prefeito exonerou todos os ocupantes de cargos em comissão, com exceção de médicos e dentistas e de servidores de quatro secretarias estratégicas.
O número de demitidos chega a 5 mil. Parte dos ex-funcionários foi contratada no ano passado e diz que, entre suas funções, estava fazer campanha para os candidatos do prefeito, como a agora ministra Daniela Carneiro.
“A gente era obrigado a fazer a foto e postar no status”, conta um.
“A gente só podia assinar o ponto de saída depois que acabasse a reunião ou a campanha que fosse”, revela outro.
Vídeos e fotos registram agendas de campanha em vários horários. Depois da demissão, o grupo fez um protesto na porta da prefeitura.
A ministra Daniela Carneiro afirmou que não compactua com qualquer ato ilícito e que cabe à Justiça o papel de julgar e punir. Também declarou que recebeu apoio de milhares de eleitores em diversos municípios durante a campanha.
A Prefeitura de Belford Roxo declarou que não há risco de paralisação das atividades, porque não exonerou trabalhadores de serviços essenciais; que nenhum servidor era coagido a participar de comícios e reuniões de campanha, e que eles iam por livre e espontânea vontade, porque confiam no trabalho de Daniela Carneiro.
O JN não conseguiu contato com os outros citados.
Em Brasília, depois da reunião do presidente Lula com todo o ministério, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi questionado sobre a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Costa disse que o assunto não foi tratado na reunião e que, neste momento, não tem nada relevante ou substantivo que justifique qualquer preocupação no governo.
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