“A poesia está guardada nas palavras – é tudo que eu sei
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso, para mim, não é aquele que descobre ouro.
Para mim, poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.”
A casa em que morou o poeta Manoel de Barros, em Campo Grande, virou um museu. "Bem-vindos à casa do poeta das coisas desimportantes". A recepção convida para um mergulho no mundo do homem que falava das coisas simples da vida.
"Todo mundo que tem contato com a poesia dele se identifica nesse sentido, assim, de conseguir olhar para as coisas e ver algo grandioso. Não grandioso no sentido pomposo, mas saber que a vida é feita de coisas pequenas e belas”, diz a designer Paula Bueno.
O local era o refúgio de um dos mais conhecidos nomes da poesia brasileira. Manoel de Barros passou os últimos 30 anos de vida na casa, em Campo Grande, ao lado da esposa, Stella, até a morte em 2014. O lugar virou museu.
"Esse espaço está vivo porque tem a memória dele em cada canto dessa casa, mas ao mesmo tempo ele não está aqui. Então, essa presença ausente, para mim, é uma coisa muito poderosa e muito forte”, diz a fotógrafa Elis Regina Nogueira. O museu guarda relíquias: a máquina de escrever e uma caderneta com o poema nunca publicado. O cômodo se transformou em sala imersiva, assim como o quarto, com reproduções de poemas e entrevistas de Manoel, que não escondia a timidez.
"Nós temos uma biblioteca. Estamos reunindo todo trabalho escrito sobre a obra do Manoel. Temos a obra dele já, adquirida pela casa, e teses de doutorado, dissertações de mestrado, trabalhos de conclusão de curso. Aqui será um lugar onde os pesquisadores vão poder ter acesso a tudo que foi escrito sobre o poeta Manoel de Barros”, revela o idealizador da Casa Quintal Manoel de Barros, Ricardo Câmara.
Manoel de Barros tinha uma rotina rigorosa: acordava todos os dias às cinco da manhã, tomava guaraná natural e caminhava pelo bairro. Às sete, já estava no escritório, onde ficava até as onze, juntando palavras. Considerado o lugar mais especial da casa, lá foi escrita a maioria de seus poemas.
Dessa rotina, sobraram lápis apontados quase que até o fim. Os óculos, que ajudavam a enxergar aquilo que saltava da imaginação, continuam preservados.
"Poder olhar as coisas que ele gostava, os lugares e poder me inspirar com isso também. Acho que é muito inspirador estar aqui e entrar dentro do universo do Manoel”, compartilha a cineasta Brenda Arruda.
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