Um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) investigou os motivos para o insucesso das autoridades de saúde brasileiras em alcançar a meta de imunização das meninas entre 9 e 14 anos e meninos de 11 a 14 anos contra o Papilomavírus humano (HPV).
No Brasil, a vacinação contra o HPV começou em 2014, mas o patamar de 80% de cobertura, estipulado para o público, nunca foi alcançado. A aplicação do imunobiológico antes do início da atividade sexual é um dos pilares da estratégia global para eliminar o câncer de colo de útero.
O grupo de cientistas entrevistou 159.245 estudantes brasileiros de 13 a 17 anos e utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019. De acordo com os voluntários, o principal motivo para não ter se vacinado contra o HPV foi desconhecer a necessidade da vacina. “Não sabia que tinha que tomar” foi a resposta de 46,8% dos entrevistados.
Segundo a UFMG, esse é o primeiro estudo que buscou descobrir os motivos para a não vacinação contra o HPV utilizando a base de dados da PeNSE. Conforme os pesquisadores, os resultados da pesquisa poderão subsidiar políticas públicas e estratégias de saúde para o controle e a prevenção do câncer de colo de útero no país. A vacina do HPV previne, além do câncer de colo de útero, o câncer de pênis e ainda os cânceres de ânus, garganta e boca, que podem acometer pessoas de ambos os sexos.
Conforme explicou a coordenadora do estudo, professora Tércia Moreira Ribeiro da Silva, do Departamento de Enfermagem Materno-infantil e Saúde Pública, a vacina contra o HPV previne lesões nos órgãos genitais femininos, masculinos e infecções persistentes causadas pelos subtipos 6, 11, 16 e 18 do Papilomavírus humano. Os tipos 16 e 18 são considerados oncogênicos e potencialmente precursores do câncer de colo do útero. “Em 2019, foram notificados 5.880 mil novos casos dessa forma de câncer no mundo. No Brasil, nos anos de 2018 e 2019, foram detectados aproximadamente 16.370 novos casos de câncer de colo de útero, a terceira maior incidência entre os tumores malignos”.
“Distância ou dificuldade para ir até a unidade ou serviço” foi a resposta mais frequente entre os adolescentes matriculados em escolas públicas brasileiras. Entre meninos e meninas de escolas privadas, as respostas mais frequentes para a não vacinação foram “mãe, pai ou responsável não quis vacinar” e “medo de reação à vacina”.
Os pesquisadores também observaram maior prevalência de adolescentes que não foram vacinados contra o HPV nas capitais e estados das regiões Norte e Nordeste. A proporção de estudantes que não foram imunizados contra o HPV nas capitais foi maior em Rio Branco (22,1%), Natal (21,3%), Porto Alegre (20,4%) e Macapá (18,8%). As capitais dos estados das regiões Norte e Nordeste apresentaram maiores proporções da resposta “não sabia que tinha que tomar”, com destaque para Teresina (54,7%), Maceió (54,6%) e Boa Vista (51%).
Por sua vez, Florianópolis (30,9%) Porto Alegre (33,6%) e Vitória (36,6%), capitais do Sul e do Sudeste, registraram as menores prevalências de adolescentes que não sabiam que tinham que tomar a vacina. Dos estados da Região Sudeste, Minas Gerais apresentou a maior proporção (47,1%) da resposta “não sabia que tinha que tomar a vacina contra o HPV”.
O estudo concluiu, entre outros pontos, que o fortalecimento das políticas públicas e das estratégias de saúde, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do país, é essencial para melhorar os indicadores de vacinação contra o HPV no público adolescente. Sobre a importância da divulgação de informações sobre o HPV para aumentar a adesão do público adolescente à vacinação, segundo a professora Tércia, há evidências de que muitos profissionais de saúde não discutem nem recomendam a vacinação contra o HPV, ou adotam estratégias inadequadas de comunicação, o que compromete a aceitação da vacina pelos adolescentes.
A coordenadora da investigação destaca o papel central do enfermeiro como educador em saúde, estabelecendo um canal de comunicação para a divulgação de informações sobre a vacinação contra o HPV. "Ressalta-se, ainda, a importância desses estudos para sensibilizar os responsáveis pelos adolescentes acerca dos comportamentos e atitudes que configuram fatores de risco para as infecções sexualmente transmissíveis”, enfatiza Tércia Ribeiro.
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