Um dos primeiros desafios de Nísia Trindade Lima quando assumir o cargo de ministra da saúde do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do fortalecimento do Programa Nacional de Imunização (PNI).
Na gestão de Jair Bolsonaro (PL), o programa, criado há 50 anos e considerado um marco histórico na saúde pública brasileira — por ter sistematizado as ações de vacinação em todo o território nacional — sofreu reveses, sobretudo com a força que ganhou o discurso antivacina. Uma das missões da ministra, logo em janeiro, será anunciar metas para o programa — que hoje está com todos os índices abaixo de 70% — retomar o fôlego.
Desde 2018, nenhuma das 15 vacinas que fazem parte da caderneta infantil do PNI atingiu a meta de imunização, de acordo com Francieli Fontana, coordenadora-geral do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. Este ano, a poucos dias para encerrar a campanha contra a Poliomielite e Multivacinação para Atualização da Caderneta de Vacinação da Criança e do Adolescente menor de 15 anos de idade, o ministério decidiu prorrogar o prazo até o final do mês de setembro. A decisão foi tomada pois faltava muito para atingir os 95% de imunizados, conforme estabelecido pela pasta.
Em dois de setembro, a cobertura vacinal para poliomielite alcançava irrisórios 32,5%. Após o encerramento, as taxas para o insumo que afasta a paralisia infantil foi de 57,05% para a vacina aplicada nos primeiros meses de vida; 52,19% para a dose que deve ser tomada com 15 meses; e 53,27% para a dose administrada aos 4 anos de idade.
Há cinco anos, o PNI atingiu 99,72% de cobertura para a vacina BCG, que combate a tuberculose, e 91,33% para o imunizante contra o rotavírus humano, que evita infecções responsáveis por diarreias graves em bebês. Em 2020 a curva decresceu de forma alarmante. A taxa de imunização para o BCG, a primeira a ser tomada no início da vida, chegou a 63,88%. Já a vacina contra o rotavírus, despencou para 68,46%. Hoje a porcentagem é de 67% e 57,23%, respectivamente.
"Tem uma frase que é internacional e que a gente aqui no Brasil fala: vacinas causam adultos. Esse é um dos principais fatores que possibilitaram o aumento da nossa expectativa de vida em 30 anos. A gente conseguiu aumentar de 40 para 70, 80 anos com a vacinação. Vacinando as crianças damos a elas a chance de viver, de se tornarem adultos", afirmou a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
DOENÇAS ERRADICADAS: Um dos prejuízos da baixa cobertura vacinal é o risco da volta de doenças já erradicadas no país. Os índices são baixos até mesmo em gestantes que devem obter a DTP e a DTPa gestante, que devem ser administradas com um intervalo de quatro semanas para combater o vírus causador da difteria, tétano e coqueluche. Neste ano, a soma das duas chegou a pouco mais de 52% (DTPa gestante foi de 36,03% e DTP Acelular do Tipo Adulto para gestantes foi 15,36%).
"Corremos o risco, obviamente, da reintrodução de doenças que já foram eliminadas, aumento de casos de doenças já controladas, como sarampo, poliomielite, coqueluche e difteria", alertou Renato Kfouri, pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
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