Indicado pela futura ministra da Cultura, Margareth Menezes, para comandar a Fundação Palmares a partir de janeiro de 2023, o baiano João Jorge é produtor cultural, dirigente carnavalesco, militante do movimento negro, advogado e mestre em direito público.
Em 1979, João Jorge Rodrigues fundou, ao lado de outros homens e mulheres, o bloco Olodum que desfilaria pela primeira vez no carnaval de 1980, em Salvador, e desde então faz história na Bahia e se tornou uma das principais instituições culturais do estado. Membro da diretoria desde o primeiros anos, João Jorge preside o bloco atualmente.
Ele também foi diretor da Fundação Gregório de Matos, órgão de gestão cultural da Prefeitura de Salvador, entre 1986 e 1998. Já entre 2009 e 2016, João integrou o conselho da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Ele tem mestrado em direito público pela Universidade de Brasília.
Filiado ao PSB e ligado à ex-prefeita de Salvador e deputada federal Lidice da Mata, João Jorge viu seu nome ser cotado em diversas oportunidades para concorrer a cargos eletivos em Salvador e no estado, mas ficou pelo caminho em todas as ocasiões.
À frente do Olodum, João Jorge é um dos responsáveis por fazer da instituição muito além de um bloco afro. Ainda nos anos 80, o Olodum criou o Projeto Rufar dos Tambores, que logo se tornou a Escola Olodum, atraindo ainda mais a juventude do Pelourinho e Centro Histórico.
A ideia inicial era tirar crianças das ruas. Atualmente, eles têm 360 alunos e oferecem ações educacionais com base na história da população negra, que são agregadas ao ensino convencional. Além disso, o Grupo Cultural Olodum ainda conta com Bando de Teatro Olodum, que revelou artistas como Lázaro Ramos, Érico Brás e Jorge Washington.
Com a saída de João Jorge para a Fundação Palmares, a diretoria deve se reunir para decidir como ocorrerá a transmissão do cargo do grupo. A discussão será feita internamente nos proximos 90 dias, quando o nome do novo presidente deve ser anunciado.
Após o anúncio feito por Margareth Menezes, João Jorge conversou com o g1 e falou sobre a indicação. "A Fundação tem demandas diferentes das que tinha do passado. Hoje temos tecnologia, juventude, e vamos avançar. Vou tentar levar a experiência desses 43 anos do Olodum para que a fundação se modernize", disse.
"A minha ideia é ouvir todos. A Bahia tem muitos bons exemplos na área, mas vamos ouvir todos, do Acre ao Rio Grande do Sul. A Fundação é uma organização do povo brasileiro. E ela vai entender o Brasil com uma civilização, onde todos convivemos harmonicamente", completou.
O presidente do Olodum também falou sobre o significado religioso de sua indicação. A Fundação Palmares tem como símbolo o machado de Xangô, orixá ligado à Justiça, nas religiões de matrizes africanas.
"Essa escolha é de uma sintonia muito grande. Sou filho de Xangô com Oxóssi e Ogum. Então, um filho de Xangô volta a Palmares, e volta para ajudar o Brasil a conduzir as políticas do nosso povo", disse.
João dedicou à indicação à três mulheres negras baianas que morreram recentemente, Valdina Pinto, a Makota Valdina, que morre em 2019; Mãe Stella de Oxóssi, que morreu em 2018, e Alaíde do Feijao, que morreu em 2022. Ele ainda afirmou que a futura ministra Margareth Menezes reúne o legado das três.
"Eu aproveito essa indicação para ressaltar o nome de três mulheres negras importantes nessa trajetória do povo negro: Valdina Pinto, Mãe Stella de Oxóssi e Alaíde do Feijao. São mulheres que morreram recentemente, mas só estamos aqui hoje por causa delas. E Margareth é o acumulo de tudo isso, junto com Olodum, Ilê Aiyê, Filhos de Ghandy, todos os blocos afros e afoxés. E tudo isso é fruto dessas três deusas rainhas importantissimas para nossa história", disse.
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