No mês da Consciência Negra, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras apresentou em uma convenção da ONU, em Genebra, um mapeamento do racismo religioso no Brasil.
“Eu nem sei porque isso aqui incomoda, isso aqui para nós nem é enfeite, é proteção, mas incomoda ao racista religioso”, diz Mãe Nilse de Iansã, coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro- Brasileiras.
Para quem sofre o preconceito, ele traz muito mais do que um incômodo. Uma pesquisa, coordenada pela Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, ouviu representantes de 255 terreiros de todo o país. Quase a metade registrou até cinco ataques nos últimos dois anos.
Os ataques de intolerância religiosa também acontecem fora dos terreiros, quando uma pessoa é identificada como adepta de alguma religião de matriz africana na rua, na escola, no comércio, numa repartição pública ou até quando vai pedir ajuda numa delegacia para denunciar este tipo de preconceito.
Setenta e oito por cento dos entrevistados relataram que indivíduos de suas comunidades já sofreram algum tipo de violência motivada por racismo religioso.
Mãe Nilse está na Suíça, onde apresenta estes resultados na reunião da convenção internacional da ONU para a eliminação de todas as formas de discriminação racial.
O Disque 100, serviço que recebe estas queixas, registrou este ano três denúncias de intolerância religiosa por dia.
O respeito que falta aos agressores, Mãe Nilse aprendeu e ensinou em casa.
“Eu sou uma mulher nascida e criada há 71 anos dentro de um terreiro. Eu tenho uma filha pastora evangélica, e a gente se respeita”, conta.
Ela também levou para ONU propostas para acabar com a impunidade.
“Imagina você comprar o terreiro, construir, pagar pedreiro, comprar suas coisas, para vir um desinformado e fazer isso? Tem que haver reparação, tem que pagar, tudo o que foi destruído”, afirma.
“Não existe qualquer argumento ou fundamento para você tratar diferente uma igreja na zona sul do Rio de Janeiro ou um terreiro que é apedrejado e incendiado na Baixada Fluminense como vinha acontecendo, como vem acontecendo. Se essa mesma queixa chega ao poder público, ele tem a obrigação de agir, apurar, identificar os seus autores, coibir essa prática e punir quem os praticou”, diz o procurador regional dos Direitos do Cidadão/RJ Jaime Mitropoulos.
“Quem conhece esta dor, somos nós que somos de terreiro, então nós temos que falar sobre ela em qualquer espaço que nos chamam”, ressalta Mãe Nilse de Iansã.
© Copyright RedeGN. 2009 - 2024. Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do autor.