Em comemoração aos 110 anos do Rei do baião Luiz Gonzaga, A cidade de Exu, Pernambuco, sua terra-natal, realizará a 3ª Caminhada das Sanfonas.
O evento tem o objetivo de manter viva a memória de Gonzagão e o instrumento que o imortalizou. Este o ano o homenageado em memória é o artesão Luizinho dos Couros.
O jornalista Leonardo Saraiva, neto do saudoso Luizinho dos Couros, relata que "em um domingo de 1954, Luiz Gonzaga, que estava de passagem, viu o vaqueiro Chico Ventura pelas ruas de Exu e notou admirado um gibão elegante de detalhes floridos, mesmo sem conhecer o homem o chamou “Ei Vaqueiro, venha cá. Quem foi que fez esse gibão seu?”, “Foi um primo meu” respondeu Chico, Gonzaga perguntou onde quem fez morava e logo pediu também para que ele levasse um fardo de couro que já tinha comprado e foi se apresentando: “Aqui é Luiz Gonzaga, Rei do Baião"!
"Chico cumpriu o pedido e entregou o fardo de couro para Luizinho, seu primo, vaqueiro e artesão de couro que aprendera o ofício com seu pai desde de muito novo. Chico lhe contou a história toda, Luizinho ficou surpreso e aflito com tamanho pedido e dias depois de Luizinho matutar sobre como faria. Gonzaga voltou a Exu e ambos trataram de tirar as suas medidas e confeccionar aquele que seria o primeiro terno de couro do rei do baião, e como todo rei, tem a sua coroa, colocado no grande chapéu de couro, um pedido de Luiz Gonzaga, que junto do gibão de vaqueiro vestia Luiz Gonzaga como rei e Luizinho então passou a ser conhecido como Seu Luizinho dos Couros", conta Leornado.
Por isso, a criadora do Projeto Caminhada das Sanfonas, a produtora cultural Marlla Teixeira propõe mais uma vez aos sanfoneiros a oportunidade de mostrar o trabalho deles e, consequentemente, prestar diversas homenagens ao ‘Mestre Lua’ (como Gonzagão também era carinhosamente conhecido).
De acordo com Marlla Teixeira, esta terceira edição mais uma vez destaca o setor cultural e de economia criativa de Exu. “A Caminhada das Sanfonas foi criada no ano de 2019, com o objetivo de valorizar os sanfoneiros das regiões sertanejas, promovendo a cultura Gonzagueana e suas vertentes“, conta Marlla, ressaltando que é um evento gratuito.
A primeira edição reuniu mais de 100 sanfoneiros, de todos os gêneros e faixas etárias, com a participação do Projeto Asa Branca – Escola de Sanfona de Exu. “Na programação de 2019, contamos com a apresentações do Grupo da Associação de Mulheres As Karolinas, desfile de Vaqueiros encourados e um lanche com comidas típicas para os participantes. Este ano 110 anos a expectativa é de mais um grande caminhada pelas ruas de Exu“, diz Marlla.
A Caminhada das Sanfonas faz parte do primeiro evento-modelo de Feira de Economia Criativa, com exposição de artesanato, declamação de poesia, dança, apresentação cultural e artes de profissionais de Exu, com foco no trabalho manual feito nas associações, e que tenham como fonte de renda primária.
O empresário Italo Lino que todos os anos não perde uma festa de aniversário de Luiz Gonzaga define que Exu é uma riqueza, um dos maiores patrimônios culturais do Brasil que tem na sanfona infinitas formas de criações artísticas.
“A sanfona é um dos instrumentos mais populares do Brasil. Essa Caminhada da Sanfona, este encontro é importante porque possibilita aos cidadãos um tipo de entretenimento que, ao mesmo tempo, promove e valoriza nossa cultura gonzagueana e a homenagem a seu Luizinho dos Couros mostra o quanto a economia da região possui uma marca forte“, finalizou Italo.
HISTÓRICO: o mestre Luizinho dos Couros. Nascido no dia 08 de outubro de 1928, tinha o nome de bastimo Luiz Antonio Sobrinho. No ano de 1954 confeccionou os primeiros gibões e chapeus de couro para Luiz Gonzaga, naquele período conhecido com o título de Rei do Baião e uma das principais atrações da Rádio Nacional.
Capistrano de Abreu, célebre historiador cearense, denominou a formação cultural sertaneja, fruto da miscigenação das raças branca, indígena e negra, como civilização do couro.
Seu Luizinho dos Couros é citado na tese de mestrado da doutora Gláucia Maria Costa Trinchão, Universidade Estadual de Feira de Santana. Conforme teve a informação com Seu Luizinho dos Couros, do Sítio Batentes, Exu –PE, o primeiro “alfaiate de couro” do Rei do Baião, a encomenda surgiu com um detalhe importante: desenhar uma coroa no chapéu e fazer um terno de vaqueiro completo, um encouramento investido. Seu Luizinho conta com riqueza de detalhes.
Seu Luizinho relatou que desenhou a coroa estrelada de oito pontas no chapéu de Luiz Gonzaga decalcando a ilustração de uma lata de óleo, a Óleo do Reino, para o rei e agregou duas miniaturas de punhais.
No livro Glaucia articula as relações entre os Desenhos de Couro, sua relevância histórica e sua importância na constituição do discurso regionalista sobre o nordestino, através do redesenho de seus usos feito por Luiz Gonzaga do Nascimento, o “Lua”, Rei do Baião. A releitura ou redesenho da imagem do nordestino a partir da aparência de Luiz Gonzaga nasce das circunstâncias de perpetuação dos desenhos de couro, familiares, na virada do século XX - quando Luiz Gonzaga convivia com mestres de couro e vaqueiros.
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