O poeta e compositor juazeirense, Luiz Galvão, faleceu na noite de ontem, sábado (22) no Incor, em São Paulo, onde estava internado desde 18 de setembro, após breve passagem pela Santa Casa de Misericórdia paulista, com suspeita de hemorragia gastrointestinal.
O músico e poeta Luiz Galvão, fundador do grupo Novos Baianos, tinha 87 anos e a morte foi confirmada pela esposa do artista, Janete. Informações colhidas juntos amigos do cantor revelam que ele será cremado em São Paulo e suas cinzas virão para Juazeiro, em data ainda não definida.
Durante o período de internação, a família de Luiz Galvão afirmou que ele chegou a passar uma noite no corredor de um pronto-socorro, o que mobilizou artistas e amigos a movimentos de solidariedade buscando recursos para o atendimento do artista, que passava por dificuldades financeiras.
Em Juazeiro, na Bahia, o cantor e compositor Maurício Dias promoveu, com outros parceiros, um show que arrecadou fundos para o tratamento do conterrâneo.
Em postagem nesta manhã, Maurício Dias, escreveu: “Tenho doloroso dever de informar ao povo de Juazeiro , baiano, brasileiro, do mundo inteiro que, o poeta, compositor, escritor; criador do lendário grupo "Os Novos Baianos " se foi aos 87 anos. Estava internado em uma "UTI" do "Incor" em São Paulo . Adeus meu amigo, irmão, parceiro, um dos meus pais espirituais...dê em abraço em João Gilberto. Estava internado em uma "UTI" do "Incor" em São Paulo . Adeus meu amigo, irmão, parceiro, um dos meus pais espirituais...dê em abraço em João Gilberto”, escreveu.
Luiz Galvão enfrentava problemas de saúde a um tempo, havia sofrido um ataque cardiovascular, era diabético e já não andava.
O G1, em matéria especial destacou hoje a vida de Luiz Galvão:
“Luiz Dias Galvão nasceu em Juazeiro, no norte da Bahia, em 22 de julho de 1937. Bom de letras, e bom de bola, Galvão jogou futebol profissional em Juazeiro e chegou a ser campeão baiano de futebol de salão.
Seguiu os estudos, ainda no norte da Bahia, onde se formou e trabalhou por seis anos com agronomia, até deixar a atividade de lado e decidir viver de sua arte. Anos antes, ainda adolescente em Juazeiro, Luiz Galvão conheceu João Gilberto. A amizade mudaria para sempre a história da música brasileira.
Galvão costuma contar que conheceu João em uma visita feita pelo pai da bossa nova a Juazeiro, que também era sua cidade natal. O poeta já era amigo de Buliu, um dos irmãos de João.
“Dona Patu, mãe, gostava muito de mim. Ela foi uma das pessoas mais legais de que conheci. Eu ia passando assim na casa de Dona Patu e João Gilberto estava no quarto, por ele estava passando uns dias de Juazeiro. Aí ele me chamou, venha cá, ficamos conversando e começou a amizade aí", contou Galvão em 2015, em entrevista a um programa da Universidade Federal do Vale do São Francisco.
Anos depois, uma nova amizade culminaria em um dos maiores grupos da história da música popular brasileira, os Novos Baianos. Galvão se reuniu, em Salvador, com outros dois jovens saídos de cidades do interior da Bahia. De Santa Inês, no sul da Bahia, vinha Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira, o Paulinho Boca de Cantor, e de Ituaçu, no sudoeste do estado, vinha Antônio Carlos Moraes Pires, o Moraes Moreira.
Em 1968, eles criaram o espetáculo que deu origem aos Novos Baianos, Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal.
O trio ainda ganharia os reforços Baby do Brasil e Pepeu Gomes. Além de Jorge Gomes, Dadi, Charles Negrita, Baixinho, Bola Morais e Gato Félix. Pela lei natural dos encontros, os Novos Baianos pediam passagem para fazer história.
Em 1970, o grupo lançou seu disco de estreia, “Ferro na boneca”. O grupo foi morar em um sítio em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, onde seguiam a cultura hippie dos EUA e da Europa em plena ditadura militar brasileira.
A grande obra viria após uma visita de João Gilberto à casa em que eles moravam juntos, já no Rio de Janeiro. Era 1972, quando o grupo lança o álbum “Acabou chorare”, que consagrou os Novos Baianos. O trabalho juntava samba, rock, bossa nova, frevo, choro e baião.
Com a regravação de “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, além de “Preta pretinha”, “Mistério do planeta”, “A menina dança”, “Besta é tu” e a faixa título, todas de coautoria de Moraes Moreira.
O disco foi eleito pela revista Rolling Stone como o melhor da história da música brasileira, em outubro de 2007. No total, foram oito discos de estúdio. Há ainda dois álbuns ao vivo, de reuniões do grupo, um de 1997 e outro de 2017.
Luiz Galvão escreveu a maioria das canções gravadas pelo grupo, e musicadas por Moraes Moreira. Entre suas composições estão "Acabou Chorare", "Preta Pretinha" e "Mistério do Planeta".
Galvão é autor dos livros: "Novos Baianos: A história do grupo que mudou a MPB"; "João Gilberto: a bossa" e "Anos 80: A história de uma amizade na década perdida". O juazeirense ainda lançou o disco Galvão, A Palavra dos Novos Baianos.
O poeta sai de cena deixando como legados a paixão pela arte, a poesia, as letras marcantes, e o bom humor. Além de uma defesa intransigente do seu povo e da sua terra.
“O nordestino é um lutador, um vencedor. E Juazeiro é uma cidade brincalhona, de muito humor, é ‘cheguei’. Juazeiro é o cara”, gostava de dizer em entrevistas.
Apesar da saúde frágil com que viveu nos últimos anos, Luiz Galvão se manteve sempre em estado de poesia. Ao lado dos filhos e da esposa Janete, acompanhando o Vasco, time do coração, ou nos mínimos detalhes, Galvão fez valer os versos que deixou eternizados. "Apesar de tudo, a vida é boa e ainda é bela".
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