Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (10/10) mostra um aumento de mais de 400% nos casos de violência política neste ano em comparação a 2018, quando ocorreu a última eleição presidencial. O estudo foi realizado pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global, constatando 523 episódios de violência entre 2 de setembro de 2020 e 2 de outubro de 2022, data do primeiro turno das eleições.
Foram considerados no levantamento, intitulado Violência política e eleitoral no Brasil, apenas casos nos quais os alvos foram candidatos, pré-candidatos, pessoas em cargos políticos ou eletivos, assessores parlamentares e dirigentes partidários. Ao todo foram 482 vítimas, sendo que algumas delas sofreram violência mais de uma vez. É a segunda edição do estudo, sendo que a primeira abrange de 1º de janeiro de 2016 a 1º de setembro de 2020.
Entre os casos registrados estão 54 assassinatos, 109 atentados, 151 ameaças, 94 agressões, 104 ofensas, seis de criminalização e cinco de invasão. No período eleitoral, entre 1º de agosto e 2 de outubro, data do primeiro turno, foram 121 casos de violência, uma média de dois por dia. Considerando o ano de 2022 até agora, a média é de um caso a cada 26 horas.
Em 2018, foram registrados 48 episódios de violência política. O valor saltou para 136 em 2019, 151 em 2020, caiu para 125 em 2021 e atingiu 247 em 2022.
O estudo mostra ainda que ocorreu um assassinato ou atentado à vida por motivação política a cada cinco dias. O estado de São Paulo lidera em número de casos, com 24. Em seguida estão Rio de Janeiro, com 22, e Bahia, com 20. Pará (14), Pernambuco (8) e Paraíba (7) também figuram no topo da lista.
"Esse aumento vertiginoso nos casos de violência política, principalmente no período eleitoral, demonstra o quanto esse fenômeno é estrutural e vem sendo utilizado sistematicamente para excluir determinados corpos dos espaços de poder e decisão", disse ao Correio a coordenadora de incidência política na Terra de Direitos, Gisele Barbieri. "Também tem sido utilizado para causar medo em grupos sub-representados dentro do sistema político, na intenção de que essas pessoas não cheguem a esses espaços. As mulheres, mesmo que em menor representação nesses espaços, são vítimas recorrentes desse tipo de violência, principalmente as mulheres negras e transexuais", completou.
"O aumento da violência política e eleitoral demonstra as rachaduras na democracia brasileira. É resultado também da permissividade e apoio, inclusive pelo poder público, de um discurso de ódio contra os adversários políticos. Além disso, faltam no Brasil ações eficazes que impeçam a violência política", relatou a coordenadora da Justiça Global, Glaucia Marinho.
A coordenadora destaca que os números da violência podem ser maiores do que os verificados na pesquisa, e que é preciso se atentar para os efeitos da violência política e eleitoral na população em geral. "O que nos chamou atenção foi clima de medo que se instalou no período eleitoral. Vale destacar que o discurso do presidente [Jair] Bolsonaro, de desconfiança no processo eleitoral e no resultado das eleições, também alimenta o clima de violência e medo que ronda as ruas do Brasil", disse Marinho.
Partidos progressistas e de esquerda são o principal alvo: O estudo também avaliou quais partidos sofrem mais casos de violência política. PT e PSol figuram primeiro, sofrendo 14,42% e 13,42% dos casos, respectivamente. Juntas, as siglas somam mais de um quarto dos episódios de violência registrados. PSD e PSDB ocupam o terceiro lugar, ambos com 5,47% dos casos. O PL está em quarto, com 4,73%. Na primeira edição da pesquisa, os casos estavam distribuídos pelo espectro político.
PERFIL DAS VÍTIMAS: Entre as vítimas, 59% são homens e 36%, mulheres. Mulheres trans e travestis foram alvo em 5% dos casos. O estudo destaca, porém, que os homens são maioria nos espaços políticos e cita, por exemplo, que apenas 15,8% dos eleitos em 2020 são mulheres.
Também minoria entre eleitos, os negros são vítimas em 48% dos episódios de violência política onde foi possível identificar cor e raça.
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