O Rio São Francisco, o Velho Chico, o Opará, que na lingua dos povos indégenas significa Rio Mar, completa nesta terça-feira, 521 anos, na história contada, mas que não é a realidade quando se inclui os povos originários.
Histórias e estórias a parte, o Grupo formado por mulheres, "Sereias do Rio", realizaram um percurso a nado para comemorar o aniversário do Velho Chico.
A juazeirense, advogada, empreendedora e produtora cultural, Alice Rocha, administra o grupo nas redes sociais, revela que o grupo possui mais de 70 mulheresm de todas as idades. Elas percorrem a nado trechos do rio São Francisco com o intuito de chamar a atenção da sociedade sobre a importância da preservação do rio e também para mostrar o amor pelas águas e o esporte que serve como motivo de provocar união e desenvolver ações que contribuam com o meio ambiente e sustentabilidade.
As Sereias do Rio também participam dos Circuitos de Maratonas Aquáticas. "Logo após a primeira etapa do Circuito de Maratonas Aquáticas de Velho Chico, em 2018, organizado por Rodrigo da Arca Sport, com recorde de mulheres inscritas, tomei a iniciativa de organizar uma confraternização, para fortalecer cada vez mais este movimento das mulheres no esporte. Justamente para que ocorra troca de saberes, experiências. Hoje somos mais de 80 mulheres, de todas idades, profissões, personalidades...Uma sendo inspiração para a outra", afirma Alice Rocha.
Alice também ressalta que "antes o nado e as travessias eram espaços predominantemente masculinos, hoje é bastante visivel o número das mulheres, As Sereias do Rio.
Cada participante do grupo tem uma história, motivo para a cada dia "agradecer as águas do Rio São Francisco". Alice, por exemplo, conta que sempre foi um desejo muito grande nadar no lendário Rio São Francisco. "Então, atravessar para a Ilha do Fogo a nado é algo que não existe palavras de tanta emoção e valor do trabalho e aperfeiçoar as braçadas, isso aconteceu com motivação da equipe de Rodrigo. Motivação que me fez superar o medo".
A passagem do seu pai, que faleceu ano passado, também foi um dos motivos para que Alice faça do esporte um recurso terapêutico. "Com a partida de meu pai, foi nadando que busquei lidar com o luto, a seguir a caminhada. O rio é um recurso que ensina a superar, enfrentar nossos medos, é união, empoderamento. Por tudo isto viva os 521 anos do nosso Rio São Francisco", finalizou Alice.
Mulheres Interessadas podem conhecer o grupo pelo instagram @sereiasdo.rio
HISTÓRIA: O historiador Laurent Vidal escreveu em seu dôssie, que "Um rio que atravessa o mar (unindo duas terras distantes) e que renasce como rio, subindo as terras em vez de descê-las, que tem e suscita sentimentos, e que ao mesmo tempo pode ser desviado para cumprir uma outra tarefa, oferece uma boa metáfora para descrever o longo processo de invenção histórica do rio São Francisco. Inventado entre Portugal e Brasil, como caminho líquido e coluna vertebral da colônia, ele foi reinventado no Império e na República Velha como “rio da unidade nacional”, antes de ser percorrido, como o caminho da esperança, pelos flagelados e outros migrantes da seca se dirigindo para São Paulo, e finalmente ainda reinventado no final do século XX em função da construção de barragens e da possibilidade de transposição de suas águas.
Esses exemplos demostram que é possível contar a história do rio São Francisco a partir de uma história da espera. De um lado, o rio São Francisco é fruto de muitas esperanças (geopolíticas e sociais) que deixaram rastros no imaginário, tanto dos poderes públicos quanto das populações ribeirinhas. Mas a esperança não é a única definição possível da espera – que significa também pausa, parada. E deste ponto de vista, devemos constatar que a paisagem do rio São Francisco é marcada por essas pausas dos homens em deslocamento que, subindo o rio, deram nascimento aos primeiros núcleos humanos".
Essa reflexão assume um lado inacabado; inacabado, já que a história da espera e da esperança é como a história deste rio – sempre viva; inacabada, porque não abarca a questão da esperança das populações ribeirinhas: pescadores, remeiros, comunidades quilombolas ou índias; inacabada, já que o debate atual sobre a transposição das águas faz renascer um discurso e um imaginário aonde se mesclam espera e esperança.
É só citar também, ao longo dos 2800 km banhados pelas águas deste, rio dono da vida dos homens e das terras, a permanência tênue de cidades abandonadas, como a memória apagada dos campos da seca, testemunhas frágeis de um mundo perdido, aonde tantas esperas e esperanças se afogaram. Mas nosso dever de historiador, não seria de tirá-las do esquecimento?
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