Roberta Soares é Jornalista setorizada em mobilidade urbana há 18 anos. Com 26 anos de redação, cobriu por quase dez anos o setor de segurança pública, atuando também nas editorias de Política, Brasil e Internacional. Nesta quinta-feira (22), a jornalista escreveu sobre os pífios recursos destinados à segurança viária, à tecnologia de trânsito, ao transporte público e à mobilidade ativa no resto do ano desacreditam datas-símbolo da mobilidade ideal
Confira texto publicado originalmente do JC on line:
Dia Mundial Sem Carro e Semana da Mobilidade: únicas datas em que o Brasil discute o estrago do trânsito. Quem ainda acredita?
Não é agradável fazer essa análise, mas lá vai: quem ainda acredita em datas como o Dia Mundial Sem Carro e a Semana Nacional da Mobilidade, anteriormente definida como Semana Nacional do Trânsito? Talvez, apenas as pessoas que diariamente lidam de alguma forma com o setor. A população em geral ignora.
E não é para menos. O Brasil finge que se preocupa com a segurança viária nas ruas e avenidas do País. Uso o verbo fingir porque quem está envolvido diariamente com o trânsito e a mobilidade urbana em geral sabe: são inúmeras as dificuldades que as gestões públicas enfrentam o ano inteiro para investir na mobilidade urbana, especialmente a coletiva e sustentável.
Seja para ampliar o serviço de transporte público e a prioridade a ele nas ruas das cidades, ampliar a malha cicloviária, reduzir a velocidade das vias ou investir em tecnologia para fiscalização do trânsito. Essa é a realidade o ano inteiro.
O Dia Mundial Sem Carro é lembrado nesta quinta-feira (22/9) e a Semana Nacional de Mobilidade entre os dias 19 e 23/9.
As duas datas viraram símbolo de uma mobilidade quase utópica atualmente porque, no resto do ano, a mobilização do poder público pelo setor é pífia. Em todo o País. São datas excelentes para a realização de blitzes educativas, webinários ou para anunciar pequenas ações e iniciativas que, na maioria das vezes, se perdem no tempo.
Funcionam mais nas redes sociais do que na vida prática de um Brasil cujo trânsito ainda mata 32 mil pessoas por ano e mutila de 200 mil a 500 mil por ano, gerando um custo social de trilhões de reais. O custo do trânsito para a saúde pública e a previdencia social é de R$ 1,5 trilhão por ano, segundo estudo do IPEA. Em Pernambuco, é de R$ 6 bilhões. Metade desse valor somente com motociclistas.
Infelizmente.
Mesmo assim, o poder público e a sociedade civil organizada promovem inúmeras ações em referência às datas
ÁLCOOL E DIREÇÃO-O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), referência nacional no tema, fez uma análise para as datas em que confirma o estrago que o álcool ainda provoca no trânsito brasileiro - apesar da Lei Seca.
Os sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define. Entenda) seguem sendo a principal causa de internações atribuíveis ao álcool e a segunda de mortes. As maiores vítimas são homens, entre 18 e 34 anos.
Apesar da Lei Seca, a combinação álcool e direção causam 70 mil internações e mais de 10 mil óbitos anualmente. No Brasil, são registrados 5 óbitos por sinistros de trânsito relacionados ao uso de álcool por 100 mil habitantes. Pernambuco apresenta uma taxa de 4,6 óbitos.
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