O dia 7 de setembro de 1922 marcou as comemorações em torno da independência do Brasil, mas não foi esse o único acontecimento a merecer registro naquela data, pois esta viu surgir também um veículo que se tornaria extremamente popular como entretenimento de massa – mas não só, como veremos – ao longo das décadas seguintes: o rádio, cuja gênese está diretamente ligada ao nome de Roquette-Pinto. Foi ele que, maravilhado com a transmissão, à distância e sem fios, da fala do presidente Epitácio Pessoa – evento que deu início à radiotelefonia brasileira – fez surgir, em abril do ano seguinte, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, com transmissor instalado na Escola Politécnica, na cidade que ainda era a capital federal.
A vocação popular do rádio não demorou, então, a aflorar, e foi justamente essa vocação que o transformou num veículo de entretenimento, cultura, informação e prestação de serviço, um aparelho que reinou absoluto nos lares de todo o País pelo menos até o surgimento da televisão, nos anos 50. Esta, que foi um obstáculo quase intransponível no caminho de outra arte popular – o cinema -, não teve a mesma força para desbancar o rádio da posição que ocupava na preferência de boa parte da população.
Ao longo de sua história, essa proximidade só cresceu. Amigo de todas as horas, o rádio levava informação, música e entretenimento àqueles que moravam nos recantos mais periféricos do País, onde a televisão ainda era uma realidade distante. As donas de casa debruçavam-se em torno do aparelho para se encantarem com as peripécias de O Direito de Nascer, maior audiência em radionovelas de toda a América Latina, no ar pela Rádio Nacional em 1951. E o que dizer então do Repórter Esso, primeiro noticiário de radiojornalismo do Brasil que não se limitava a ler as notícias recortadas dos jornais e que foi testemunho da vida política e social do Brasil e do mundo em seus mais de 25 anos de existência, tendo migrado, ainda nos anos 1950, também para a tevê, meio no qual sobreviveu até o ano de 1970.
Mas é quase impossível falar do rádio sem mencionar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que tanto contribuiu para divulgar a música popular brasileira. Artistas do porte de Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Silvio Caldas, Francisco Alves, Linda e Dircinha Batista, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Elizeth Cardoso, Emilinha Borba e Marlene, entre tantos outros, fizeram de suas vozes naquela emissora da era dourada passaporte para vender milhões de discos e conquistar a fama e a notoriedade num país que iniciava sua urbanização e a migração do campo para a cidade.
História à parte, o certo é que o rádio chega à modernidade sem ter perdido o seu alcance e apelo junto ao público. Só isso pode explicar o fato de ter sobrevivido ao cinema e à televisão e de ter chegado com muita saúde e disposição ao meio digital, uma vez que o rádio acontece – cada vez com maior força e ocupando mais espaço – também na internet, a despeito daqueles que apostavam que o mundo virtual, mais cedo ou mais tarde, acabaria por sepultar o rádio.
Diante dessa realidade, o Jornal da USP resgata um pouco da aventura desse meio de comunicação no Brasil, divulgando uma série de boletins que entraram na programação da Rádio USP como parte das comemorações aos cem anos do rádio no Brasil. Nas páginas abaixo, será possível acompanhar uma série de entrevistas com professores, pesquisadores, escritores e artistas, os quais fazem recortes sobre a história do rádio, enfocando sobretudo sua importância como expressão da cultura popular do País. E é exatamente essa característica que nos garante que não, o rádio não morreu – e, ao que tudo indica, deverá sobreviver por mais cem anos.
A primeira radionovela teve lançamento em 5 de junho de 1941, quando Em Busca da Felicidade foi ao ar pela primeira vez. Do cubano Leandro Blanco, o espetáculo era transmitido nas manhãs de dias específicos da semana e tinha duração de 15 minutos. O programa surgiu da proposta do patrocinador, creme dental Colgate, e foi pioneiro no sucesso do gênero dramático.
“A fórmula das radionovelas já vinha sendo praticada em alguns países da América Latina”, esclarece Lia Calabre, professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF). Na produção de textos radiofônicos, destacava-se Cuba, que conduziu as radionovelas a programas de longa duração e com patrocinadores fixos.
ERA DE OURO DO RÁDIO: Durante a Era de Ouro do Rádio, os mais bem sucedidos programas de auditório tinham quadros dedicados a cantoras. Emilinha Borba era destaque no programa de César de Alencar e Marlene no de Manoel Barcelos. Em 1949, as duas disputaram o título de Rainha do Rádio, concurso radiofônico com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de um hospital. Como explica Lia Calabre, professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), “o rádio tinha um papel fundamental: ele era um indicador de popularidade”.
Os programas de auditório eram um dos carros-chefe da Rádio Nacional e tinham quadros de humor, música e de calouros, por exemplo. Lia relembra os programas de César de Alencar, Paulo Gracindo e Manoel Barcelos: “Eles fizeram história. Ficaram 20 anos, praticamente, no ar fazendo a história do rádio”.
O gênero humorístico também teve sucesso nas transmissões, com nomes como Jararaca e Ratinho, Alvarenga e Ranchinho e PRK-30. Este último “era, como se fosse, uma rádio clandestina, que transmitia sem autorização do governo”, descreve a professora.
INTEGRAÇÃO CULTURAL: Na Era de Ouro do Rádio, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi pioneira na integração cultural do Brasil. A emissora disputava popularidade com a Rádio Mayrink Veiga, até que, com a incorporação ao governo Vargas, ela cresce e tem programas fantásticos, que marcaram época, como Um Milhão de Melodias. O lançamento de produtos das empresas e o cast eram fascinantes para os ouvintes: “Cria-se, na verdade, uma estratégia de atrair audiência de todo o País”, explica a historiadora Lia Calabre, professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidade da Universidade Federal Fluminense.
Inaugurada em 12 de setembro de 1936, a emissora Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi criada com a pretensão de transmitir com qualidade para todo o território brasileiro. Ela tornou-se um grande fenômeno de expressão da cultura popular , sobretudo em razão do cast, que contava com nomes como Marília Batista, Aracy de Almeida e Celso Guimarães. A adição de uma orquestra coloca-a entre as principais rádios do País.
A Nacional era uma emissora privada do grupo A noite, até que, em 1940, é incorporada à União pelo Estado Novo de Getúlio Vargas. A historiadora Lia Calabre, professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), discorre sobre a estatização: “A partir de 1940, ela deslancha com essa incorporação e esse investimento. E vai ser a grande estrela principal do cenário radiofônico brasileiro nos anos 1940/1950”.
Com a chegada da televisão no Brasil, em 1950, as pessoas acreditavam que o rádio não teria mais espaço na comunicação. No entanto, uma condição básica de popularidade manteve a relevância do rádio. É o que afirma a escritora e jornalista Magali Prado, pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP: “Não dá para você estar com uma televisão o tempo todo junto. Já os aparelhos de rádio diminuíram de tamanho, eram portáteis”. Em comparação com a televisão, o baixo preço do rádio de pilha permitiu que os ouvintes tivessem acesso à informação.
Mesmo o advento da internet, na década de 1990, não interrompeu as transmissões de rádio. Por meio da expansão de informações nas páginas da web, como quadros e imagens, a jornalista descreve o processo de amadurecimento como uma “revolução audiofônica”. Ela justifica: “Com a internet, é possível ouvir rádio de qualquer canto do mundo. Então, essa possibilidade de sair das fronteiras é muito saudável”.
Frente ao surgimento de tecnologias da comunicação mais interativas, a rádio permaneceu presente na vida dos brasileiros e teve de adaptar sua abordagem para atingir o público.
Os anos 1940 marcaram a ascensão e o auge do rádio no Brasil. A influência de estrelas em costumes e a moda da época intensificou-se com a estreia das radionovelas. Esses programas, como Jerônimo, o Herói do Sertão, atraíam o fascínio dos ouvintes. “No seu dia a dia, as pessoas se juntavam para ouvir. Então, nem todo mundo tinha um aparelho de rádio e depois ele foi se barateando. Mas todo mundo se encontrava para ouvir os capítulos de cada dia”, explica Magali Prado, escritora, jornalista e pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
A interação com os artistas do rádio e a equipe técnica permitiu que as radionovelas fossem programas próximos do público: “Os programas de auditório, nessa época, também fizeram muito sucesso, porque faziam com que os ouvintes pudessem chegar perto dos seus ídolos, seus artistas favoritos”, segundo ela. Esse cenário de euforia, no entanto, reformou-se com a chegada da televisão.
TRANSFORMAÇÃO COMERCIAL: Durante o governo de Getúlio Vargas, houve a liberação das propagandas nas transmissões de rádio, em 1932. O incentivo às empresas culminou no investimento no meio de comunicação e os aparelhos tornaram-se populares. Com a comercialização das emissoras, a escritora e jornalista Magali Prado, pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, explica que “entra o aporte comercial, os anúncios, depois os esportes, depois os jingles, depois os testemunhais. Ou seja, sempre a publicidade bancando o seu funcionamento”.
A partir da transformação comercial, a profissionalização do rádio foi uma consequência de impacto na qualidade e entretenimento. “Então, era possível, com a verba que entrava da publicidade, contratar pessoas especificamente para trabalhar nas rádios”, conclui ela. Os atores e atrizes surgiram nesse momento da história do rádio.
Na década de 1920, as rádios eram financiadas por associados de alto poder aquisitivo, uma vez que não interessava ao Estado monopolizar as transmissões. A escritora e jornalista Magali Prado, pós-doutoranda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, expõe: “A programação era basicamente musical e direcionada para uma elite (de classe) A-B, principalmente A, quem tinha acesso à música de qualidade”. A programação da época incluía óperas e música clássica, sem interrupções para comerciais e propagandas.
Com a profissionalização do rádio, as emissoras tornaram-se educativas. Magali explica: “Tinha uma programação cultural, uma programação musical, uma programação voltada ao conhecimento, uma troca de saberes mesmo”. A jornalista ainda descreve a experiência de ouvir rádio no seu início como um “privilégio”.
MULHERES NO RÁDIO: Apesar do predomínio masculino na produção musical, as mulheres sempre estiveram presentes na composição, de acordo com a cantora e compositora Denise Melo. “Eu acho que as compositoras, através dos seus depoimentos e das letras das suas canções, deixaram seus pensamentos e posicionamentos diante de uma época”, comenta a cantora sobre o legado deixado para as gerações atuais. Ela complementa: “As compositoras que contribuíram com melodias demonstraram o quanto estavam conectadas com seu tempo, compondo os gêneros musicais característicos da época”.
Em seu livro A mulher na canção: A composição feminina na era do rádio, a artista relembra a história e a luta das compositoras brasileiras contra o machismo, homofobia e racismo. Um dos exemplos é o da compositora e intérprete Dora Lopes: “Eles (família) não queriam que eu cantasse de jeito nenhum, meu pai não admitia e tal”. Dora também relata sobre sua participação no programa Calouro em Desfile, apresentado pelo músico Ary Barroso, e seu encontro com Francisco Alves, o “Rei da Voz”.
As artistas brasileiras também foram destaque no rádio, sobretudo na composição de músicas. As obras de 15 compositoras, que atuaram entre as décadas de 1920 e 1960, estão reunidas no livro A mulher na canção: A composição feminina na era do rádio, de Denise Melo. A cantora e compositora relembra nomes como Dora Lopes, Carmen Costa e Zica Bérgami, reconhecidas pelos principais jornais e revistas da época.
Apesar das participações em programas de auditório transmitidos em todo o Brasil e excursões internacionais, poucas delas permaneceram na memória popular. “Apenas duas delas são lembradas e valorizadas: Dolores Duran e Maísa, que escaparam de um apagamento dentro da nossa história musical”, comenta Denise.
O programa Hora da Ginástica, apresentado pelo radialista e professor Oswaldo Diniz Magalhães, foi o primeiro do gênero a ser transmitido por uma rádio, em 1932. De início, a transmissão era efetuada pela Rádio Educadora Paulista, porém, foi na Rádio MEC AM onde passou mais tempo no ar. Símbolo de longevidade e da precursão da prática de atividades físicas, teve fim no ano de 1981.
As aulas de ginástica à distância contavam com a trilha sonora de piano e a locução de Oswaldo. Às 6 horas da manhã, ele convocava os ouvintes para uma série de exercícios contidos em um mapa, disponível para compra. Contudo, a impossibilidade de conferir se a atividade era executada de maneira adequada rendeu-lhe críticas da mídia. A recepção do público, apesar disso, foi positiva ao ponto de construírem uma estátua a ele. Oswaldo morreu aos 93 anos e deixou um legado de incentivo ao exercício físico diário.
Apesar das participações em programas de auditório transmitidos em todo o Brasil e excursões internacionais, poucas delas permaneceram na memória popular. “Apenas duas delas são lembradas e valorizadas: Dolores Duran e Maísa, que escaparam de um apagamento dentro da nossa história musical”, comenta Denise.
PADRE LANDEL: Além de realizar a primeira transmissão de ondas de rádio sem fio, o padre Landell de Moura também empregava as ondas contínuas em suas transmissões. Em sua viagem aos Estados Unidos, recomendou a adoção de ondas curtas para aumentar as distâncias das transmissões. “Em síntese, padre Landell cogitou a possibilidade de transmissão à distância sem fio da voz humana e outros sons, textos e imagens”, analisa o escritor e jornalista Hamilton Almeida.
Em seu livro Padre Landell: o brasileiro que inventou o wireless, Almeida revela que o cientista era reconhecido por inventores americanos porque seus experimentos serviram de referência a outros dispositivos de telecomunicação patenteados nos Estado Unidos.
Apesar de pouco lembrado na história brasileira, o padre Landell de Moura foi um pioneiro das telecomunicações e responsável pela mais antiga transmissão de voz por ondas de rádio. “Isso aconteceu em uma experiência pública – é um fato documentado – no dia 16 de julho de 1899, em São Paulo, mais especificamente no Colégio Santana, de onde partiram os sons iniciais de um aparelho de rádio, tanto de voz quanto de sons musicais”, conta o escritor e jornalista Hamilton Almeida, biógrafo do cientista há 45 anos.
Nos Estados Unidos, o padre registrou as patentes de transmissões por ondas de rádio e por feixes de luz, invenção considerada embrionária das fibras ópticas. Contudo, ao retornar ao Brasil, Landell de Moura teve pedidos por recursos e demonstrações negados pelo Governo Federal e pelo Estado de São Paulo.
A falta de apoio para o desenvolvimento de suas tecnologias resultou no esquecimento do nome do padre, segundo Almeida. Diante do conflito entre ciência e obscurantismo, ele afirma: “Infelizmente, na época dele, o obscurantismo venceu. E o que se pretende agora, resgatando a sua história, é mostrar o pioneirismo e a importância de tudo que ele fez”.
Na época de ouro do rádio, destacava-se uma voz marcante, que cantava apenas músicas brasileiras, a de Linda Batista. Campeã do concurso de Rainha do Rádio em 1937, ela manteve a coroa por onze anos consecutivos e alcançou popularidade em todo o Brasil.
Perdeu a invencibilidade do concurso apenas para a sua irmã, Dircinha Batista. Encorajadas pelo pai, Batista Júnior, um humorista e ventríloquo, ambas iniciaram a carreira artística cedo e Linda marcava presença nas emissoras Tupi e Nacional. Seu sucesso com gravações de sambas-canções e músicas de carnaval renderam impacto internacional, com aparições em Paris, Roma e Buenos Aires. A compositora atingiu seu auge nos anos 1940 e 1950 e decidiu afastar-se da vida artística nos anos 1960. Em abril de 1988, Linda Batista faleceu no Rio de Janeiro.
O pai da radiodifusão brasileira, Edgard Roquette-Pinto, nasceu em 25 de setembro de 1884. Antropólogo, ensaísta, etnólogo, médico legista e professor, ele colaborou com a missão de marechal Rondon no Norte do País, na filmagem dos índios nhambiquaras. Em 1917, publicou Rondônia – Antropologia etnográfica, considerado um clássico da antropologia brasileira. Dez anos depois, ocupou a cadeira 17 na Academia Brasileira de Letras.
O interesse no desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação de massa, sobretudo após a transmissão do presidente Epitácio Pessoa, o fez apaixonar-se pelo rádio. Para ele, o rádio era “o material de ensino indispensável, mesmo quando custa muito, da educação intensiva que o meio familiar é capaz de promover e na cultura que o Estado tem o dever de animar”.
Em abril de 1923, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi criada a partir da iniciativa de Roquette-Pinto, que convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a rádio. O objetivo da emissora era a difusão de assuntos culturais e científicos. Durante o governo de Getúlio Vargas, em 1936, ele doou a rádio ao Ministério da Educação, que a renomeou como Rádio MEC.
Roquette-Pinto faleceu em 18 de outubro de 1954, aos 70 anos. Em comemoração ao seu legado, o Dia do Rádio no Brasil é comemorado na data de seu nascimento.
RÁDIO CLUBE PERNAMBUCO: Antes da primeira emissora regular do Brasil, um grupo de curiosos na radiotelegrafia montou uma estação de rádio experimental, a rádio Clube de Pernambuco. Sobre o pioneirismo da emissora, o pesquisador e doutor pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, Pedro Serico Vaz Filho, relata: “Esse grupo se reúne para tratar a questão da comunicação à distância sem a utilização de fios. Toda essa experiência foi realizada naquele momento a partir de 6 de Abril de 1919”. Duas semanas depois, a instituição publicaria os estatutos da rádio, que estabelecia como seriam efetuados os trabalhos.
Em outubro de 1923, a Clube de Pernambuco passaria por uma reformulação para o uso do rádio como meio de comunicação. A renovação, através da instalação de novas tecnologias, deve ser reconhecida como a continuação de uma estação já fundada, conclui Vaz Filho: “Essa existência anterior foi uma existência de estruturação, de estudo, de desenvolvimento, de técnicas, ela ganha esse espaço”.
A Exposição Internacional do Centenário da Independência, inaugurada pela primeira transmissão oficial de rádio no Brasil, pretendia ser um marco na modernização da cidade do Rio de Janeiro. “Esse momento foi muito importante para a história da radiodifusão. A gente tem que reconhecer e levar em consideração que as coisas não aconteceram uma semana antes e nem dias depois, nem um mês antes”, pontua Pedro Serico Vaz Filho, pesquisador e doutor pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Segundo ele, a organização do evento foi feita com antecedência devido ao seu porte e sua importância.
Além disso, a presença de nomes relevantes na história do rádio, como o padre Landell de Moura e Guglielmo Marconi, também exigiu preparações. Em 1899, o padre realizou a primeira transmissão sem fios de voz humana por ondas de rádio na história da humanidade. Marconi, considerado o inventor do rádio na Europa, inventou o telégrafo sem fio quatro anos antes. “Para tudo isso houve um trabalho anterior e planejamento de procurar as pessoas, de ter o contato com essas pessoas. Imagina fazer tudo em 1922”, analisa Vaz Filho.
O pesquisador salienta a grandiosidade do momento: “Em 7 de setembro de 1922, nós temos essa referência importante do rádio brasileiro e essa referência nos traz um estudo, um pensamento sobre o que acontecia antes daquele período e o que veio a acontecer depois também”.
Há 100 anos, no dia 7 de setembro de 1922, o rádio nasceu oficialmente no Brasil durante as celebrações do centenário da Independência do País. Em um discurso do então presidente, Epitácio Pessoa, a primeira transmissão à distância e sem fios inaugurou a Exposição Internacional comemorativa. Apenas dezenas de pessoas no Rio de Janeiro, Niterói, Petrópolis e São Paulo acompanharam o pronunciamento do presidente. Também foram transmitidos acordes da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, que estava sendo executada no Teatro Municipal.
Ao acompanhar as transmissões, Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão no Brasil, convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Criada em abril de 1923, esta foi a primeira emissora brasileira oficialmente reconhecida.
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