No Brasil, os suspeitos têm cor. E os resultados da pesquisa Por que eu? deixam bem evidenciado como isso se dá na prática do policiamento ostensivo. De acordo com o estudo, ser negro no Rio de Janeiro ou em São Paulo significa ter um risco 4,5 vezes maior de sofrer uma abordagem policial, em comparação com uma pessoa branca. Enquanto 20% dos primeiros passaram por essa experiência por pelo menos 10 vezes, os brancos nessa condição são pouco mais de 8%.
A pesquisa foi aplicada em todo o território nacional, e optou-se por concentrar os resultados do Rio de Janeiro e de São Paulo pela maior representatividade matemática. Mas, segundo Elena, as respostas indicam que essa realidade se repete pelo resto do país. A coluna separou alguns fortes indícios de que as abordagens se dão de uma forma diferenciada.
"Isso considerando que a maioria dos entrevistados era jovem, com até 35 anos. Ou seja, não são pessoas que viveram muito tempo e, por isso, poderiam acumular muitas experiências. Elas lembraram de 12, 18, 24 abordagens", enfatiza Elena Wesley, porta-voz do data_labe, que realizou a pesquisa em parceria com o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD).
Elena chama a atenção para outra característica dos participantes: no momento da entrevista, realizada entre maio e junho de 2021, 74% não moravam em comunidades e 78% estavam cursando ou haviam concluído um curso superior. "Isso demonstra que a ascensão social não implica em mudanças na forma como um negro é percebido socialmente", avalia.
Independentemente da cor da pele, menos de 20% dos suspeitos foram levados à delegacia. Para Elena, trata-se de uma prova significativa de que os protocolos precisam ser repensados. "Eles exageram e não encontram nada. Será que esses policiais poderiam estar fazendo algo que, de fato, trouxesse segurança para a população?", questiona. "Hoje, essas ações resultam em medo da polícia ou falta de credibilidade na atuação dela".
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