Os registros de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) dispararam durante o governo do presidente Jair Bolsonaro. Segundo dados levantados pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública, com base em informações do Exército, o número de CACs no país passou de aproximadamente 117 mil, em 2018, para mais de 670 mil esse ano — um aumento de 82,5% em menos de quatro anos.
Como o Correio revelou recentemente, o número de clubes de tiro e lojas de armas cresceu no país em mais de 41% nos últimos meses, o que acompanha a tendência de explosão nos registros de CAC's.
O número de CACs já supera o total da soma dos efetivos das polícias militares dos estados. Apesar dos dados fornecidos pelo Exército não precisarem os tipos e modelos dos armamentos e munições comprados e registrados pelos atiradores, devido a diferenças nas bases de dados de registro das diferentes regiões militares do país, o arsenal nas mãos de civis chega a quase 3 milhões de armas, incluindo armas de calibre restrito, como fuzis.
O aumento na facilidade de registro e a compra legal de armamento, inclusive os de grosso calibre, como os fuzis, acabam por ter um efeito reverso. Não é raro que tais armas, adquiridas dentro da legalidade, acabem nas mãos de organizações criminosas por todo país.
O policial federal, dirigente sindical, e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Roberto Uchôa destaca que nunca foi tão fácil conseguir armamento pesado no Brasil. "O criminoso agora pode usar laranjas, pode ele mesmo comprar, já que o Exército não verifica se a pessoa é criminosa ou não, além de poder furtar várias armas de residências ou carros", apontou.
Uchôa exemplifica seu argumento citando diversos casos de prisões de CAC's ligados a organizações criminosas. Conforme explicou o policial, esses CAC's traficavam armas compradas legalmente para essas facções, como o caso do armeiro de uma organização paulista. Além disso, Uchôa explica que o tráfico de armas não tem limites territoriais — o que significa dizer que armas compradas legalmente no Rio Grande do Sul, por exemplo, podem acabar nas mãos do crime nos morros do Rio de Janeiro, ou em qualquer outra parte do país.
Contatado, o Exército não respondeu até o momento os questionamentos da reportagem sobre os dados apresentados. O espaço segue aberto.
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