O panorama político brasileiro para as eleições de outubro próximo traz algumas particularidades do ponto de vista do eleitorado e das candidaturas. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o eleitor que vai comparecer às urnas este ano estará mais velho.
Dados do TSE indicam que a faixa etária com o maior número de eleitores é a de 45 a 59 anos, correspondendo a 24,8% dos votantes.
Especialistas analisam que o eleitorado nacional envelhece e tende a preservar antigos costumes; por outro lado, a participação das mulheres como candidatas e eleitoras coloca na mesa de discussão a questão da desigualdade de gênero na política. Outras minorias, como a população LGBTQIA+, também ganham eco nessas eleições. A busca desta comunidade por direitos deve resultar em números históricos de candidaturas.
A professora da Unesp e especialista em Comportamento Eleitoral, Maria Teresa Miceli Kerbauy, diz que o envelhecimento do eleitorado é reflexo do envelhecimento da população e aponta a questão geracional como um elemento importante no comportamento dos eleitores. Dos 210 milhões de brasileiros em 2019, 37,7 milhões eram pessoas idosas, ou seja, tinham 60 anos ou mais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que já detectou uma desaceleração do ritmo de crescimento populacional.
Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que em 1994 o maior número de eleitores tinha entre 25 e 34 anos, 27,6% do total. Passados 28 anos, mesmo com o estímulo de artistas e do próprio TSE para que os jovens entre 16 e 18 anos se tornem eleitores, os votantes entre 45 e 59 anos são a maioria.
Segundo Maria Teresa, “as gerações mais velhas têm maior resistência a mudanças de valores, com opiniões e identidades diferentes dos mais jovens, especialmente sobre temas morais”, o que influencia, de formas diferenciadas, “na escolha dos candidatos aos cargos legislativos e executivos”.
De acordo com o professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, Marcos Cortez Campomar, o envelhecimento do eleitorado brasileiro vem acontecendo há algum tempo e reflete nos resultados das urnas. Para Campomar existe a tendência de as pessoas maduras serem mais conservadoras quanto aos costumes, “embora uma grande parte seja bombardeada pela mídia e já estejam percebendo mudanças no mundo e se adaptando”.
Campomar defende a participação do idoso como eleitor e destaca, inclusive, os votantes com mais de 70 anos, e justifica lembrando da experiência de vida como fator relevante na hora da escolha nas urnas. Por outro lado, Maria Teresa acredita que a participação dos jovens na política e na defesa da democracia, como eleitor ou representante, precisa ser estimulada através de uma mudança na linguagem da comunicação política.
MULHERES NA POLÍTICA: As mulheres conquistaram o direito ao voto em 1932. Hoje, 90 anos depois, elas representam 53% do eleitorado brasileiro; mesmo assim, são minoria entre os parlamentares no Congresso Nacional, apenas 15%, conforme dados do relatório de 2020 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O número não corresponde nem à metade da média dos outros países da América Latina e Caribe.
A advogada Ana Carolina Juzo, mestranda da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP e pesquisadora da área de Gênero e Direito, aponta alguns fatores para as mulheres ao longo da história começarem a se interessar por esse universo. “O rompimento da barreira pública e privada e a desconstrução das expectativas de gênero contribuíram para que mais mulheres se tornassem eleitoras e elegíveis”, afirma.
Ao analisar o volume do eleitorado feminino, Ana Carolina diz que é preciso ressaltar a pluralidade de mulheres em diferentes condições sociais, financeiras e culturais e que fatores distintos podem estar relacionados na hora da escolha de um candidato. “Mulheres diferentes votam de formas diferentes”, diz a advogada.
As mulheres representam a maioria dos votantes, mas são as mais indecisas, 4% do eleitorado contra 1% dos homens, fator que pode decidir o resultado das eleições de 2022. Os dados são do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), em sua última análise realizada em junho deste ano.
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