Um grupo de pesquisadores brasileiros encontrou no município baiano de Piritiba, na região da Chapada Diamantina, as rochas mais antigas da América do Sul. Com 3,65 bilhões de anos de idade, elas datam do Eoarqueano, a primeira era da escala geológica a abrigar uma crosta sólida no ambiente terrestre, que abrange o período entre 4 bilhões e 3,6 bilhões de anos atrás.
Quando essas rochas foram formadas, a Terra tinha pouco menos de 1 bilhão de anos e as primeiras formas de vida estavam surgindo. São rochas muito raras e difíceis de serem localizadas, uma vez que não ficam expostas na superfície e também são 10 milhões de anos mais velhas do que as encontradas em 2020 na região do cráton São Francisco.
A geóloga e professora Marly Babinski, do Departamento de Mineralogia Geotectônica do Instituto de Geociências da USP (IGc USP), diz que, até recentemente, material semelhante encontrado no Brasil data entre 3,4 e 3,5 bilhões de anos.
“Essa rocha, que foi datada recentemente, é realmente uma descoberta muito importante, porque vai trazer informações complementares ao que a gente tinha até agora para entender a evolução geodinâmica do nosso planeta, como era essa crosta continental logo no início da formação da Terra.” O que se tinha de mais antigo até agora, com mais de 4 bilhões de anos, são os minerais, que já mostram a presença de água, diferente das rochas encontradas na Bahia.
O paleontólogo Max Cardoso Langer, professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo, diz que existe uma dificuldade muito grande de uma pessoa comum entender tantos bilhões de anos. “Quando a gente fala do tempo profundo, na casa dos milhões ou bilhões de anos, a gente está falando de uma escala temporal completamente diferente daquela a que o ser humano está acostumado, que é na casa de décadas ou, no máximo, séculos.” O tempo profundo, diz ele, é uma distância cronológica inconcebível para o ser humano.
Ele considera que, com esse achado, o Brasil, a exemplo da Austrália, entra na lista dos países com as rochas mais antigas do planeta, pois, quanto mais profundo no tempo e mais antigas as rochas, mais raras são. “Rochas tão antigas quanto essas ficaram por tanto tempo expostas que foram destruídas e raras são aquelas que seguem expostas hoje em dia.” A professora Marly compartilha da mesma opinião ao acrescentar que a descoberta dessas rochas antigas no Brasil representa um registro importante, “porque põe o nosso país junto com aqueles países que possuem as rochas mais antigas do mundo e que, de alguma forma, são um atrativo para trazer pesquisadores que trabalhem na evolução da terra primitiva”.
Em 2020, como já mencionado acima, foram encontradas pela primeira vez rochas antigas na região da Chapada Diamantina, porém, eram 10 milhões de anos mais novas do que as descritas agora, mas essa descoberta, no que os pesquisadores chamam de cráton São Francisco, indica que rochas mais antigas ainda possam ser localizadas. Para Langer, o estudo envolvendo a descoberta dessas rochas vai ajudar a entender o Brasil e o mundo como este se apresentava há bilhões de anos. “O Brasil, por ter algumas dessas rochas, está numa posição privilegiada para conduzir esse tipo de estudo” em relação a países que não as possuem.
A descoberta dessas rochas, por outro lado, enobrece a qualidade dos pesquisadores brasileiros espalhados pelas grandes universidades do País, como enfatiza o paleontólogo. “O Brasil é um dos poucos países que portam rochas tão antigas e isso acaba formando aqui, nas nossas universidades, um quadro de pesquisadores especializados nessas áreas.” De acordo com ele, as geociências no Brasil são muito bem representadas por quadros muito qualificados de pesquisadores. “A ciência está aí para isso, para revelar as maravilhas de coisas que às vezes nos parecem triviais”, acrescenta.
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