Dois anos e três meses após chegarem ao Brasil, as ararinhas-azuis trazidas da Alemanha para Curaçá voltaram a povoar o céu do sertão baiano. A soltura das aves, realizada no último sábado (11), foi a primeira do programa de reintrodução que está em vigor desde 2020, e marca uma nova fase do trabalho.
Agora as Ararinhas Azuis aves carregam um pequeno colar de telemetria no pescoço e serão monitoradas pelos pesquisadores. Ainda é cedo para dizer que tudo deu certo, mas a esperança está no céu, e tem a cor azul.
A cidade de Curaçá, Bahia, foi escolhida por ter sido o último local onde a ararinha-azul foi avistada, há mais de duas décadas.
Ao todo, cinco fêmeas e três machos de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) nascidos, claro, em cativeiro, foram reintroduzidos. Junto com elas, foram soltas oito maracanãs selvagens, aves de hábitos similares às ararinhas que foram capturadas na própria região e que vão acompanhá-las na jornada de aprender a viver na natureza. As maracanãs (Primolius maracana) foram usadas na etapa de preparação para a reintrodução, ainda no cativeiro, onde ensinaram as ararinhas, através do exemplo, a procurar alimentos e interagir com o ambiente.
“É a primeira soltura pareada no mundo”, explica Ugo Eichler Vercillo, diretor-técnico do projeto Blue Sky Caatinga, sobre a interação ararinhas e maracanãs.
Não é uma interação inédita. O último indivíduo da ararinha que viveu na natureza, antes da extinção, fez par com uma maracanã em Curaçá, no final dos anos 90, até desaparecer, em 2000.
Mais doze ararinhas estão na fase de preparação para a soltura, que deve ocorrer em dezembro. Nesta segunda reintrodução, a espécie que deverá guiá-las não será mais o maracanã, mas as próprias ararinhas já soltas, que estão sendo atraídas para próximo do viveiro – onde o novo grupo está se preparando – por meio da complementação alimentar.
Com ocorrência apenas no sertão baiano, as populações silvestres da ave foram dizimadas devido ao tráfico de animais e à perda de habitat. Sua sobrevivência ficou então atrelada a cativeiros no Brasil e no mundo, que garantiram a reprodução e perpetuação da espécie.
Em março de 2020, um grupo de 52 ararinhas-azuis, provenientes da instituição alemã Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), foram enviadas ao Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul e à Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul. As unidades de conservação, com extensão total de 29,2 mil e 90,6 mil hectares, respectivamente, foram criadas no município de Curaçá em junho de 2018 justamente para garantir a proteção da espécie em sua volta à Caatinga.
Em Curaçá também foi construído o Centro de Reprodução e Reintrodução das Ararinhas-Azuis, onde atuam os pesquisadores responsáveis pelo monitoramento das ararinhas junto com a equipe do ICMBio.
No sábado (11), a cerimônia de soltura foi reservada apenas para a equipe que trabalha diretamente no projeto. As atividades começaram cedo, com a abertura do viveiro de aclimatação às 6h30. As primeiras a deixarem o local foram as maracanãs. Demorou quase 3h para que a primeira ararinha saísse do viveiro. Quem viu a cena tratou de descrevê-la como inesquecível.
Em seguida, as outras sete aves foram saindo, uma a uma, para, finalmente, seu primeiro voo livre.
As aves carregam um pequeno colar de telemetria no pescoço e serão monitoradas pelos pesquisadores. Ainda é cedo para dizer que tudo deu certo, mas a esperança está no céu, e tem a cor azul.
Informações da repórter, Daniele Bragança, especializada na cobertura de legislação e política ambiental. Formada em jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), desde 2018 é editora do site ((o))eco.
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