No próximo mês de outubro, os brasileiros irão encontrar um novo tipo de rótulo nutricional em alguns produtos alimentícios: uma lupa que indica se o alimento tem alto teor de sódio, açúcar ou gorduras saturadas. Trata-se do rótulo nutricional de frente de embalagem ou Front-of-package (FoP). Em 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a lupa como desenho de rótulo de FoP.
Um estudo conduzido pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) comparou o comportamento e percepções do consumidor frente ao design proposto pela Anvisa e ao rótulo com o triângulo de advertência, modelo desenvolvido pelo Idec em parceria com designers de informação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Nos testes, o design da Anvisa apresentou um desempenho ligeiramente melhor em diminuir as intenções de compra dos consumidores. Na maioria dos outros critérios, porém, o triângulo de advertência performou melhor – por exemplo, em ajudar o consumidor a identificar o mais saudável entre dois produtos. “Queríamos gerar evidências e realmente ver como se comportava a proposta da Anvisa, em comparação com o triângulo de advertência”, explica ao Jornal da USP a pesquisadora Neha Khandpur, do Departamento de Nutrição da FSP, ressaltando a necessidade de estudos futuros para resultados mais conclusivos. “Poderia haver uma opção melhor para a Anvisa escolher. Mas como vimos alguns aspectos positivos do rótulo em nosso estudo, estamos cautelosamente otimistas”, complementa.
Neha, que é integrante do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), é a autora principal do artigo A comparative assessment of two different front-of-package nutrition label designs: A randomized experiment in Brazil. Publicado na revista PLOS ONE, com coautoria de Laís Amaral Mais, pesquisadora em alimentos do Idec, e Ana Paula Bortoletto Martins, pós-doutoranda na FSP.
O Front-of-package (FoP) é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pois dá destaque às principais informações nutricionais de um produto, trazendo-as para a parte frontal da embalagem. A visibilidade dada a essas informações ajuda o consumidor a identificar ingredientes que podem interferir na escolha da compra.
Para que o rótulo possa auxiliar na escolha dos consumidores, é importante que o FoP cumpra alguns requisitos, como seguir o tamanho mínimo, ser posicionado de maneira padronizada nas embalagens e usar critérios rigorosos para determinar quando os nutrientes exibidos estão em excesso.
A rotulagem nutricional frontal será obrigatória nos alimentos embalados na ausência do consumidor que tiverem adicionados açúcares, gorduras saturadas ou sódio em quantidades iguais ou superiores aos limites definidos pela Anvisa.
AVALIAÇÃO: Cerca de 1.300 pessoas, de 101 cidades brasileiras, participaram do estudo randomizado controlado realizado em outubro de 2019 — ano em que o rótulo foi proposto —, com entrevistadores treinados e de forma presencial. “Esse é um desenho de estudo muito poderoso que isola e demonstra o efeito causal do FoP, sua utilidade, o quão bem ele é compreendido pelos consumidores e como influencia as intenções de compra”, esclarece Neha.
Os participantes foram divididos em dois grupos. O primeiro foi apresentado a produtos contendo o rótulo da advertência, e o outro, à lupa da Anvisa. Os participantes de ambos os grupos foram questionados sobre os efeitos desses rótulos, por exemplo, qual era importância da informação comunicada pela embalagem, a utilidade do rótulo no direcionamento de escolhas mais saudáveis e o quão preocupados eles ficariam se crianças da família consumissem alimentos e bebidas com esses rótulos.
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