A Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do Brasil fez um protesto em Brasília para chamar atenção para a crise financeira nas unidades. Manifestantes fixaram mais de 1,8 mil cruzes em frente ao Congresso Nacional, uma referência ao número de hospitais filantrópicos pelo país.
O estado da Bahia tem 91 hospitais filantrópicos que prestam atendimento pelo SUS. O único hospital de Campo Formoso, no sertão da Bahia, também atende às cidades vizinhas; 90% dos atendimentos são pelo SUS. Segundo a unidade, os repasses mensais do Sistema Único de Saúde não cobrem o que o hospital gasta com os procedimentos, e o prejuízo é de quase R$ 300 mil por mês.
"Duzentas famílias dependem do Hospital São Francisco, fora a população, que, no caso de um fechamento, vai ser completamente prejudicada, visto que é o único hospital da cidade", diz a coordenadora de Enfermagem do Hospital São Francisco, Jane Raquel
"Eu acredito que se fechar, não só nossa cidade, Campo Formoso, vai entrar em um colapso porque não vai ter atendimento", afirma o mototaxista Erasmo Farias.
Segundo a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas, mais de 700 desses estabelecimentos têm dívidas acumuladas que chegam a R$ 10 bilhões com bancos por conta da defasagem dos contratos com o SUS.
A confederação afirma que vai entrar com um pedido formal para que o Congresso aprove um auxílio financeiro anual de R$ 17,2 bilhões, que cobriria o déficit na prestação de serviços.
"A gente pode, realmente, discutir com o cofinanciamento dos estados e municípios, para chegar ao valor do custo. Esse é o que nós queremos, o valor do custo, para que nós possamos dar tranquilidade aos nossos provedores, aos nossos médicos, nossos enfermeiros, porque, nessa crise, as pessoas não sabem como chegar ao final do mês, como pagar seus salários como comprar medicamento, como comprar material", diz Mirocles Campos Veras, presidente da CMB.
É a situação das obras sociais Irmã Dulce, em Salvador, um dos maiores hospitais filantrópicos do país, onde são feitas 12 mil cirurgias por ano em diversas especialidades.
Hoje, as obras sociais têm uma dívida de R$ 24 milhões com bancos, a maior da história da instituição. Esse valor só não é mais alto porque a comunidade ajuda. Doadores espalhados pelo país colaboram com quantias a partir de R$ 10 e, somadas, essas doações chegam a R$ 5 milhões por mês. Sem esse auxílio, a crise seria ainda mais grave.
"Nós pedimos ao ministério um repasse no valor de R$ 24 milhões para cobrir o déficit, e precisamos de uma renegociação do valor do contrato, que não tem há mais de cinco anos. Já cortamos tudo que podíamos. Estamos tentando ainda reduzir o consumo de água, reduzir energia, custo com medicamento, tentar comprar o mais barato possível, que já compramos. A gente não enxerga nenhuma medida interna que vá cobrir o déficit", afirma Lucrécia Savernini, gestora de saúde da Osid.
Dona Maria Veralice não teria condição de pagar pela cirurgia que precisa fazer no joelho direito: "A maioria das pessoas não tem para onde ir, não tem para onde correr, e aqui ela abraça todo mundo. Não pode fechar, não. Nem sonhar. Não é bom nem falar", diz a dona de casa.
O Ministério da Saúde afirmou que repassa recursos mensalmente aos fundos estaduais e municipais de saúde para o custeio de serviços hospitalares - inclusive do setor filantrópico. Que em 2021 foram mais de R$ 67 bilhões. E que a gestão e o financiamento do SUS são compartilhados entre União, estados e municípios - como determina a Constituição
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