Os mais de 40 anos de pesquisa do historiador Frederico Pernambucano de Mello resultaram no livro “Estrelas de Couro: a estética do cangaço”.
A obra, que possui exemplares raros, já vendidos por cerca de R$ 1 mil, agora ganha a sua 4ª edição, revisada pela Cepe Editora, com lançamento oficial marcado, às 18h, no Museu Cais do Sertão, no Bairro do Recife.
As páginas resumem os lugares por onde o autor percorreu, colhendo registros dos remanescentes do chamado “ciclo histórico do cangaço”, ocorrido entre as décadas de 1920 e o ano de 1938, quando Lampião e os cangaceiros foram mortos - em que, na época, o conceito de "banditismo rural" já estava bem difundido. Não à toa, nasceu daí um acervo pessoal do historiador, já apresentado em outras ocasiões fora do Nordeste e mesmo do Brasil.
Ao longo dos capítulos, o livro vai descortinando a estética em questão por meio dos seus mínimos detalhes. “Grande chapéu de couro quebrado adiante e atrás, meio a Napoleão, enfeitado como uma rosa encarnada, e de lado barbicacho, espécie de cilha na testa (...)” diz trecho de uma descrição do cangaceiro Mané Chiquinha, de 1920, por Xavier de Oliveira.
Não só em texto, mas também em imagens que retratam o cenário. Leia-se xilogravuras de J. Borges, capas de revistas, pinturas e inúmeras fotografias, que registram itens como o chapéu de Lampião, máquina de costura, além de acessórios como a corda de couro usada pelos vaqueiros, crucifixo, cartucheira e luvas de vaqueiro.
“Não há muitas publicações sobre estética no Brasil. Quase sempre o que se encontra são absorções locais de temáticas estrangeiras”, afirma Frederico, destacando ainda as diferenças desta 4ª revisão. “A qualidade editorial e o tratamento feito nas imagens, além da capa nova, elaborada pelo artista Luiz Arraes, que ficou muito boa com o tamanho do livro, então adequado para a leitura. Também a ampliação de alguns aspectos e a revisão de outros”, completa.
Aliás, é o escritor Ariano Suassuna que destaca a importância da obra, através do prefácio mantido desde a primeira edição, em 2010. “E se há no cangaço um elemento épico, este é ainda exacerbado pelos trajes e equipagem dos cangaceiros, com os seus anéis e medalhas, seus lenços coloridos, seus bornais cheios de bordaduras, os chapéus de couro enfeitados com estrelas e moedas — tudo isso que se coaduna perfeitamente com o espírito dionisíaco de dança e de festa dos nossos espetáculos populares e compõe uma estética peculiar, rica e original, agora minuciosamente estudada por Frederico Pernambucano”, registrou.
Segundo o autor, o traje do cangaceiro é um dos exemplos demonstrativos do comportamento arcaico brasileiro. Ao invés de procurar camuflagem para a proteção do combatente, é adornado de espelhos, moedas, metais, botões e recortes multicores, tornando-se um alvo de fácil visibilidade até no escuro. Detalhes - de contradição - que se explicam pela crença no sobrenatural, capaz de conduzir uma missão, considerando-se protegido e inviolável.
Por ter um estilo tão único e marcante, o contexto sertanejo pode (e deve) abraçar inúmeras produções artísticas. “Eu tenho desenvolvido a tese de que as correrias do cangaço no Brasil estão fadadas a ocupar o papel que os romances de cavalaria ocuparam na Europa durante três séculos. Aquela dose de épico, na prosa ou na dramaturgia, que pode servir de inspiração”, defende Frederico, que também atua como consultor da Globoplay, para o desenvolvimento de uma série com previsão de estreia para 2023.
Serviço: Lançamento do livro "Estrelas de couro: a estética do cangaço"
Quando: 13 de abril
Onde: Mezanino do Museu Cais do Sertão, no Espaço Todo Gonzaga
Horário: 18h
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