Falta nos combustíveis e condições climáticas instáveis impactaram o valor do frete, principalmente na esfera agrícola, em 2021. O panorama atual do mercado, no entanto, já é afetado por mais um fator: a guerra na Ucrânia e a subsequente elevação do preço do petróleo, commodity exportada em grande escala pela Rússia.
O pesquisador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq Log) da USP em Piracicaba, Fernando Pauli de Bastiani, detalha ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o comportamento do setor no último ano e traz previsões para o preço do frete em 2022.
Segundo Bastiani, em 2021, a maioria dos estados brasileiros teve sua atividade de colheita concentrada em um curto período de tempo. A situação se agravou após um atraso atípico na colheita da soja na região Centro-Oeste, em especial no Mato Grosso. “Isso fez com que a pressão no sistema de transportes para retirar os produtos da fazenda fosse muito elevada”, diz. Além disso, um aumento no preço das commodities acelerou o fluxo de exportações no Brasil, incrementando a já intensa exigência pelo transporte de produtos agrícolas. Como consequência, o valor dos fretes sofreu um acréscimo de 20% a 30%.
Fora a questão da oferta e demanda, que repercute de forma imediata no valor dos fretes, o pesquisador conta que o preço elevado dos combustíveis pode resultar em consequências a longo prazo. “No final do ano, no último trimestre, o frete normalmente entra em um período de baixa. [No ano passado] isso não aconteceu.”
As sanções econômicas impostas à Rússia desde o início do conflito também poderão impactar os preços. Na última terça-feira (8), o presidente estadunidense Joe Biden proibiu as exportações americanas de petróleo, gás e energia russos, medida que modificará os níveis de inflação e a economia de vários países europeus. No Brasil, é provável que o setor da agricultura e pecuária também sofra com a alta do petróleo.
“Nesses períodos de crise, é bem difícil fazer previsões, mas logicamente há um ponto de atenção. Se nós continuarmos nesse cenário, provavelmente o preço dos combustíveis entrará em patamares muito elevados”, explica Bastiani, que continua: “Por outro lado, o governo pode anunciar pacotes para tentar conter tais aumentos. O ministro da Economia já adiantou, ontem, que poderemos ter um subsídio para frear os preços dos combustíveis e tentar não impactar tanto os custos internos do País”.
A dependência do Brasil pelos fertilizantes de exportação russa também poderá ocasionar um período crítico no setor agrícola. “Para o ciclo de inverno, que vai se iniciar agora, a maior parte dos produtores e de empresas do setor já adquiriu fertilizantes e não vai ter tantos problemas. Mas os estoques internos não vão durar até o próximo ciclo de verão.”
Questão climática: Por fim, Bastiani comenta que o clima de 2022 é significativamente oposto àquele observado no mesmo período do ano passado. “Este ano, tivemos um adiantamento muito grande da colheita do verão”, o que resultou em uma alta no preço dos fretes logo na segunda quinzena de janeiro. Além disso, entidades do setor agrícola preveem uma quebra de 30% na safra da região Sul, por questões relacionadas à estiagem. “Com certeza é a região que mais será impactada”, finaliza o pesquisador.
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