Pelo menos 32,9 milhões de brasileiros que já poderiam estar com a terceira dose de vacina contra a Covid-19 no braço ainda não apareceram nos postos de aplicação, de acordo com levantamento do Globo.
Sensação de segurança com as primeiras doses de imunização, notícias falsas, efeitos adversos das primeiras aplicações e falta de comodidade para receber o reforço são explicações dadas pelas secretarias estaduais de saúde para explicar o grande número de pessoas que ainda não receberam a dose de reforço.
Todos os estados foram consultados pela reportagem entre terça e quinta-feira da semana passada. Ao todo, dezoito secretarias estaduais responderam. No Rio de Janeiro e no Paraná, apenas as capitais disponibilizaram os dados. As demais unidades da federação não responderam ou disseram não ter as informações.
O estado com mais atrasados é também o mais populoso: São Paulo, que acumula 8 milhões de pessoas aptas à terceira dose que não apareceram nos postos, seguido pelo Pará, com 3,3 milhões, Minas Gerais, com 3 milhões, e Bahia, com 2,7 milhões. Como medida de controle da variante Ômicron, a dose de reforço deve ser dada no Brasil quatro meses após as duas primeiras aplicações, de acordo com o Ministério da Saúde.
A alta taxa de infectados no começo do ano também é apontada como fator que pode ter complicado o cenário pois, após a infecção, é preciso esperar 30 dias até receber um imunizante.
À frente da pasta da Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti avalia que existia certo apelo para as primeiras aplicações, o que passou. Ele exemplifica que, antes, muitos postavam nas redes que foram receber as agulhadas, algo mais raro nos tempos atuais. O secretário ainda diz que a falta de comodidade pode ser fator determinante para que parte da população deixe de procurar o “booster” (reforço).
— É preciso que o processo seja menos burocrático e complexo em relação às datas de vacinação e locais. Pedimos que os municípios abram os postos para vacinar qualquer pessoa, sem data específica. Está sobrando vacina e há baixa demanda — afirmou.
Alguns estados, caso do Mato Grosso do Sul e da Bahia, orientam que os municípios realizem busca ativa dos faltosos — isto é, tentem encontrar quem está em débito com a vacinação. No Tocantins, a aposta é em programas educativos a favor da imunização nas redes sociais, rádio e TV.
— Pedimos que os municípios enviem mensagens, usem carro de som e coloquem agentes para identificar quem precisa das doses. Também temos de chegar aos antivacina, que fazem nosso trabalho ser mais difícil — diz Geraldo Resende, secretário de Saúde do Mato Grosso do Sul.
Em São Paulo, a pasta diz que mantém alertas por SMS e e-mail para lembrar a data de retorno aos imunizados. Curitiba também envia mensagens por meio de aplicativo de celular.
O Espírito Santo, por outro lado, adotou um sistema de passaporte vacinal bastante abrangente, que inclui atividades como bares, restaurantes e eventos em condomínios. O comprovante deve ser baixado em um aplicativo do governo, que mostra quem está com doses em dia (ou atrasadas).
De acordo com Nésio Fernandes, à frente da pasta da Saúde capixaba e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), após a inclusão da medida, em meados de janeiro, a procura por imunizantes nos postos subiu. Tanto para primeira dose, quanto para o reforço.
— Existe uma dificuldade natural para qualquer campanha de vacinação de adultos que leve mais de uma dose. Quando você estabelece um calendário de duas, três, quatro doses, ou um cronograma de aplicação que você não diz como será no futuro, porque ainda depende do desfecho de efetividade (do imunizante), torna-se algo que tem um entendimento complexo para a população— explica Nésio.
Embora o avanço da terceira dose ainda esteja em marcha lenta, os estados e municípios já começam a discutir o que pode ser um futuro próximo da vacinação, com uma quarta aplicação. No caso do Rio de Janeiro, o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, reforça que é fundamental que os 690 mil cariocas com a carteira em atraso voltem aos postos o mais rápido possível para concluir o esquema, sobretudo diante de um cenário de alta circulação do vírus. Enquanto faz esse pedido à população, a pasta olha adiante e discute com o governo federal como deverá ser o que eles chamam de “ segundo reforço”.
De acordo com Soranz, a ideia da prefeitura do Rio, por enquanto, é ofecer a quarta dose um ano depois da terceira, num esquema semelhante ao da vacinação contra a gripe.
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