"PL do Veneno" causará "danos irreparáveis", alerta Fiocruz em nota enviada aos senadores

17 de Feb / 2022 às 22h00 | Variadas

Em nota enviada aos senadores, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chamou a atenção para os danos a serem causados pelo chamado “PL do Veneno” em caso de aprovação do texto pelo Senado. A medida foi provada pela Câmara dos Deputados na semana passada, quarta-feira (9) e segue agora para apreciação dos senadores.

Os integrantes do Grupo de Trabalho (GT) Agrotóxicos e Saúde da autarquia afirmam, entre outras coisas, que a proposta trará “prejuízos para o ambiente e à saúde da população” e “danos irreparáveis aos processos de registro, monitoramento e controle de riscos e dos perigos dos agrotóxicos no Brasil”.

Patrocinado pela bancada ruralista, o texto que tramita no Congresso Nacional como Projeto de Lei (PL) 6299/2002 gerou protestos não só da oposição, mas também de diversos setores, como movimentos populares e organizações civis que atuam na defesa do meio ambiente.


Do ponto de vista do conteúdo, o PL flexibiliza as regras de aprovação de pesticidas e acumula no Ministério da Agricultura (Mapa) as diferentes decisões que tratam da liberação desses produtos.

Atualmente, a cadeia de aprovação de agrotóxicos envolve ainda outros órgãos, como o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O argumento da Fiocruz

No documento enviado nesta pela segunda-feira aos senadores, a Fiocruz diz que, ao promover essa flexibilização, o PL “permite o registro de produtos mais tóxicos, como aqueles que causam câncer, problemas reprodutivos, distúrbios hormonais e para o nascimento”.

Também afirma que a iniciativa tende a transformar o país em uma referência mundial de venenos mais tóxicos, já que boa parte dessas substâncias já foi vetada em outros países por conta dos riscos que oferecem. “Os destinos preferenciais dos produtos mais seguros para a saúde humana e para o ambiente serão aqueles países cuja regulação é mais protetiva”, argumenta.

Ao lembrar que os ministérios da Saúde e do Meio Ambiente atuam hoje na cadeia responsável pela avaliação dos venenos e têm capacidade técnica para isso, a Fiocruz diz que o PL “usurpa” o poder de decisão das duas pastas ao concentrar todo o processo no Mapa.

Historicamente mais influenciado por grandes empresários do agronegócio, o Mapa tem atualmente à sua frente a ruralista Tereza Cristina, um dos principais expoentes políticos do setor e nome de confiança da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA).

“Considerando-se que o arcabouço regulatório atual prevê que a análise do registro de produtos de grande interesse agronômico e do mercado sejam considerados prioritários na fila de avaliação dos órgãos reguladores, não se justifica, para esse fim, que seja necessária a aprovação do PL e que as funções sejam deslocadas para o Mapa”, registra o GT.

Os especialistas também ressaltam que o PL enfraquece as ações do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente as que tratam de “monitoramento e vigilância da água, da qualidade dos alimentos, dos ambientes de trabalho e das populações expostas aos agrotóxicos”.

Outro aspecto lembrado pelo GT da Fiocruz é a retirada de poder de estados e municípios para que estes criem legislações próprias de caráter mais protetivo sobre o que ficará determinado pelo PL em caso de aprovação do texto.

A autarquia afirma que, ao fazer isso, o PL desconsidera aspectos como as características de cada território, o perfil populacional e a estrutura da rede de saúde para absorver a demanda relacionada a doenças causadas por agrotóxicos.

Ao mencionar evidências científicas sobre os riscos dos agrotóxicos, a Fiocruz diz no documento que irá enviar aos senadores o “Dossiê contra o pacote do veneno e em defesa da vida”, produzido por cientistas e outros atores.

A fundação também destaca sua própria experiência de décadas nos processos de pesquisa, formação e vigilância sobre a utilização de venenos no país.

“A expertise acumulada ao longo de décadas de atuação nos permite afirmar que o PL irá impor graves retrocessos à sociedade, ampliando a contaminação ambiental e a exposição humana aos agrotóxicos, e que podem se materializar em adoecimento e morte da população, em especial daqueles em maior situação de vulnerabilidade.”

Veja como votou cada deputado da bancada baiana, de acordo com lista divulgada pelo Congresso em Foco:

Abílio Santana (PL-BA) – Sim
Adolfo Viana (PSDB-BA) – Sim
Afonso Florence (PT-BA) – Não
Alex Santana (PDT-BA)
Alice Portugal (PCdoB-BA) – Não
Antonio Brito (PSD-BA) – Sim
Arthur O. Maia (DEM-BA) – Sim
Bacelar (Podemos-BA)
Cacá Leão (PP-BA) – Sim
Charles Fernandes (PSD-BA) – Sim
Claudio Cajado (PP-BA) – Sim
Daniel Almeida (PCdoB-BA) – Não
Elmar Nascimento (DEM-BA) – Sim
Félix Mendonça Jr (PDT-BA) – Não
Igor Kannário (DEM-BA) – Sim
João C. Bacelar (PL-BA) – Sim
Jorge Solla (PT-BA) – Não
José Nunes (PSD-BA) – Sim
José Rocha (PL-BA) – Sim
Joseildo Ramos (PT-BA) – Não
Leur Lomanto Jr. (DEM-BA) – Não
Lídice da Mata (PSB-BA) – Não
Marcelo Nilo (PSB-BA) – Não
Márcio Marinho (Republican-BA)
Mário Negromonte Jr (PP-BA) – Não
Otto Alencar (PSD-BA) – Não
Pastor Isidório (Avante-BA) – Não
Paulo Azi (DEM-BA)
Paulo Magalhães (PSD-BA) – Sim
Professora Dayane (PSL-BA) – Sim
Raimundo Costa (PL-BA)
Ronaldo Carletto (PP-BA) – Sim
Sérgio Brito (PSD-BA) – Sim
Tia Eron (Republican-BA)
Tito (Avante-BA) – Sim
Uldurico Junior (PROS-BA) – Sim
Valmir Assunção (PT-BA) – Não
Waldenor Pereira (PT-BA) – Não
Zé Neto (PT-BA) – Não

Redação redeGN

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