A última década foi de estiagens que castigaram o leito e quase fizeram secar um dos mais importantes rios do país. Mas as chuvas de dezembro e janeiro em Minas Gerais e no Oeste da Bahia recuperaram o São Francisco.
A chuva dos últimos meses também serviu para trazer alívio e mudar a cara de um dos maiores rios do país.
É no encontro com o Atlântico que o São Francisco mostra toda a sua força. Água doce, que veio das chuvas, se misturando a água do oceano depois de percorrer três mil quilômetros da nascente, em Minas Gerais, até a foz, na divisa de Sergipe com Alagoas. E pela primeira vez, Alice, de 8 anos, sanfoneira de Juazeiro da Bahia, olha para o Velho Chico cheio.
"Acho ele muito lindo assim, cheio, é a primeira vez que eu vejo ele assim bem cheio d'água, eu acho que ele fica com mais vida", conta Alice Dangelo Carvalho, sanfoneira.
Lagos abastecidos, comportas abertas nas represas. Só assim para a Joselma e o Nino voltarem a ver tanta água nas cachoeiras de Paulo Afonso - a última vez foi em 2009.
"Ê meu rio São Francisco, cada trecho tem a sua história, do alto a baixo, nenhum trecho fica de fora", relata a guia de turismo Joselma Rodrigues.
"Ter as águas do São Francisco voltando a correr pelas cachoeiras, torna esse espetáculo mais completo e mais bonito de se visitar, de se ver e se vivenciar", diz Nino Rangel, secretário de turismo de Paulo Afonso (BA).
A última década foi de secas severas que castigaram o leito e quase fizeram secar um dos mais importantes rios do país.
"A pior crise do São Francisco foi em 2014, quando a vazão em Minas chegou a 220 metros. Quase seco, quase que o rio é cortado num trecho de 39 quilômetros", ressalta o ambientalista Jackson Borges.
As chuvas de dezembro e janeiro em Minas Gerais e no Oeste da Bahia recuperaram o São Francisco, transformando a realidade rio abaixo.
Em alguns lugares, o nível do Velho Chico subiu quase quatro metros, cobrindo pedras e ilhas de areia que atrapalhavam a navegação. É um rio que voltou a ganhar força depois de 12 anos sofrendo com a falta de chuvas.
Só tão cheio assim é que é possível descobrir alguns lugares, como um pequeno cânion, com profundidade de mais de seis metros, onde a água fica paradinha entre os paredões da caatinga. E um dos muitos berçários de reprodução de peixes que estavam ameaçados de extinção. No futuro haverá fartura e um reforço na renda da população.
"Vai alimentar uma pesca extrativa, pelo menos daqui a dois anos nós vamos ter fartura de peixes e de espécies nativas", finaliza Emerson Soares, pesquisador da Universidade Federal de Alagoas.
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