É muito difícil ter a percepção exata de até onde pode chegar o nível de desequilíbrio dos conceitos emitidos por autoridades de órgãos federais integrantes do Sistema de Saúde comandado pelo Ministério da Saúde, logo de um país altamente infectado pelo COVID-19, e que o próprio Governo intermedia e custeia a compra de milhões de doses de vacinas.
De repente, a CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) emite uma NOTA TÉCNICA Nº 2/2022 SCTIE/MS, em 21/01, contrariando todas as afirmações científicas feitas pela ciência no Brasil e no Mundo, quanto à inegável eficiência da vacina! O pior não é negar o seu valor preventivo contra o vírus para toda uma população, mas afirmar que a dupla “Hidroxicloroquina e a Cloroquina” tem melhor função, fato refutado em todo o mundo, visto que tais medicamentos são eficazes para outras finalidades curativas e não para o COVID-19!
A explícita postura de oposição à vacina, sempre assumida publicamente pelo Presidente da República, serve de convencimento apenas aos seus seguidores mais fiéis, porque, para os demais, há uma clara suspeita, inclusive, de que em cada etapa das doses de vacinação, S. Excelência tenha sido o privilegiado em realizar o seu procedimento com prioridade e sem fila de espera, na Clínica presidencial existente no Palácio Alvorada, sua residência oficial... Os demais argumentos negacionistas utilizados em “lives” ou entrevistas, servem como tese de um discurso político inútil e imaturo, mais voltado para produzir riso...
Preliminarmente, já pensava em deixar consubstanciado nesse texto, enquanto o elaborava, a minha certeza de que a qualquer momento os senhores do Ministério da Saúde, ou até o próprio Presidente, voltariam atrás na brutal tese, atitude que não representaria qualquer surpresa ou novidade, pela frequência com que tal insegurança e instabilidade acontecem. Não precisou esperar o fecho da matéria, porque já em 26/01 outra NOTA foi divulgada pedindo desconsiderar uma tal Tabela 1 por erros identificados na comparação indevida da Hidroxicloroquina com a Vacina! Difícil de aguentar isso! Com vacilações desse tipo, lá se vão para quase 4 anos, e pretendendo mais 4!
Confesso que, no íntimo, há uma sensação de que tanto devaneio tem vinculação com os delírios pré-eleitorais, quando a pressa em estar sempre em evidência na mídia induz os cabeças ocas ao descontrole verbal. Isso é tão verdadeiro, que não incomoda se uma televisão de linha política contrária esbanja críticas nos seus jornais e editoriais, pois o que interessa é que “falem mal de mim, mas falem”! Diga-se de passagem, lição bem aprendida!
No último dia 25/01, tristemente foi anunciada a morte na Virgínia, EUA, do mago intelectual da campanha eleitoral do atual Presidente, o Escritor e Filósofo Olavo Carvalho, brasileiro que há muitos anos residia nos Estados Unidos da América. Como era um pensador que, também, combatia o uso da vacina e veio a falecer infectado pelo COVID-19 – segundo a sua filha -, é de se esperar que o lamentável episódio venha inspirar uma reavaliação dessas convicções retrógadas, e que conceitos mais racionais sejam construídos no País.
O que passa uma leve sensação de confiança e conforto, é ver que a população acredita e por isso madruga nas filas de espera para realizar o seu desejo de cumprir a vacinação, e assim se proteger de um vírus maldito e invisível. Quanta alegria tem se percebido no olhar das crianças que acabam de se vacinar, extravasando fé e expressão de mais segurança em poder frequentar as aulas escolares! Não é que as vacinas imunizam 100% da possibilidade de contágio, mas inibem os riscos de maior gravidade.
O que mais surpreende é que tendo um Ministro da Saúde de formação médica, era de se esperar informações médico-científicas mais convincentes e embasadas, diferentemente dos posicionamentos leigos do Presidente, que destoam da normalidade defendida pelas entidades científicas do Brasil e do Mundo.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público - Aposentado do Banco do Brasil – Salvador - BA.
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