Um dos responsáveis por acompanhar e tentar prever as chuvas e inundações que cada vez mais têm afetado e colocado em risco a vida de muitos brasileiros, o climatologista peruano José Marengo — coordenador geral do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) — diz que não é preciso olhar para cima ou esperar o futuro para se dar conta da emergência climática que vivemos: o clima já está mudando no presente.
E a tendência é que os eventos extremos se tornem cada vez mais extremos e corriqueiros. “É um problema do que seria o clima do futuro. Não tanto um clima quente, seco, frio ou chuvoso, mas um clima extremo”, diz Marengo, que é um dos responsáveis pelos relatórios sobre o Brasil do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Ele também está entre os mil cientistas de clima mais influentes do planeta segundo classificação da Agência Reuters, que selecionou apenas cinco cientistas no Brasil e sete na América do Sul.
“E isso é perigoso. Porque esse clima extremo aumenta o risco de desastres naturais associados a extremos de chuva, de seca etc.” Na avaliação do cientista, mais que a mitigação dos efeitos que levam ao aquecimento global e às mudanças climáticas, precisamos nos adaptar a um planeta inevitavelmente mais quente e aos desastres climáticos associados a essa mudança.
“O que mata as pessoas não é a chuva, é o desastre natural consequência de uma chuva intensa para as populações que vivem em áreas vulneráveis. É isso que temos que pensar. Se vai chover mais, temos que começar a reduzir a vulnerabilidade nas áreas periféricas, nas áreas que pessoas morrem, para que, ainda que a chuva aumente no futuro, não tenhamos mais fatalidades como as que estão acontecendo agora em Minas e no sul da Bahia.”
Marengo faz um alerta: a agenda ambiental é algo de que precisamos falar o tempo todo. Porque o meio ambiente está sempre mudando.
No início de janeiro, tivemos recordes de calor históricos no Sul do Brasil, fruto de uma onda de calor que já deixou parte da Argentina sem energia elétrica. Em Minas Gerais e no sul da Bahia, a população sofre com chuvas muito acima da média, para citar apenas algumas das regiões do país com catástrofes climáticas. Podemos relacionar esses fenômenos às mudanças climáticas?
É difícil atribuir um evento isolado às mudanças climáticas. É algo que, sim, já está acontecendo, que estamos detectando nos últimos 50, 60 anos, não só aqui no Brasil como em todo o mundo. Os extremos climáticos estão virando mais extremos. O que significa isso? Que podemos ter uma maior frequência de eventos de chuva, por exemplo. Dias com chuva isolada de 100, cento e poucos milímetros, que levam quatro horas, como também podemos ter mais ondas de calor, menos ondas de frio. Todas essas irregularidades tendem a complicar a situação, amplificar a magnitude e a frequência destes fenômenos.
É claro que precisamos fazer estudos de atribuição para ver se esses extremos estão associados à mudança climática. Quando se fala em mudança climática, se fala de influência humana, basicamente.
Em janeiro de 2020, tivemos fortes chuvas em Belo Horizonte que mataram 67 pessoas. Tem estudos que mostram que as mudanças climáticas contribuíram em pelo menos 70% para que esse fenômeno fosse intenso e que esse evento não teria acontecido sem a ação humana. As chuvas acontecem normalmente, são um processo natural. Mas as atividades humanas fazem com que esse processo natural seja mais intenso e mais frequente.
Entrevista completa confira https://apublica.org/2022/01/2022-e-clima-nao-precisamos-esperar-o-futuro-o-clima-ja-esta-mudando-diz-pesquisador/
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