Com esperança de ver jorrar as nascentes que há anos deixaram de verter água, a comunidade da Serra dos Morgados, no município de Jacobina (BA), foi sede do lançamento do projeto de recuperação ambiental, realizado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF).
O encontro aconteceu de modo presencial na igreja da comunidade da Serra dos Morgados e reuniu parte da população que será atendida.
O projeto é resultado da seleção publicada através do Edital de Chamamento Público nº 02/2019 para a seleção de projetos com foco na sustentabilidade hídrica no semiárido. O edital teve como público-alvo municípios, associações, cooperativas, ONGs, prefeituras, dentre outros que não possuem fins lucrativos.
O requisito principal exigido na apresentação das propostas foi a compatibilização entre uma das três linhas definidas no Plano de Recursos Hídricos (PRHSF 2016-2025): fornecimento e instalação de cisternas para consumo humano e/ou produção rural; implantação de painéis fotovoltaicos e estruturas acessórias para geração de energia em comunidades rurais, bem como a construção de barragens subterrâneas, barreiras trincheiras ou outras estruturas para recarga artificial de aquíferos.
A Serra dos Morgados será contemplada com a construção de um viveiro com capacidade aproximada de 60.000 mudas/ano, podendo ser ampliado com outros módulos, conforme a necessidade de produção, construção de três barragens subterrâneas, 15 barramentos de contenção de sedimentos e 15 cisternas de procuração de 52 mil litros. Além disso também serão realizadas oficinas de capacitação e educação ambiental com os moradores da região.
Orçado em R$ 946.172,21, o recurso aplicado na execução das ações é oriundo da cobrança pelo uso da água bruta da bacia do Rio São Francisco, financiado integralmente pelo CBHSF. A empresa executora, Joamar Ltda, contratada por licitação pelo Comitê através da Agência Peixe Vivo, terá o prazo de 10 meses para conclusão das obras. “Uma das preocupações do Comitê é que o projeto seja sustentável e continuado, atendendo a população e aos moradores”, explicou o coordenador técnico da Agência Peixe Vivo, Paulo Sérgio da Silva.
O Secretário do CBHSF, Almacks Luiz, lembrou a importância da participação da comunidade durante todo o trabalho de realização das obras. “A gente lembra que os moradores são responsáveis também por fiscalizar e exercer a governança, ou seja, a população deve estar atenta, verificando se o que está escrito no projeto foi construído. Este é um projeto demonstrativo que mostra a viabilidade dele para que outras instâncias, sejam elas, municipal, estadual ou Federal, entendam que é possível fazer obras sem a necessidade de grandes montantes de recursos e com a qualidade necessária para atender a demanda popular”, alertou.
O Coordenador da Câmara Consultiva Regional do Submédio São Francisco, Cláudio Ademar, afirmou que o projeto é de grande importância para a região. “Fico triste quando a escuto que as nascentes estão morrendo, uma situação que acontece em todo o país. Estamos atentos para que este projeto obtenha sucesso e a partir dele, a Serra dos Morgados consiga revitalizar, cuidar e proteger suas nascentes e fontes hídricas”.
Moradora da Serra dos Morgados, a agente de saúde e produtora de café artesanal, Elizabete Cruz Martins está confiante. “Estou muito feliz com este momento e vamos fiscalizar, acompanhar, ser encrenqueiras porque a empresa faz o projeto, mas somos nós que iremos ficar aqui e eu quero o melhor para minha família, para minha comunidade”.
DEFICIÊNCIA HÍDRICA: De acordo com a presidenta da Associação de Mulheres da Serra dos Morgados, Edna Maria de Almeida Cruz, há pelo menos 10 anos, a situação que já apontava a redução na disponibilidade de água, se agravou ainda mais. “Percebemos que os nossos recursos hídricos estavam em baixa desde que foram perfurados os primeiros poços artesianos, porque antes disso a Serra dos Morgados tinha água presente em qualquer lugar, nas nascentes, no Rio Estiva que jorrava o tempo todo mesmo pequeno, mas nunca ficava sem água. Era um rio permanente, mas então a água foi baixando até secar totalmente tanto no Rio Estiva, quanto em boa parte das nascentes”, disse.
Edna Maria informou que a situação acendeu um alerta. “Precisamos fazer algo para recuperar e refazer esse sistema hídrico da comunidade. Agora, a nossa esperança é que aumente a demanda de água porque água é vida. Estamos apostando nesse projeto, confiando em Deus e nas ações humanas”, finalizou.
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