O rádio bate recordes de audiência durante a pandemia, ao mesmo momento em que passa por uma profunda transformação com o avanço do áudio digital. As notícias mais atualizadas, a prestação de serviço e a proximidade com o ouvinte ganharam novas camadas com a transmissão digital que se espalhou dos aparelhos em casa e dos carros para os smartphones e smartspeakers,e os podcasts que permitem ouvir comentários e reportagens onde e quando quiser.
O rádio passa por uma profunda transformação diante do avanço do áudio digital. Para Washington Olivetto, publicitário, tanto o rádio quanto o podcast que se popularizou nos últimos anos possuem capacidade singular de lidar com a instantaneidade e a imaginação do público se comparado aos demais meios de comunicação.
"O rádio continua vanguarda por ter duas características imbatíveis: a instantaneidade e a capacidade de mexer com a imaginação das pessoas. Esse tipo de imaginação o rádio sempre vai ter e o podcast também. E isso bem produzido tem tudo para ser cada vez mais sucesso, seja para os anunciantes que apostaram nisso, seja para as agências que precisam de prestígio para trabalho criativo."
Márcia Menezes, head de Jornalismo Digital da Globo, destaca que o formato do áudio traz “uma temperatura do que está acontecendo” e mistura, no jornalismo, a informação com a “emoção e a verdade”.
Isso permite, avalia, que o mercado teste programas em áudio com formatos de curta e longa duração, a depender do consumo. A revolução trazida pelos podcasts, inclusive, expõe o potencial do áudio digital no mercado brasileiro:
"A voz traz o componente do humano, da verdade. Fizemos uma pesquisa em 2020 no Brasil que mostra que os novos formatos de áudio entram muito nas áreas urbanas, especialmente Sudeste e capitais do Nordeste. Ele captura - seja jornalismo ou entretenimento - várias gerações, especialmente entre os jovens a partir de 15 e 16 fala muito com a população brasileira, com a classe C."
Na avaliação de Marcelo Kischinhevsky, professor e pesquisador de Rádio da UFRJ, o rádio se adaptou melhor ao ecossistema digital do que a televisão aberta no país, que “demorou a entender o novo contexto de concorrência''.
Ele avalia que o rádio está cada vez mais inserido na lógica multiplataforma ao passo em que está presente no smartphone, nas mídias sociais, na TV por assinatura e até nos smart speakers (assistentes de voz). Uma das próximas tendências para os próximos anos, diz, será o formato de “rádio híbrido”:
"A BMW, por exemplo, fechou um acordo para ter equipado nos veículos de fábrica o rádio híbrido, que inclui o rádio digital via internet e o analógico. Você clica no painel do seu carro e ele busca nos dois formatos o melhor sinal e coloca pra tocar pra você. Além disso, tem outras coisas sendo estudadas no rádio híbrido que envolve a escuta não linear, em que o usuário pode ter acesso a listas de músicas que vão tocar na rádio e pular o que não quer ouvir ou ouvir fora daquela ordem, podendo voltar ao fluxo normal à qualquer momento. São algumas das novidades a nível internacional."
Para Washington Olivetto, uma das frentes que ainda precisam ganhar corpo no Brasil é o investimento publicitário em áudio digital. Há vasto potencial de crescimento na área, diz ele: "Historicamente, o que fez o sucesso da publicidade brasileira foi a boa relação entre agências, veículos e anunciantes. Mais do que nunca, agora com o rádio, podcasts e a possibilidade de alguns assumirem características visuais, é fundamental que agências e anunciantes de veículos estejam unidos para a gente começar a fazer coisas cada vez de maior qualidade."
Participam do debate: Marcelo Kischinhevsky, professor e pesquisador de Rádio da UFRJ; Márcia Menezes, head de Jornalismo Digital da Globo; e Washington Olivetto, publicitário e fundador da W/GGK, da W/Brasil e da WMcCann. A mediação é de Thiago Barbosa, gerente de produtos digitais da CBN.
O debate acontece no Palco do Conhecimento, espaço organizado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico e pela rádio CBN, dentro do Rio Innovation Week.
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