CASO BEATRIZ ANGÉLICA: "a caminhada deu frutos, começamos a ter justiça", afirma Grupo Todos por Beatriz

17 de Jan / 2022 às 08h00 | Policial

A coordenadora do Grupo Todos por Beatriz, a empresária Deniliria Cavalcante, postou em suas redes sociais "que os frutos da caminhada começam a ser colhidos e a justiça por Beatriz começa a ser feita". Ela se refere a prisão do acusado de ter matado a menina Beatriz Angélica no dia 10 de dezembro de 2015.

Deniliria é membro e coordenadora do Movimento Todos por Beatriz e participou da caminhada, os mais de 700 km, entre Petrolina e a Recife, protesto que fo ficou conhecido nacionalmente como a Caminhada justiça por Beatriz.

O homem suspeito de ter matado a facadas a menina Beatriz Angélica, numa escola particular em Petrolina, em 2015, disse em depoimento que o assassinato não foi premeditado e que só atacou a garota depois que ela começou a gritar, para silenciá-la. O Fantástico e o g1 tiveram acesso, com exclusividade, o conteúdo da confissão de Marcelo da Silva, de 40 anos, que contou detalhes do crime à Polícia Civil

Ontem, domingo o Caso Beatriz teve mais uma vez repercussão nacional. Confira na integra texto reportagem do Fantástico apresentado pela Rede Globo Televisão:
Menos de duas semanas depois do Fantástico mostrar a luta da mãe da menina Beatriz Angélica para cobrar respostas pelo assassinato da filha, que ocorreu há seis anos, em Petrolina, no sertão de Pernambuco, as autoridades anunciaram ter identificado o autor do crime.

O assassino, segundo a polícia, é Marcelo da Silva, de 40 anos. Ele foi identificado por meio do material genético encontrado no cabo da faca usada no crime. A polícia já tinha esse material genético desde 2015, mas só agora ele foi incluído no banco de perfis genéticos do estado. Segundo a perita Sandra Santos, que esteve à frente da polícia científica durante a investigação do caso, isso aconteceu porque até então o material não cumpria os requisitos necessários para a inclusão no banco.

O depoimento foi dado a dois delegados da força-tarefa responsável pela investigação do caso, logo depois de o DNA contido na arma do crime apontar que ele seria o assassino.

Imagens de câmeras de segurança mostram Marcelo, no dia do crime, em frente ao colégio onde Beatriz estava. Inicialmente, ele negou aos policiais que era a pessoa nas imagens, mas depois admitiu e relatou que tentou roubar uma moto e que estava sem dinheiro para voltar para casa.

"Aquela mexida na moto... Eu não sei se é o instinto de ladrão ou era a vontade de ir para casa. Se aquela moto pegasse, eu iria para casa. Se ela pegasse, tinha evitado essa tragédia aí", declarou.

Ele relatou, ainda, não saber ao certo onde conseguiu a faca e que não sabia estar entrando em uma escola. "Eu pensei que estava entrando numa igreja. Aí , quando eu fui entrar, eu fui barrado por alguém que eu acho que viu meu estado de embriaguez", disse.

Depois de ser barrado, ele teria voltado ao colégio, desta vez para beber água. Segundo ele, foi nesse momento que encontrou Beatriz perto do bebedouro, que ficava próximo ao depósito onde o corpo dela foi encontrado. A menina teria percebido que ele carregava uma faca.

"Ela disse 'você está com uma faca aí'. Aí eu gritei 'cala a boca'. Aí eu, com medo de ela correr, disse 'entra aí'. Aí botei ela pra dentro do quarto. Eu disse 'fique caladinha, não saia, não, enquanto eu não for embora. Eu já estou indo embora, fique bem quietinha'. Aí sabe o que aconteceu? Ela começou foi a gritar", afirmou, em depoimento.

Marcelo disse, então, que teria ficado com medo de descobrirem que ele estava com uma faca por causa dos gritos da menina e, por isso, teria decidido atacá-la.

Em entrevista para o Fantástico, os pais disseram acreditar que Marcelo realmente seja o assassino de Beatriz, mas afirmaram que muitas perguntas ainda precisam ser respondidas.

"Ela não faria isso. Beatriz, ela não iria confrontá-lo. Beatriz, mesmo que ele tivesse com uma arma na mão, ela é muito inocente, ela não se sentiria em um local de risco. Ela não saberia se estava ali num momento de risco. Eu tenho convicção que Beatriz foi beber água e ele abordou ela de forma brusca e tirou a vida dela", declarou a mãe da menina, Lucinha Mota.

Lucinha afirmou à reportagem que não está sabendo lidar com os últimos detalhes divulgados pela força-tarefa responsável pelas investigações.

"Eu estou me segurando, estou controlando meu lado emocional nesse momento. Eu coloquei minhas lágrimas, minha dor numa caixinha para ser racional e tentar colaborar o máximo possível na investigação", disse à TV Globo.

Ainda no interrogatório, Marcelo contou que, antes de sair da escola, teria sido visto lavando as mãos cheias de sangue no banheiro e teria dito ao jovem que tinha se cortado. Depois disso, ele relatou que foi se lavar em um rio onde teria conseguido outras roupas com mendigos.

Marcelo da Silva assumiu ter matado a menina depois que a Polícia Científica confirmou que o DNA dele era o mesmo que estava na faca deixada no tórax da criança. Em entrevista exclusiva à Globo, neste sábado (15), a advogada que representa o suspeito, Niedja Mônica da Silva, afirmou que o cliente chora ao falar do caso e que quer pagar pelo que fez.

Depois que ele viu o drama da mãe, ele disse que quis contar para aliviar o coração dela, para ficar em paz. Ele usa essa expressão: 'eu quis aliviar o coração dela para ela ficar em paz. Que realmente o culpado sou eu'", disse a advogada. Marcelo da Silva já cumpre pena por estupro de vulnerável, ameaça e cárcere privado. Ele estava preso desde 2017 no presídio de Salgueiro, no Sertão, e foi transferido para um presídio no Grande Recife na quinta-feira (13).

Ele foi colocado numa "cela disciplina", que está sob a vigilância de agentes do Grupo de Operações e Segurança, subordinado à Secretaria de Ressocialização.

No interrogatório, o delegado perguntou a Marcelo se ele teve alguma intenção de cometer algum crime sexual contra a menina. "Não, senão eu ia praticar", respondeu.

Novos depoimentos e perícias: O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) requisitou novos depoimentos e perícias. Apenas após o resultado deles é que deve decidir se realmente fará a denúncia contra Marcelo da Silva.

"A polícia vai realizar novas diligências, dentre as quais as diligências requisitadas pelo Ministério Público. De nossa parte, continuamos fazendo um trabalho paralelo de acompanhamento das investigações e de revisitação de todas as provas constantes no inquérito policial", disse a promotora criminal Ângela Cruz.

"A polícia relata, nos envia e a partir daí, o Ministério Público, o Grupo de Atuação Criminal Especial fará análise dos autos para, finalmente definir qual a posição [vamos tomar]", declarou a promotora.

NOTA: Em nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que caso segue sob sigilo e "está dando continuidade às diligências solicitadas" pelo MPPE e compilando todas as provas necessárias para conclusão do inquérito policial.

O anúncio da autoria do crime ocorreu seis anos, um mês e um dia depois do assassinato da menina Beatriz (veja vídeo acima). Também aconteceu 15 dias depois que os pais da garota percorreram mais de 700 quilômetros a pé, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.

A peça-chave para o esclarecimento do caso foi a faca usada no crime. Os peritos coletaram o DNA no cabo da arma, deixada no local do homicídio. As amostras estavam misturadas ao sangue de Beatriz.

O DNA de Marcelo da Silva já estava no banco genético do estado desde 2019, quando foi feito um mapeamento de criminosos condenados.

A ex-gerente da Polícia Científica, Sandra Santos chefiou a corporação durante sete anos e saiu do cargo dias antes do anúncio da descoberta da autoria do crime (veja vídeo acima). Ela disse que o DNA existente na faca só pode entrar no banco genético do estado após um aprimoramento tecnológico do material, já que, na época do crime, o estado não tinha a estrutura necessária.

Em 2021, foi obtido um "padrão ouro" do DNA encontrado na faca, esse material também foi incluído no banco genético do estado. Assim que o DNA contido na faca entrou no sistema, Marcelo da Silva foi apontado como compatível.

Por causa disso, ele foi submetido a outro recolhimento de material genético e, após diversos procedimentos, foi confirmado como o suspeito.

De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS), Marcelo da Silva contou, em depoimento, que entrou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora para conseguir dinheiro. Ele, que era morador de rua, usava uma faca para se defender. No depoimento para a polícia, o suspeito teria contado que, ao vê-lo, a menina Beatriz se desesperou e, para silenciá-la, ele teria a esfaqueado. Para os pais da menina Beatriz, a motivação apontada pela SDS "não convence".

A mãe da menina, Lucinha Mota, contou que o colégio era muito rígido, tinha protocolos de segurança e que, por isso, não acredita que a garota tenha sido morta de forma aleatória, simplesmente por ter encontrado o criminoso.

 

Redação redeGN Foto Redes Sociais

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