O desmonte da Caixa Econômica Federal coloca em risco os programas sociais no Brasil, país que vive um dos momentos mais críticos de sua história. São tempos difíceis do ponto de vista social e econômico. A situação é dramática e atinge um contingente de mais de 30 milhões de pessoas na completa miséria.
A Covid-19 agravou ainda mais o abismo entre parcelas da população brasileira, tirando o emprego, a moradia e o alimento de milhões de famílias. Em meio a muitos desafios, a Caixa completa 161 anos com um passado de histórias positivas e o futuro sob ameaça.
É notório que o Brasil precisa da Caixa pública, forte e social. O banco é o principal agente das políticas públicas do governo brasileiro. É imprescindível para o desenvolvimento econômico e social. Uma das prioridades da instituição é levar desenvolvimento para todas as regiões. São agências nos bairros e municípios mais distantes, além das agências barco, atendendo pelo menos mais de 84 milhões de cidadãos Brasil afora.
A Caixa social é Caixa pública. Patrocina habitação, saneamento, desenvolvimento urbano e programas sociais. Ao assim proceder, o banco ajuda a propagar a boa ideia de que o crescimento de uma economia depende, fundamentalmente, de financiamento público. Hoje, a Caixa e outros bancos públicos ajudam a regular o mercado financeiro, geram empregos direitos e indiretos de financiamento de longo prazo e executam políticas públicas em favor da população.
Como não é mercadoria, mas um bem público, a Caixa deve ser vista no horizonte democrático de cidadania do nosso país. Sem este banco social e público, para fomentar o desenvolvimento, a pobreza tende a aumentar muitíssimo.
O processo de defesa do papel social da Caixa precisa vir acompanhado de medidas de gestão que reafirmem condições dignas de trabalho, valorização dos empregados e nenhum direito a menos. Combatemos as metas desumanas, as seguidas medidas de reestruturações, as jornadas exaustivas e extrapoladas. Defendemos mais contratações para suprir a carência de pessoal nas unidades, menos filas e atendimento humanizado para a população.
No Brasil, apenas uma mudança radical da atual política econômica será capaz de criar um ambiente de desenvolvimento sustentável, tendo a capacidade ainda de fazer com que a Caixa e os bancos públicos voltem a atuar como financiadores de setores e projetos estratégicos, para retomar uma dinâmica de ampliação da demanda agregada da economia.
O fortalecimento da democracia, o desenvolvimento com distribuição de renda, a valorização do trabalho e o fomento à economia para a criação de novas e permanentes vagas de empregos são marcos estratégicos da Caixa Econômica. A universalização dos direitos, uma ação histórica, é cotidianamente reafirmada através da construção de políticas públicas e afirmativas de vários setores e segmentos da sociedade.
É preciso fazer a resistência contra eventuais privatizações de partes lucrativas da Caixa. A abertura de capital das subsidiárias, por exemplo, pode reduzir em R$ 29 bilhões o lucro da Caixa nos próximos 10 anos. Esse valor corresponde ao orçamento anual do programa Bolsa Família e representa uma perda de recursos que irá comprometer importantes programas sociais do país, além de colocar em risco o futuro da própria Caixa.
Vender as subsidiárias é uma sentença de morte para o banco público.
Assim, é preciso que a sociedade se mobilize contra esse movimento. A alternativa a essa onda de privatizações é uma economia de mercado regulada. As finanças e moedas sob controle público traduzem-se em maior investimento em infraestrutura, redução rápida da pobreza e resistência a crises, sejam as conjunturais e as estruturais. A experiência da China tem ensinado muito ao resto do mundo.
Sem um banco forte, eficiente, rentável e comprometido em assistir à população brasileira como é a Caixa Econômica Federal, programas sociais e políticas públicas seriam progressivamente esvaziados, até perderem qualquer alcance significativo. Para financiar e operacionalizar esse trabalho social, é necessário que a Caixa seja preservada e fortalecida, e isso ficará difícil se suas partes mais valiosas continuarem sendo vendidas.
Combater o desmonte da estatal, portanto, não cabe apenas a seus trabalhadores: é uma missão para todos os cidadãos brasileiros.
Sergio Takemoto é presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae)
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