A Bahia enfrenta, desde o final do difícil 2021, o maior desastre climático de sua história, com inundações que atingem 109 cidades – ou seja, 26% de seus municípios –, mais de 20 mortes e cerca de 409 mil pessoas desabrigadas. Recentemente, Manaus e várias cidades do interior do Amazonas também sofreram com tempestades, ventos fortíssimos e destruição de instalações da distribuidora de energia local.
É uma situação de calamidade pública, com prejuízos gigantescos e enorme sofrimento da população, que clama por água, alimentos, colchões e medicamentos. Apesar de tamanha gravidade, não se viu nenhum partido político ou mesmo os governadores da Bahia e do Amazonas oferecerem suas cotas-parte do Fundo Partidário e/ou a destinação de parte do fundo eleitoral de 2022 para o socorro da população.
Estamos falando de dois fundos que somam R$ 5,9 bilhões, recursos que seriam extremamente importantes para ajudar na solução das mazelas provocadas pelas fortes chuvas e também resultantes da falta de aplicação de recursos em áreas que atendam a população e gerem condições de vida mais dignas para os seus cidadãos.
Diante de tamanha tragédia e sofrimento, é motivo de indignação constatar que governos e partidos políticos não se disponham a disponibilizar R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões para minimizar a desgraça de um povo que vive na mais absoluta miséria. Todos silenciam para proteger o cofre de onde sairá o financiamento das campanhas no ano eleitoral de 2022.
Quais são, afinal, as prioridades de quem governa os estados e o País ou que pretende governar a nação? O Brasil está atrasado no enfrentamento dos cinco maiores dramas sociais nacionais: a pobreza, a precariedade da saúde, o baixo nível da educação e habitação, além da violência urbana. Isto tudo tem origens conhecidas: corrupção, privilégios e impunidade.
O Brasil se tornou, a partir de 1988, um dos grandes arrecadadores de impostos do planeta, graças ao aumento gigantesco da carga tributária imposta à população. Os governantes, portanto, deveriam ter maior preocupação com os cidadãos que os elegeram, os mesmos brasileiros quem trabalha 150 dias por ano apenas para pagar impostos. Gente de carne e osso, cheia de necessidades, que deveria perguntar todos os dias: qual o destino dos impostos arrecadados?
A realidade mostra que o destino dessa arrecadação gigantesca não é o povo brasileiro, relegado ao tempo, enquanto os bilhões arrecadados estão reservados para os privilegiados (hoje nem tão poucos), os donos do poder, sempre empenhados em manter – ou ampliar – a sua condição de superioridade.
É a eles que cabe a responsabilidade de garantir bem-estar a toda a nação, e não somente a um grupo de privilegiados, que, em sua maioria, se locupletam às expensas do povo brasileiro. É ao Estado que cabe a responsabilidade de regulamentar toda a vida e saúde social, política e econômica do país, em parceria com empresas privadas, entidades de classe e sindicatos, em níveis diferentes de acordo com o momento em questão. Cabe ao Estado garantir serviços públicos e proteção à população, provendo dignidade a todos os cidadãos brasileiros, independentemente da região onde habitam.
Nesse sentido, cabe ao povo questionar por que os mandatários do Fundo Partidário não tomam a iniciativa de ajudar em momento tão crítico? Não seria essa uma forma efetiva de o pretenso candidato dar demonstração de que possui condições efetivas de cuidar dos seus eleitores? E, de outro ponto de vista, não seria ainda a melhor plataforma eleitoral? Algo a ser pensado pelos futuros candidatos aos cargos públicos em disputa no pleito de 2022. Com urgência, antes que seja tarde demais. Se a tragédia não é capaz de sensibilizá-los, nada mais o será.
Samuel Hanan é engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002).
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