Caso Beatriz: " Não acredito ainda nesta investigação nem na propositura das provas, muito menos na confissão", diz advogado

12 de Jan / 2022 às 14h45 | Policial

O advogado e jornalista, Cláudio Soares, acusou através de texto que na sua " ótica criminalista, não acredita ainda nesta investigação nem na propositura das provas, muito menos na confissão", apresentada hoje pela Secretaria de Defesa Social, sobre o Caso Beatriz. A polícia disse que prendeu o assassino da menina Beatriz.

Confira texto:

A confissão do suposto acusado e o exame de DNA não são suficientes para apontar o verdadeiro culpado. É preciso demonstrar outras evidências que corroborem e confirmem os autores do crime. É peremptório demonstrar também a motivação do crime. É absolutamente distinto este caso.

E a direção do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde Beatriz foi morta? No mínimo, poderia ter sido omissa. Por que a cena do crime foi adulterada e as filmagens apagadas? Quando as autoridades policiais não chegam a um consenso, vislumbram-se as lambanças de sempre.

Passaram-se seis anos sem a elucidação do caso. Houve uma verdadeira profanação em matéria de coleta de provas no local do crime, imagens de câmeras apagadas e depois, supostamente, recuperadas. Uma investigação policial que trocou de delegado seis vezes.

Em fevereiro de 2016, o primeiro delegado responsável pelas investigações, Marceone Ferreira, disse que não descartava a participação de mais de uma pessoa no crime. Pessoas investigadas sem o mínimo de critério técnico ou jurídico. Este caso está uma verdadeira desordem e teratológica policial. Ninguém apresentou provas robustas e elementos convincentes.

E este ano, coincidentemente período eleitoral, se finaliza numa versão estranha: comparação de material genético e uma suposta confissão. Eu fico me perguntando: como ocorreu a logística para essa esquisita confissão? Por que o suspeito resolveu confessar somente agora? Quem acompanhou essa duvidosa confissão? É espantosa a mudança de delegados no referido caso.

Em março de 2020, a investigação da morte de Beatriz Angélica já havia mudado de comando pela quarta vez. A delegada Polyanna Néry deixou o caso, no dia 16 de março daquele ano. O caso seguiu sendo investigado pelos delegados Isabella Cabral Fonseca Pessoa e João Leonardo Freire Cavalcanti. O crime completou seis anos, em 2022.

Eu, na minha ótica criminalista, não acredito ainda nesta investigação nem na propositura das provas, muito menos na confissão.

*Claudio Soares - Advogado e jornalista

ENTENDA O CASO: Em coletiva de imprensa realizada, há pouco, no auditório da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS), foi detalhada a investigação que culminou na identificação de Marcelo da Silva, de 40 anos, assassino de Beatriz Angélica Mota. Segundo a SDS, ele já está preso, por conta de um crime de estupro de vulnerável.

A criança de sete anos foi encontrada morta dentro do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina, no Sertão do Estado, em 10 de dezembro de 2015. A menina foi alvo de 10 golpes de faca (e não 42, como havia sido divulgado depois do crime; a correção foi feita na coletiva) dentro de um depósito de material esportivo da escola.

"Agradecemos a todos os policiais civis e da científica que se dedicaram nesses seis anos, sem medir esforços para fazer todas as perícias e análises possíveis. Graças a isso, chegamos, com provas técnicas e científicas, ao autor do crime bárbaro", disse o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Humberto Freire.

"Com essa indicação cabal, procedemos a outras diligências. O suspeito indicado foi devidamente interrogado, confessando a prática do homicídio de Beatriz. Ele, inclusive, apresentou a narrativa temporal que coube perfeitamente ao que vinha sendo investigado. Vários exames complementares de confirmação foram feitos até chegar ao laudo final. A Força Tarefa permanece trabalhando para compilar tudo que é necessário para ser encaminhado ao Ministério Público", detalhou.

"O acusado queria dinheiro para fugir da cidade. Pela narrativa, ele disse que fez aquilo porque 'foi a pessoa que encontrou'. Pelo susto dela, ele disse que decidiu silenciá-la com as facadas", explicou o secretário.

MOTIVAÇÃO: Também foi detalhada a suposta motivação para o crime. "Temos a motivação alegada. Que, ao ter contato do assassino com a vítima, ela teria se desesperado e, por isso, foi silenciada a golpes de faca. Motivação que se coaduna com o trabalho científico e técnico. As imagens foram recuperadas em 100%. Não há como macular a investigação. Muito se especulou sobre uma atuação intencional de prejudicar a investigação. Isso não aconteceu. Se houve uma ação ilegal do ponto de vista administrativo, isso foi analisado, mas não houve fraude do ponto de vista criminal. Reafirmo: o trabalho foi sério, chegando a uma prova de DNA que proporcionou o interrogatório e uma confissão", explicou Freire.

"O trabalho de refino da amostra (de DNA) permitiu a inclusão no banco de perfis genéticos, com as comparações. Tivemos um incremento recente de profissionais especializados, além de equipamentos. O perfil do acusado foi inserido no banco em 2019, após o trabalho de mapeamento de pessoas presas. Houve um primeiro indicativo (genético) em 2021. Depois disso, foi feita uma nova coleta dos materiais dele, na semana passada, para ter a certeza do "match", do confronto positivo dos dados", explicou Humberto.

O secretário informou, ainda, que o acusado já estava preso por um crime prévio. "Atendemos os familiares da vítima e apresentamos as informações disponíveis. O acusado já se encontra preso por conta de um crime de estupro de vulnerável", completou o secretário. Foi detalhado, ainda, que o acusado tem histórico de crimes sexuais. Ele foi preso por isso em 2017. Mesmo com esse histórico, foi ressaltado, durante a coletiva, que não há indício que ele tentou crime sexual contra a vítima.

Sobre a quantidade de facadas, o secretário explicou a mudança (de 42 para 10). "Temos um laudo que indica 10 perfurações a faca. Antes, se falava do número de fotografias. O acusado alegou que fez isso (número de facadas) porque só ia parar até silenciar a vítima", disse.
 

Blog Magno Martins e Folha de Pernambuco

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