Restrições de natureza ambiental contra exportações de matérias-primas e produtos agrícolas que estão sendo estudadas por diversos países consumidores podem ter um impacto de bilhões de dólares para a economia brasileira.
A mais recente iniciativa nesse sentido foi proposta, na última quarta-feira, pela Comissão Europeia ao Parlamento Europeu, e pretende barrar a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas. A lista inclui a carne e a soja, duas commodities muito exportadas pelo Brasil.
O agronegócio brasileiro é alvo de barreiras sanitárias. Em outubro, a China suspendeu as compras de carne brasileira depois que foram registrados indícios de contaminação de gado pelo “mal da vaca louca”. As suspeitas não foram confirmadas, mas, mesmo assim, as importações não foram até agora retomadas.
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), só o veto da China à carne brasileira poderá gerar perdas, caso dure até o fim de 2021, de R$ 6,8 bilhões aos exportadores nacionais. Nesta semana, produtores norte-americanos começaram a fazer pressão para que o governo dos Estados Unidos adote restrição idêntica.
A Comissão Europeia propôs regras de controle para as empresas exportadoras, que deverão provar que suas cadeias de fornecedores não têm ligação com o desflorestamento, cujos principais produtos associados são: soja, carne, óleo de palma, madeira, cacau, café e alguns produtos derivados, como couro, chocolate e móveis.
Doutor em economia pela Universidade de Paris XII, Carlos Alberto Ramos, avalia que sanções impostas sobre o agronegócio brasileiro afetam, sobretudo, economias regionais de algumas das principais áreas produtoras do setor no país. “Tão importante quanto o setor é o impacto regional. Todo o Centro-Oeste, o sul e o norte da Bahia, por exemplo, podem ser muito afetados por decisões como essas”, disse.
O economista explicou que o consumo sustentável é uma tendência que veio para ficar. Com isso, exportar para países desenvolvidos será difícil para quem não se adequar às exigências do mercado. Para Ramos, isso também é reflexo da vontade dos próprios consumidores. “Na Europa, a opinião pública é muito a favor da preservação do meio ambiente. Os consumidores são exigentes, querem produtos que não contribuam com o desmatamento. Também por uma questão de saúde, produtos sem agrotóxicos são mais aceitos.”
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