Esta semana duas grandes notícias animaram a região e a reacenderam boas expectativas. A primeira, o anúncio pelo Ministério do Desenvolvimento Regional em conjunto com a Codevasf, da licitação da elaboração do projeto do Canal do Sertão Baiano, um espetacular empreendimento que poderá ser a redenção da regiãonorte da Bahia, tradicionalmente carente por políticas públicas de projetos estruturantes.
A ação, quando concluída e, segundo o atual anteprojeto, beneficiará mais de 40 municípios, principalmente os das bacias dos rios Itapicuru e Jacuípe que, além de assegurar abastecimento humano, seu principal propósito, reanima uma economia fragilizada, dependente de infraestrutura hídrica, cujas atividades da agropecuária que prevalecem na região, poderão serpositivamente impactadas.
Como sabido, as microrregiões de Senhor do Bonfim e Jacobina já foram tradicionais produtoras de leite, em razão dos significativos rebanhos bovinos que existiam nos anos 1970, 80 e 90, e que dinamizavam as economias regionais, notadamente o comércio, a prestação de serviços, o segmento imobiliário, entre outros. Mais à frente, na microrregião de Riachão do Jacuípe, a bovinocultura também sempre figurou como importante atividade, mas a falta d´água “desidratou” essa cadeia produtiva, empobrecendo ainda mais os municípios.
O canal do sertão baiano com certeza ajudará na recomposição dessa atividade, que voltará a gerar emprego, renda, dinamismo e sobretudo esperança a esses mais de 40 municípios. Além da bovinocultura outras atividades poderão ser estimuladas, como a agricultura de média escala, a recomposição dos projetos de irrigação de Ponto Novo e Várzea da Roça, a implantação de agroindústrias nas áreas lindeiras, o fortalecimento da mineração, de excepcional potencial produtivo, e até mesmo o turismo, dado que há muito o que ser explorado.
A segunda grande notícia que anima a economia regional foi a iniciativa de se voltar a discutir a retomada da ferrovia Juazeiro-Salvador.
Em evento promovido pela Prefeitura de Juazeiro, que teve a participação de representantes dos setores da fruticultura, mineração, energias renováveis, logística, poder público e demais instituições, a discussão da recuperação da ferrovia chega em boa hora, dado a ocorrência desses outros grandes investimentos que se anunciam, um alimentando o outro.
A ferrovia ajudará sobremaneira no barateamento do escoamento da produção, sobretudo a mineral, cuja potencialidade é absurda, como as de cobre de Jaguarari-Curaçá-Uauá, do cromo de Andorinha, do calcário e ferro de Campo Formoso e de Sento Sé. Jazidas imensas que podem,
desde quando preservadas as limitações ambientais, ofertar muito dinamismo econômico e melhoria de qualidade de vida para muitos baianos do norte.
A produção de energia renovável, como solar e eólica, cujos investimentos passam da casa dos R$ 2 bilhões, também serão mais bem viabilizadas pelo modal ferroviário, assim como a fruticultura produzida no entorno de Juazeiro e que precisa ser escoada para os grandes centros de consumo interno e para os portos com destino ao mercado externo. Grandes empreendimentos costumam atrair outros. Grandes projetos estruturantes tendem a, comprovadamente, assegurar a realização de investimentos adicionais seja da iniciativa privada, seja da pública.
A realização da infraestrutura básica é dever do Estado, mas em razão das grandes carências de recursos orçamentários, a participação da iniciativa privada não pode ser descartada.
A sociedade civil também não pode ser furtar de participar dessas discussões cujas realizações assegurarão com certeza melhores condições de vida para todos, principalmente das futuras gerações.
Cabe agora a todos que formam a opinião pública, a vigilância permanente para que esses dois projetos entrem e saiam do papel, tornem-se realidade, concretizem-se e ajudem a transformação da realidade de uma região que padece com muitas dificuldades, mas que tem enormes potencialidades.
O desenvolvimento regional é objeto de muitas pesquisas e dedicação de quem busca identificar soluções e conceber mecanismos e projetos que sirvam de instrumentos para, principalmente, redução de assimetrias, equalização, harmonização e promoção do bem estar social. Mas é preciso que os demais agentes se sensibilizem e participem do processo, do contrário padeceremos sempre com a angústia do não fazer e a esperança de que façam por nós.
Márcio Araújo- Economista. Mestre em Economia Doutor em Administração
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