Anualmente, o dia 4 de outubro é dedicado a São Francisco de Assis e, também, se comemora o Dia do Rio São Francisco, que foi batizado com este nome porque, no ano de 1501, o navegador Américo Vespúcio 'chegou" a sua foz nesta data. Neste 4 de outubro de 2021, o Rio São Francisco, Opará, em tupi, rio-mar comemora 520 anos.
Com o objetivo de elaborar um documentário, o ex vereador Ronaldo Cancão Souza, atual suplente de vereador, em Petrolina, transformou uma vontade (presente em muitos brasileiros) em realidade. Ele percorreu mais de 4 mil quilometros e agora "conhece mais profundamente quem tanto ama e assim pode ser testemunha ocular das agressões ambientais e outros crimes cometidos contra o Rio São Francisco".
Ronaldo verificou de perto a situação dramática do São Francisco em diferentes pontos e percorreu de carro e barco suas águas, conferindo o quanto o leito está assoreado, tomado por bancos e ilhas de areia, em uma situação que assombra e faz refletir.
"Vi também as belezas e muitas riquezas do Rio São Francisco. Chorei de emoção. Refleti sobre os crimes ambientais. A nascente é algo divino na Serra da Canastra. Na viagem fiz amigos, exemplo o prefeito de São Roque, Minas Gerais. Conversei com pescadores, lideranças comunitárias. É preciso, todos nós brasileiros cuidar melhor deste patrimônio. O Rio São Francisco gera vida em todo o seu percurso. Mas existe uma injustiça com este rio que a todos proporciona vida mesmo quando agredido".
Ronaldo Cancão vai fazer uma solicitação para que o presidente da República, Jair Bolsonaro, possa garantir "a presença e prestação de serviço com a segurança do Exército Brasileiro e assim as nascentes possam ser melhor salvaguardada".
Emocionado Ronaldo gravou um vídeo: "Senhor presidente Jair Bolsonaro cuide do Rio São Francisco, ele agoniza. São esgotos jogados no Velho Chico, desmantamento, todo tipo de agressão. É preciso urgente uma ação para proteger e preservar o Rio São Francisco".
Nos dias atuais, o Velho Chico percorre cinco estados brasileiros, sendo fronteira natural entre Minas Gerais/Bahia, Bahia/Pernambuco e Alagoas/Sergipe. Na segunda década do Século XXI, ele é responsável pelo fornecimento de energia elétrica para grande parte do Nordeste, concentra um dos maiores plantios de arroz do país em suas margens, irriga as maiores culturas de melão e cebola do Norte/Nordeste, inclusive os projetos de irrigação do Vale do São Francisco, também incentiva o turismo e é cenário constante de filmes e novelas.
RIO DAS VELHAS: Procurado pela reportagem da REDEGN, Ronaldo Cancão destacou que em breve será lançado um relatório sobre essa viagem. O ex-vereador também chamou a atenção, para o que ele disse ser agora uma "testemunha ocular da história", a situação de um dos principais afluentes do Rio São Francisco, o Rio das Velhas e os demais afluentes que atacados pela ação do homem estão morrendo e isto bastante preocupação.
Estudo revela que leito do Rio São Francisco recebe mais de 23 milhões de toneladas de sedimentos por ano. Na prática, é como se a cada ano um milhão de carretas de detritos fossem lançadas na água.
São Francisco, Pedras de Maria da Cruz, Januária, Bonito de Minas, Manga, Matias Cardoso e Jaíba, são mais de dois mil e novecentos quilômetros de leito em uma bacia hidrográfica que irriga uma área quase igual à da França, abastecendo perto de 13 milhões de pessoas.
Os números superlativos do Rio São Francisco combinam com seu passado de fartura. Época em que por suas águas circulavam grandes vapores, apitando enquanto rasgavam a correnteza levando mercadorias e pessoas. Com o tempo, o leito foi minguando, sendo sugado de um lado, aterrado de outro, poluído por todos. Tanto que a história do chamado Rio da Integração Nacional desaguou a um ponto em que, hoje, até a passagem de pequenas canoas é difícil em certos trechos.
Agredido século após século, em seu lento curso de agonia o Velho Chico chegou aos 520 anos enfrentando uma espécie de sentença de morte, executada enquanto seu curso é literalmente soterrado com reflexo de ações humanas.
"A emoção, o sentimento maior que tiver nos últimos anos. Que Deus e o Santo São Francisco possam garantir vida ao Rio São Francisco. Que Deus abençoe todo nós, milhares de nordestinos precisam das águas do Rio São Francisco. Que estas águas possam prosperar para futuras gerações", conclui Ronaldo Cancão.
BARRAGENS: O hidrólogo José do Patrocinio Tomaz Albuquerque, professor aposentado da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba afirma que o soterramento do Velho Chico é um processo decorrente da “ocupação do espaço pelo homem com os chamados ciclos econômicos”, como o gado, a eletrificação e a irrigação. E acrescenta que as represas afetam de outra forma a questão do assoreamento.
O especialista destaca que o transporte natural dos sedimentos para o mar foi drasticamente reduzido, em parte devido à construção de barragens.
“Nos períodos de enchentes, os sedimentos não conseguem atingir, em sua totalidade, o oceano. Isso ocorre por duas razões: uma natural, relacionada com a intensidade das chuvas máximas, que ocorrem cada vez menos; e a outra, artificial, resultante da ação humana, com a construção dos reservatórios de superfície, que regularizam, mas reduzem a vazão média natural do rio.”
Isso resulta em menor capacidade de transporte de sedimentos e sua consequente deposição no leito, explica. Como soluções, além da recomposição da cobertura vegetal da bacia e da revitalização das nascentes e veredas, ele sugere “um controle severo da exploração das águas subterrâneas”.
OPARÁ: São quase 200 afluentes, o Rio São Francisco é o maior rio inteiramente brasileiro. Ele percorre 2.863 km passando por seis estados: Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal. Dezoito milhões de brasileiros dependem de suas águas.
O escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Aurélio de Lacerda destaca que o Velho Chico não é só o rio da integração nacional, mas enxerga poesia e vê o recurso como uma personagem brasileira.
“O Rio São Francisco é uma personagem, e, como personagem tratada na literatura, na literatura de cordel, nos causos, nos contos, nos enredos, nas cantigas, nas cantorias, essa personagem conta seus dramas, conta também as suas festas, o seu progresso.” Imaginem as histórias e lendas contadas pelos 70 mil índios, de 32 povos, que habitam a Bacia do Velho Chico? E pelos quilombolas, ribeirinhos, barranqueiros e pescadores.
Além de toda essa diversidade cultural, o Rio São Francisco é um grande impulsionador da economia dos municípios situados ao longo de seu percurso, segundo a pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Maria Auxiliadora Lima. O transporte de cargas, a produção de energia elétrica, a piscicultura e o turismo estão entre os potenciais do rio.
Mas, para a especialista, a atividade agrícola é o carro-chefe do Velho Chico, com destaque para a agricultura irrigada: são mais de 150 mil hectares irrigados pelo rio.
“Essa agricultura irrigada representa um elemento fundamental para a economia, o principal gerador de renda e desenvolvimento para as comunidades, para a região, para os municípios no entorno dessas áreas irrigadas e tem trazido benefícios sociais importantes.”
No mês de junho desta ano a Rádio Nacional de Brasilia destacou reportagem: Velho Chico-rio percorre a cultura, a história e a economia do país chamando atenção para os problemas enfrentados pelo rio e sua bacia, e a campanha Eu viro carranca para defender o Velho Chico que está no 7º ano.
BOATO RIBEIRINHO:
Corre um boato na beira do rio
Que o velho Chico pode morrer
Virar riacho e correr Pro nada
Viajando por temporada
Quando a chuva do meu Deus
Dará chegar, dará chegar
Já dizia Frei Luiz de Xiquexique
Quão chique é ter
Um rio pra nadar a correr
Quão chique é ter
Um rio pra pescar e pra beber
Não deixe morrer
Não deixe o rio morrer
Se não que será de mim
Que só tenho esse rio pra viver
Que será
Que será de mim
Que será de José serafim?
Qual será o destino do menino
Que nasceu e cresceu aprendendo a pescar surubim?
Não deixe morrer
Não deixe o rio morrer
Se não morre o ribeirinho
De fome, de sede, de sei lá o quê! (Música: Wilson Duarte, Nilton Freitas e Wilson Freitas)
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