A frase acima não é de minha autoria, mas vem a calhar nesses estranhos tempos que estamos vivendo: é de Gogol, o autor de As almas mortas, nascido em 1809.
Romancista, autor de teatro, sua peça O Inspetor, por mais de um século ocupou os palcos do mundo inteiro, inclusive em S. Paulo e não lembro se também não foi montada entre nós, pelo Tap. Um homem infeliz, estranha figura segundo biógrafos, um caricaturista da espécie humana.
Triste por não ser amado, mais triste ainda por não amar a si próprio, um pássaro solitário,conforme escreveu André Maurois.
Começara a carreira literária escrevendo contos que recuperam a infância na Ucrânia, e que entusiasmam leitores e críticos: “eis a verdadeira alegria, sincera, espontânea”,escreve seu contemporâneo Puchkine.
No entanto, pouco a pouco o contista abandona a temática dos primeiros escritos e se torna um observador implacável da miséria humana, que ele encontra em si próprio. na crença da ação do Diabo sobre o corações, nas frustrações dos personagens, na sua infelicidade. Como no conto O Mantô, onde um pobre empregado de uma repartição pública passa anos economizando para comprar um mantô, que lhe é roubado na primeira noite de uso.
Escreve contos fantásticos nos quais mostra a ação da presença do mal, do Diabo nas pequenas ou nas grandes infelicidades da vida, contra as quais um só meio de conciliação existe: a arte. E escreve: “Toda verdadeira obra de arte contem alguma coisa de tranquilizador, de reconfortante... Enquanto lemos, a alma não tem mais necessidade de nada, não tem desejo de nada, nenhuma indignação se levanta contra seu próximo e seu irmão: ela não é senão amor e perdão.
A arte é a introdução da ordem e da harmonia na alma e não da perturbação e da desordem.” Ordem, harmonia, que qualquer bom leitor pode encontrar na literatura, nesses nossos difíceis e estranhos tempos.
Luzilá Gonçalves Ferreira-Membro da Academia de Letras de Pernambuco
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