A possibilidade de sacar dinheiro por meio do Pix, a partir do próximo dia 29, como publicado pelo BC (Banco Central) semana passada, pode ser mais um motivo de atenção para a polícia, segundo delegados ouvidos pela reportagem.
Ronaldo Sayeg, divisionário da Divisão Anti-sequestro do Dope (Departamento de Operações Policiais Estratégicas), afirmou que a experiência em investigações indica a necessidade de que órgãos reguladores lancem produtos no mercado pensando na facilidade para o usuário, mas aliado à segurança.
"Quando veio o Pix, ele facilitou muito o usuário, mas com zero de segurança. Por isso, o BC baixou novas normas", afirmou o policial. Por causa da onda de sequestros-relâmpagos, em que as vítimas são obrigadas a realizar transferências com Pix, o Banco Central anunciou uma série de medidas na tarde do último dia 27. Entre elas está a determinação do limite de R$ 1.000 para operações com Pix, cartões de débito e TED (Transferência Eletrônica Disponível) entre pessoas físicas -incluindo microempreendedor individual- entre 20h e 6h, inclusive para transações entre contas do mesmo banco.
O BC também anunciou que, a partir do próximo dia 29, será possível realizar saques em comércios, também por meio do Pix. O valor máximo será de até R$ 500. E é isso que passa a procupar policiais.
"Como será [a partir do dia 29] não dá para se ter uma ideia. Como não imaginava que teria uma explosão de sequestros-relâmpagos, por causa do Pix, não sabemos como será o temperamento dos criminosos [para os saques], mas eles sempre buscam alguma brecha", afirmou o delegado.
Para ilustrar, ele afirmou que os sequestros-relâmpago começaram com saques em caixas eletrônicos de bancos. Depois, as instituições delimitaram limite de retiradas no período noturno, fazendo os criminosos migrarem para vítimas com aplicativos dos bancos nos celulares. Após isso, foi criado um prazo de compensação, para tentar afastar os bandidos deste tipo de crime.
"Aí vieram maquininhas, que tinham uma brecha usada pelos criminosos para usar cartão pré-pago, sem precisar de uma conta corrente. Isso foi resolvido e os criminosos migraram para o Pix, que faz transferência instantânea", acrescentou o policial.
De acordo com dados de inteligência do governo paulista, desde o fim do ano passado foram 202 sequestros-relâmpagos e roubos com retenção da vítima no estado de São Paulo em que as vítimas relataram o uso do Pix durante o roubo.
Nos primeiros meses desde a implantação do sistema de pagamentos e transferências feitos pelo celular, (entre dezembro de 2020 e março de 2021), foram registrados 51 boletins em todo o estado. De abril a julho, os registros pularam para 151 casos.
Para a delegada Raquel Kobashi Gallinati, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), os saques com Pix podem ajudar a eventualmente acobertar a identidade de criminosos.
"Isso abre a possibilidade de camuflar a identidade do criminoso. Por exemplo, acontece um sequestro relâmpago. Ao invés de o ladrão fazer a transferência pelo Pix usando o CPF dele, ou de um laranja, ele vai usar os dados do estabelecimento que autorizou o saque", explicou.
Segundo as regras publicadas pelo BC, o serviço de saque e troco em dinheiro com o Pix poderá ser feito em comércios ou caixas eletrônicos.
Ambos os serviços possibilitarão a retirada de recursos em espécie, mas o Pix Saque é uma transação exclusivamente para saque e o Pix Troco está associado a uma compra ou prestação de serviço. No último caso, ao adquirir um produto, por exemplo, o cliente passa um valor superior para receber o restante em dinheiro.
Ainda de acordo com o BC, o limite para saque e troco no Pix será de R$ 500 durante o dia e de R$ 100 entre 20h e 6h.
"Mesmo com valores baixos, os criminosos podem fazer uma série de vítimas e sacar dinheiro desta forma", acrescentou a delegada, que também é diretora nacional da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil.
Como se prevenir: O delegado Ronaldo Sayeg deu algumas dicas para dificultar a vida de criminosos. Uma delas é evitar ficar dentro do carro, quando estacionado, usando o celular. Isso atrai a atenção de criminosos, oferecendo a situação ideal para um sequestro-relâmpago.
"O criminoso tem a vítima, o celular eventualmente com aplicativo de banco e o carro, que vira cativeiro. O recomendável é não usar o celular e ficar atendo à rua", explicou o policial.
Outra forma de dificultar a ação de criminosos é programar limites baixos, para transferências a terceiros, além de evitar usar aplicativo de bancos em celulares com os quais circula pela rua.
"Se a pessoa tiver condições, o ideal é deixar em casa o celular com o aplicativo do banco e sair com outro, sem. Nem sempre dá para baixar o aplicativo e usar na hora, sem a anuência da agência. Isso já frustra a ação dos criminosos", disse Sayeg.
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