*João Fortunato
Os Jogos Olímpicos de Tóquio ofereceram ao Brasil não apenas medalhas, que confirmaram a melhor participação do País na história do Jogos, mas, sobretudo, lições de vida que podem (e devem) ser aprendidas e praticadas por todos, sobretudo nesse período sensível (por causa da pandemia) e complexo (pelas incertezas políticas e econômicas) que o País atravessa. As lições que se devem aprender, cabe antecipar, não estão somente por trás das histórias dos atletas medalhados.
"Os sem medalhas" têm muito a ensinar, pois nesses tempos pandêmicos vários atletas brasileiros, principalmente dos esportes menos conhecidos e praticados, foram obrigados a "se virar nos 30" para entrar na arena, materializar o seu sonho e representar dignamente o País. São heróis!
Em situações normais, convém lembrar, estes atletas convivem com apoio financeiro pequeno, condições de alimentação nem sempre adequadas e as de treinamento, não raro, precárias. Com a pandemia, o que já não era bom ficou ruim. Porém, esses atletas em momento algum pensaram em desistir. Pelo contrário, superaram todos os obstáculos aos quais estão acostumados, infelizmente, e foram à luta. Alguns literalmente, como é o caso dos atletas do boxe, judô, taekwondo e esgrima. Parte desses atletas foi coroada com medalhas, mas isso, acreditem, não reduz em nada a relevância dos demais. A maioria engoliu sapos para chegar lá!
Inúmeros desses atletas deram aos brasileiros, torcedores ou não, lições imperdíveis de humildade, resiliência, superação, solidariedade e alegria, mesmo quando a vitória ficou nas mãos do concorrente. Esses ensinamentos podem ser aplicados em todos os caminhos da vida profissional e pessoal.
Alguém já disse, com sabedoria, que o tropeço é professor, que o problema não é cair ou perder, que a solução ou vitória está em saber se levantar, equilibrar o corpo, erguer a cabeça, respirar fundo e seguir adiante. A maioria dos atletas brasileiros participa com chances remotas de medalhas. Eles sabem, porém, jamais se entregam, pois têm consciência de que a simples participação produz uma experiência inigualável, que lhes será útil em outras etapas do esporte e da vida. E isso vale para todos, qualquer que seja a atividade que exerçam.
Os analistas esportivos, bem como os dirigentes de federações, os populares cartolas, medem o êxito da participação do País nos jogos usando diferentes tipos de réguas, como deve ser. Contudo, para o público em geral, o termômetro oficial é o número de medalhas. É uma pena, porque assim se enxerga apenas parte e não o todo da participação do País. A imprensa tem responsabilidade nessa visão pública ligeiramente distorcida, pois também mede o êxito ou fracasso pelos números de ouro, prata e bronze faturados. Esta pressão por resultados, como expressa com clareza na desistência de Simone Biles, a melhor ginasta artística do mundo, afeta a saúde mental de todos. Atletas e, em igual forma, o trabalhador.
O skate, esporte que já foi execrado e proibido em alguns cantos, participou pela primeira vez dos Jogos Olímpicos e presenteou a todos com exibições que ficarão eternizadas. Não pelas cenas acrobáticas de meninos e meninas, que caiam, rolavam, se levantavam e voltavam ao centro da competição. Sem medo e sempre com alegria. O que chamou a atenção de muitos está além das habilidades acrobáticas. Foi o respeito, admiração e solidariedade entre todos os participantes, que vibravam, aplaudiam e estimulavam o adversário tanto no sucesso como no oposto em qualquer manobra. A concorrência é algo natural nas Olimpíadas, mas no skate foi posta de lado para dar espaço a alegria, celebrar a amizade e a diversão, por fazerem algo que amam. Bom seria se todos agissem como aqueles jovens, meninos e meninas, no caminhar da vida, pessoal e profissional. Por certo, a caminhada seria mais leve, alegre e tranquila.
*João Fortunato é jornalista, mestre em Comunicação e Cultura Midiática e professor universitário
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