O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, publicado nesta segunda-feira (09), o mais importante divulgado desde 2014, mostra de forma inequívoca que o aquecimento global está se desenvolvendo mais rápido do que o esperado e que praticamente tudo é consequência das atividades humanas.
Espera-se que por volta de 2030 a temperatura média do planeta seja 1,5 ºC ou 1,6 ºC mais quente que a dos níveis da era pré-industrial nos cinco cenários relativos às emissões de gases de efeito estufa - que evoluem do mais otimista ao mais pessimista -, considerados no relatório. Isto ocorreria uma década antes do que o IPCC previu há apenas três anos.
Em meados do século, o limite de +1,5 ºC terá sido superado em todos os cenários: os mais otimistas indicam que será superado em 0,10 ºC e os mais pessimistas, em 1,0 ºC. Mesmo assim, ainda há um resquício de esperança: na suposição de que se faça absolutamente tudo para combater as mudanças climáticas, a temperatura global, após ter subido 1,5 ºC, será 1,4 ºC superior à da era pré-industrial até 2100.
Desde 1960, aproximadamente, as florestas, os solos e os oceanos absorveram 56% de todo o CO2 que a humanidade emitiu na atmosfera, apesar destas emissões terem aumentado 50%. Sem a ajuda da natureza, a Terra seria um lugar muito mais quente e inóspito do que é agora.
Mas estes aliados - conhecidos como sumidouros de carbono - estão dando indícios de saturação e espera-se que o percentual de CO2 que conseguem absorver será menor com o passar do tempo.
- Sim, as mudanças climáticas são culpadas -
O relatório destaca o progresso surpreendente de uma nova área, a "ciência da atribuição", para quantificar até que ponto o aquecimento global provocado pelo ser humano aumenta a intensidade a probabilidade de que ocorra um fenômeno meteorológico extremo, como uma onda de calor, um furacão ou um incêndio florestal.
Em algumas semanas, por exemplo, os cientistas estabeleceram que a onda de calor que castigou o Canadá em julho, com temperaturas recorde, teria sido "quase impossível" sem a influência das mudanças climáticas.
NÍVEL DO MAR: O nível global dos oceanos aumentou cerca de 20 cm desde 1900, e a taxa de elevação praticamente triplicou na última década. As calotas de gelo que derretem na Antártida e na Groenlândia são agora o principal fator, à frente do degelo dos glaciares.
Se as temperaturas globais aumentarem 2 ºC, o nível dos oceanos aumentará cerca de meio metro no século XXI. E continuará aumentando até quase dois metros até 2300, o dobro do que o IPCC previa em 2019.
Devido à incerteza somada às calotas de gelo, os cientistas não descartam uma elevação das águas de até dois metros até 2100.
LIÇÕES ALARMANTES: Avanços importantes em paleoclimatologia (ciência que estuda as características climáticas da Terra ao longo da sua história), fizeram soar alguns alarmes.
Por exemplo, a última vez que a atmosfera do planeta estava tão quente como agora foi há cerca de 125.000 anos e o nível do mar era de 5 a 10 metros maior, o que atualmente submergiria a maioria das cidades costeiras.
Há três minhões de anos, quando as concentrações de CO2 na atmosfera coincidiam com os níveis atuais e as temperaturas eram entre 2,5 ºC e 4 ºC mais altas, o nível do mar estava até 25 metros acima do que está hoje.
O relatório inclui mais dados do que nunca sobre o metano (CH4), o segundo gás de efeito estufa mais importante, depois do CO2, e adverte que se não se conseguir diminuir as emissões, não será possível cumprir os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris.
As emissões produzidas pelo homem se dividem entre os escapes na produção de gás natural, minas de carvão e lixões, por um lado; e o gado e o esterco por outro.
O CH4 permanece menos tempo na atmosfera do que o CO2, mas tem um poder de aquecimento muito maior. Os níveis atuais de CH4 são os mais altos registrados nos últimos 800.000 anos.
DIFERENÇAS REGIONAIS: Embora todas as partes do planeta - dos oceanos às terras, passando pelo ar que respiramos - estejam mais quentes, algumas áreas se aquecem mais rapidamente do que outras. No Ártico, por exemplo, prevê-se que o aumento da temperatura média dos dias mais frios seja três vezes superior à média global do planeta.
O nível do mar também aumenta em todos as partes, mas é provável que em várias costas suba 20% acima da média. O IPCC não descarta "pontos de inflexão" no sistema climático, ou seja, modificações abruptas de "pouca probabilidade, mas impacto importante", que são irreversíveis.
Entre estes estão a desintegração das calotas polares com água suficiente para elevar o nível do mar em dezenas de metros, o degelo do permafrost que guarda imensos volumes de carbono ou a transformação da floresta amazônica em savana.
A Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês) - um sistema de correntes oceânicas que regula o trânsito global de temperatura dos trópicos para o hemisfério norte - desacelera, uma tendência que muito provavelmente continuará no restante do século.
Os cientistas mostram apenas uma "confiança mediana" de que este sistema não vá colapsar por completo, como já ocorreu no passado.
Se acontecer, os invernos europeus serão muito mais rigorosos e haveria perturbações nas monções na África e na Ásia e uma elevação do nível do mar no Atlântico Norte.
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