Não tenho a pretensão de ser recalcitrante no tema da limpeza, como se, de repente, um profundo complexo tenha me impulsionado em direção a um estado de chatice, reclamando de tudo e de todos que têm como prazer básico emporcalhar as cidades.
Alguns o fazem pelo prazer mórbido de cobrar das Prefeituras uma melhor limpeza das ruas, às vezes motivados pelo desejo de atingir pessoalmente o Prefeito, quando são os primeiros a jogarem lixo em vias públicas. Mas, sem esgotar o assunto e sem pretender cansar o leitor, espero estar contribuindo na promoção de algum novo despertar positivo, inspirando alguém a mudar o mau costume que possui. Ou seja, se o Gestor da cidade não faz a limpeza correta, e o cidadão suja com as próprias mãos, ambos estão totalmente errados.
A propósito, num prazeroso giro internacional alguns anos atrás, em que se fazia um city-tour num ônibus só de brasileiros pela bela cidade de Zurique, na Suíça, testemunhei um mau exemplo dos nossos que não deve ser praticado em outros países, principalmente da Europa. Alguns bebiam cerveja em lata durante o circuito e assim que o ônibus partiu após a parada numa praça, alguém aproveitou que a porta se fechava e arremessou para fora a lata vazia. O motorista viu o gesto pelo retrovisor lateral, parou o ônibus, desceu e pegou a lata, e pregou uma lição de moral no grupo, dizendo que a companhia poderia ser penalizada por tal comportamento do passageiro. Com que cara ficou o passageiro brasiliano, não precisa dizer; se aprendeu a lição, não sei, porque nunca mais o vi.
Mas o tema da sujeira é muito amplo e apresenta derivações não precisamente no sentido único de expurgar o material usado, das sobras de alimento, das coisas excedentes e que devem ser jogadas fora. Estou sendo levado a uma momentânea reflexão direcionada a outro tipo de lixo que também emporcalha a natureza à nossa volta, atinge vidas, destrói pessoas, derruba governos, espalha infelicidade: o lixo mental.
Quantas vezes ouvimos de pessoas indignadas com o palavreado inadequado de alguém, a conhecida expressão de uso popular: “Ô mente suja!”. Isso reflete a certeza de que aquela mente produz sujeira que conspira contra a decência e os bons costumes. Nas eleições que integram o nosso Calendário Eleitoral de dois em dois anos, em todo o Brasil, se fossemos convocar garis para juntar as frases impróprias, as palavras vociferadas com maldade e baixaria durante as campanhas, provavelmente não haveria aterro sanitário que não transbordasse os seus limites na acomodação figurativa desses resíduos. Em outras palavras, o volume de sujeira seria algo sem precedentes, que contaminaria o solo e as mentes de centenas de milhares de pessoas. Isso para não falar da responsabilidade de certos governantes no exercício do Poder, que deveriam zelar pela pureza da linguagem falada, mas, quando falam, repugnam, deseducam e ferem todos os bons princípios!
Não somente ouvimos essas impropriedades pelas ruas, mas, nos chegam aos ouvidos no próprio lar através de certos programas de rádio e de televisão – salvo poucas exceções -, vias de comunicação que deveriam melhorar o nível da linguagem corrente da população. E aqui é exatamente a parte grave, porque poderiam utilizar os meios de comunicação para a educação e não para piorar o cenário de formação da nossa gente.
Esse tema foi objeto de abordagem 10 anos atrás, e publicado em 08 de junho/ 2011, com o título de “O LIXO MENTAL”. A sua volta revista e atualizada decorre da triste percepção de que nada mudou nessa nossa cultura após uma década de existência. A mensagem continua oportuna e o alerta deve ser reiterado, sempre.
Não me inspira qualquer sentimento de puritanismo, mas um instantâneo desejo de ver as pessoas fazendo uma assepsia mental, expurgando do pensamento os impropérios que trazem sujeira ao meio-ambiente cultural e pedagógico.
Mas a frase emblemática que mais enriquece e ilustra esse meu sentimento de indignação, foi pronunciada por Cristo, quando afirmou: “O que contamina não é o que ENTRA pela boca do homem, mas o que SAI da boca do homem (Mat. 15:11). Texto bíblico para a reflexão dos leitores.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador - BA.
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