Neurocientista Fabiano de Abreu revela como funciona a mente de um criminoso como Lázaro. E como ela deve ser estudada para compreender a mente dessas pessoas
Nos últimos dias, o noticiário policial brasileiro dedicou grande parte de seu conteúdo à caçada pelo "Serial Killer do DF", Lázaro Barbosa. Se por um lado diversos memes se espalharam enquanto o criminoso estava foragido, por outro uma questão muito mais séria passou a ser amplamente comentada na mídia ao se tratar deste caso: Afinal, Lázaro era um psicopata?
Segundo o PhD, neurocientista, neuropsicólogo e biólogo Fabiano de Abreu, "diagnosticar como psicopata é prematuro demais. Há possibilidades devido ao comportamento, mas há pormenores que devem ser analisados. É uma responsabilidade muito grande um profissional da saúde fornecer confirmações sem ter entrevistado o paciente".
Uma das características destas pessoas, revela Abreu, é que "eles não apresentam emoção ou compaixão, nem culpa pelo que fazem. E exatamente por terem a racionalidade sem emoção que conseguem usar sua inteligência de forma mais eficiente do que muitas outras pessoas, mas não há coerência sobre as consequências. As pessoas comuns usam da emoção ao tomarem suas decisões, o que é natural, e os psicopatas não fazem isso", explica.
Cérebro diferenciado
Sim, o cérebro de um psicopata possui uma estrutura diferente em relação às pessoas comuns, observa Fabiano. "Psicopatas possuem menos conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC), que é a parte responsável por sentimentos como empatia, culpa, e a amígdala, que é relacionada ao medo e ansiedade".
"Nos casos dos psicopatas, essas duas áreas não se comunicam como deveriam, o que pode ajudar a compreender essa insensibilidade deles", acrescenta o neurocientista. Além disso, Fabiano lembra que um estudo feito pelo professor de psicologia Joseph Newman e pelo professor assistente de psiquiatria Michael Koenings vai de encontro a essa teoria e explica a diferença presente no cérebro dos psicopatas: "A tomada de decisão dessas pessoas é semelhante à de pessoas que tiveram danos em seu vmPFC, e isso reforça que a psicopatia está ligada a essa parte do cérebro e a sua comunicação com o sistema límbico. Há disfunções amigdalares verificadas em psicopatas, essa região é a porta de entrada do sistema límbico, relacionado às emoções. Estruturas como o giro temporal superior, cingulado anterior, cingulado posterior, córtex orbitofrontal, ínsula e regiões para-hipocampais são intervenientes nos sintomas afetivos, interpessoais e comportamentais da psicopatia, Há uma discussão sobre a origem da psicopatia, sabe-se que há uma condição inata, origem de falha genética que prejudica no desenvolvimento das regiões do cérebro relacionadas. Há a hipótese também de traumas que acarretem na disfunção. Em minha convicção, fatores podem ter facilitadores. O facilitador está relacionado aos traumas, criação, educação, que estão relacionados à probabilidades genéticas.", completa.
Fabiano de Abreu é membro da sociedade portuguesa e brasileira de neurociências, também da federação europeia. É diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, coordenador do Grupo de Habilidades Socioemocionais/Inteligências na escola Teia Multicultural, coordenador para formação de doutores na universidade americana EBWU e coordenador para assuntos de inteligência na faculdade ESEC.
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